Meu Timão

Ronaldo Giovanelli é um dos maiores jogadores da história do Corinthians. Não só pela quantidade absurda de partidas que disputou pelo Todo-Poderoso (602), mas porque foi o arqueiro titular, de modo indiscutível, por praticamente 10 anos.

Ele assumiu o posto tendo que substituir ninguém menos que Carlos, um goleiro sensacional, que já garantira diversas convocações para a seleção brasileira. E não só deu conta do recado pegando um pênalti em um clássico na estréia como nunca mais precisou voltar para o banco de reservas.

Ronaldo virou referência e sinônimo de segurança debaixo das traves. E conforme passavam os campeonatos - e alguns títulos eram vencidos com sua participação decisiva - ganhava prestígio e poder dentro do clube.

Para um atleta de ponta, a manutenção do alto rendimento é algo que demanda um profissionalismo extremo. Dedicação contínua e comprometimento incondicional são as condições inegociáveis para tal. E Ronaldo, infelizmente, não entendia isso.

Já em seus últimos anos como funcionário do clube o que se via era um goleiro cada vez mais impaciente com os companheiros de elenco (todos tinham culpa nos gols sofridos, menos ele), menos afeito aos treinos intensos, muito reativo em relação aos treinadores - em especial com aqueles cuja metodologia confrontava todos os direitos que ele acreditava possuir por ter dado tanto ao Corinthians - e mais interessado em projetos paralelos, como sua frustrada incursão na indústria musical.

O episódio derradeiro que ocasionou sua saída ocorreu sob o comando de Luxemburgo. Reza a lenda que, após tomar uma dura do então comandante dentro do ônibus da delegação, depois de uma partida ruim do time, Ronaldo teria arremessado o celular na direção do técnico, que teria solicitado sua dispensa do clube junto à diretoria no mesmo dia.

Oficialmente, Ronaldo já declarou que os atritos com Luxemburgo surgiram porque, na visão dele, o treinador não contava com o goleiro em seus planos, e achava que o afastamento de um dos líderes do elenco era uma maneira de demonstrar ao grupo quem era o verdadeiro chefe do Corinthians. O que pesa contra essa visão do Ronaldo é que ele mesmo assume que ouvira essa declaração de Luxemburgo (sobre sua rescisão) enquanto fumava escondido no banheiro do clube, e que já andava chateado com Luxa porque ele havia mandado embora Aguinaldo Moreira, que fora seu preparado por mais de nove anos.

Após a saída de Ronaldo, e sob a batuta de Vanderlei, o Corinthians conquistou o bicampeonato brasileiro (98/99).

Conto essa parte da história alvinegra para que o Sr. Cássio possa refletir um pouco. Ele está completando uma década de clube, assim como fez Ronaldo. E assim como Ronaldo ele pensa que por tudo o que fez enquanto funcionário do Corinthians é merecedor de tratamento especial. Acredita que pode definir com quem deve trabalhar, acha que todos são culpados por maus resultados do time, menos ele, e que os novos treinadores é que devem se adaptar ao modo como gosta de se preparar, e não o contrário.

Cuidado, Cássio. Quem não estuda os erros cometidos no passado está condenado a repeti-los no presente.

Aprenda com o Ronaldo. Ele foi tão respeitado e idolatrado quanto você, mas a vida seguiu quando foi embora, e o Corinthians continuou enfileirando título e encontrando outros bons atletas para a posição.

Um abraço!