Nos últimos meses os noticiários jornalísticos não falavam de outra coisa. No Redação SporTV, no Jogo Aberto, no Globo Esporte ou no Mesa Redonda todos comentavam a possível translação do marfinense Didier Drogba do Montreal Impact para o Sport Club Corinthians Paulista.
Seria lindo ver o ídolo do título europeu do Chelsea vindo para o Corinthians. Didier é um herói. Heróis geram mídia. Programas televisivos sobre esportes querem mídia. Todos compraram a mídia de Drogba. Todos compraram Drogba. Exceto: o Corinthians.
A transação não se concretizou. Drogba quer voltar ao Chelsea, quer viver uma outra vida, cuidar de sua ONG, ser treinador, embaixador, pescador ou qualquer outra coisa neste momento, mas, não quer jogar no Brasil.
Educadamente, a diretoria corintiana agradeceu a atenção do jogador e mesmo com a dispensa tentou demonstrar respeito pela figura do marfinense. O craque retribuiu o ato de educação em suas redes sociais. Atos de educação e respeito. Algo bonito, certo? Errado!
Em um esporte cada dia mais inurbano, descortês e incivilizado como o futebol atual, a educação não é vista com bons olhos. O ato que eu vi como respeitoso, a grande massa viu como ridículo. Lamentável.
Lamentavelmente também eu sou um ser ridículo (que escreve cartas de amor e crônicas esportivas: todas ridículas) e nesse começo de fevereiro agradeceria não apenas a Drogba como agradeceria também a alguém que há seis anos passou em minha corintiana vida. MUITO OBRIGADO, CORPORACIÓN CLUB DEPORTES TOLIMA.
Sim, Tolima, muchas gracias. Desde aquele dia dois de fevereiro nós aprendemos muito. E nada ensina mais na vida do futebol do que uma bela derrota. Hoje o Corinthians é o único clube brasileiro eliminado na Pré-Libertadores (embora eu saiba que semana que vem o Botafogo e o Atlético Paranaense hão de ser eliminados na Pré-Libertadores). Eliminado para um clube quase sem expressão no futebol colombiano (um título da liga colombiana e um da copa).
Os rivais, de boca cheia, zombaram por semanas, meses e até mesmo anos. Caçoavam. Faziam montagens, piadas e anedotas famigeradas juntamente com trocadilhos infames. E recentemente ainda criaram no Twitter a hashtag #TolimaDay para ser usada todo dia dois de fevereiro.
Ah, coitados dos rivais. Pobres, miseráveis, torpes. E qual time brasileiro nunca viveu o seu Tolima Day? O clube do Morumbi sofreu um 5 a 0 em 2011 e recentemente sofreu um 6 a 1 para a equipe corintiana reserva (com show de Romero). O Santos FC nunca se recuperou do 7 a 1 tomado no Pacaembu e muito antes de isso virar moda. O maior rival sofreu com dois rebaixamentos em menos de uma década (e uma campanha vexaminosa no ano do centenário) pior e menos digno do que uma eliminação em competição internacional.
Flamengo vive um Tolima Day a cada eliminação na primeira fase da Libertadores (algo recente em suas últimas participações) e eu lembraria até do título da Copa do Brasil perdido para o Santo André no Maracanã lotado. Vasco então, nem se fala... Atlético Mineiro e Internacional de Porto Alegre viveram o Raja Casablanca Day e o Mazembe Day respectivamente.
E nós caímos para o Tolima...
Cabe aqui lembrar o que se decorreu desde aquele dia dois de fevereiro.
Logo no dia três a torcida protesta pedindo a cabeça de Tite, que é bancado pela presidência. Roberto Carlos (grande lateral em péssima fase) é afastado do elenco. Ronaldo, o Fenômeno, se aposenta dos gramados. Liédson é contratado e com toda sua humildade ajuda a criar um outro ambiente no elenco.
O time termina 2011 campeão do Campeonato Brasileiro de Futebol para viver um 2012 sem precedentes na história do Clube. Campeão invicto da Taça Libertadores (com direito a gol de Romarinho na Bombonera e Pacaembu lotado no jogo de volta) e também do Mundial de Clubes FIFA em cima do Chelsea. O técnico Tite que foi mantido depois da derrota do dia dois de fevereiro vira ídolo, rei, herói, mito, lenda. E aquele elenco passa a ser um elenco de imortais.
Não sei como os rivais conseguiram superar seus insucessos (ou seus Tolima Days), mas, o Corinthians conseguiu superar de forma magistral. Grandiosa como a história do clube. Corinthians fez como o pugilista Patterson que sete vezes foi derrubado na disputa do cinturão mundial e o Corinthians também fez como Patterson quando depois disso nocauteou o mesmo rival por duas vezes seguida, além de ganhar título olímpico e mundial por duas vezes (como o Corinthians). Aprendeu a cair e, de forma digna, a levantar.
Não venho por essa crônica tirar sarro de rival e nem lembrar de seus fracassos. Lembro apenas que a queda é inevitável em nossas vidas. Os tombos, os fracassos... Eles ocorrem e vão ocorrer todos os dias em nossas vidas. E estes mesmos que dão gosto sem igual às vitórias. Mais ainda: os tombos fazem com que nós aprendamos a ganhar. O Corinthians aprendeu a ganhar com o tombo do dia dois de fevereiro de dois mil e onze. O Corinthians aprendeu muito com o Tolima e a partir disso o Corinthians ensinou a todo o Brasil.
Obrigado, Tolima.
E, principalmente, obrigado Corinthians!