O Corinthians teve muitos jogadores icônicos em sua história, mas nenhum igual ao Doutor Sócrates.

E a primeira diferenciação já começa pela profissão que lhe rendeu o apelido: médico especializado em medicina esportiva, algo novo na época em que dividia seu tempo entre os treinos no Botafogo de Ribeirão Preto e a faculdade e até hoje incomum entre os jogadores de futebol.

Foi diferente até na sua contratação, protagonizada pelo esperto Vicente Matheus: ao tomar conhecimento que o São Paulo queria lhe vender o volante Chicão para viabilizar a compra do promissor atacante do time do interior, o histórico Presidente do Timão se antecipou em algumas horas aos dirigentes do SPFC, acordou cedo, viajou mais de 300 KM para colocar duas malas cheias de dinheiro na mesa do Presidente do 'Pantera da Mogiana', dando um verdadeiro 'chapéu' no rival tricolor. A história pode não ter sido bem assim, mas faz parte do folclore do futebol paulista.

Assim Sócrates, nome inspirado no antigo filósofo grego, chegou ao Corinthians em meados de 1978. Tímido, chegou a ser criticado por parte da torcida por sua característica 'lenta' e pela frieza na comemoração dos gols, mas aos poucos o torcedor foi entendendo e se acostumando com o estilo de jogo daquele craque que dava a falsa impressão de que era fácil jogar futebol: visão de jogo, falsa lentidão, dribles curtos e efetivos e o toque de calcanhar que virou sua marca registrada (talvez não tenha sido o criador, mas com certeza foi o que melhor utilizou desse recurso).

E o Magrão, outro de seus apelidos, acostumou-se ao Corinthians na mesma proporção e acabou entrando para o bando de loucos! Sua timidez tornou-se genialidade para ajudar o clube a conquistar os títulos paulistas de 79,82 e 83 (na época os estaduais tinham importância semelhante ao do campeonato brasileiro atual), quase sempre como protagonista.

Também conquistou seu espaço na história da Seleção Brasileira, sendo o capitão do inesquecível esquadrão de 1982 comandado por Telê Santana, jogando ao lado de craques como Zico, Falcão, Cerezo e Éder. Aquele time que encantou com um futebol habilidoso e ofensivo foi derrotado pela eficiente e defensiva Itália, mas com certeza marcou uma geração.

Não bastasse tudo o que fez dentro de campo, marcou ainda fora das quatro linhas. Foi um dos mentores da Democracia Corintiana, movimento que teve mais efeito fora do que dentro do PSJ, numa aproximação até então inédita do futebol com a política. Teve ainda destaque no movimento das Diretas Já, que lutava pela volta do voto direto e popular, subindo ao palanque junto com Osmar Santos, Beth Carvalho e outros defensores da democracia.

Sócrates deixou o Corinthians em 1984 para jogar na Fiorentina da Itália, na época o eldorado dos jogadores profissionais e não mais retornou. Fez 297 jogos e 172 gols nos seis anos em que defendeu o time do povo, porém números são pouco para explicar aos mais jovens o que significou o Doutor para a história do Timão.

'Quero morrer num domingo com o Corinthians campeão!', disse ele certa vez. Foi exatamente isso o que aconteceu no dia 04 de Dezembro de 2011. Até nisso Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira foi diferente.

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