21K 31
Uva verde
O dia em que me tornei corinthiano
Opinião de Luis Fabiani
O ano de 2008 podia ter sido bem pior do que realmente foi. Clube afundado em dívidas, elenco em total reformulação, e acima de tudo, recém-rebaixado à segunda divisão. Era impossível estar otimista. Mas naquele ano, uma data específica me marcou muito.
O dia 30 de abril está longe de ser a data mais memorável ao corinthiano médio. Não remete a algum título ou contratação de peso.
Foi o dia em que o Corinthians entrou de maneira definitiva na minha vida. Dali em diante não teria mais volta. Nem uma família majoritariamente são-paulina poderia influir nessa paixão que tinha acabado de se instaurar no meu peito.
Na noite daquele dia, o Corinthians venceu o Goiás por 4 a 0 e se classificou para as quartas de final da Copa do Brasil de 2008.
Não foi o placar elástico que me fez realmente assumir essa paixão pelo clube. Foi como toda a história do jogo se deu.
Uma semana antes, o Corinthians havia perdido por 3 a 1 para o mesmo Goiás. E em meio à campanha da recém-lançada camisa roxa, os jogadores do clube goiano tiraram onda no final da partida comendo uvas da mesma cor. Um deboche que parecia não ter fim.
Era a gota d'água. Um time que vinha acumulando humilhações agora sendo escorraçado por um clube que está vários escalões abaixo. O momento era de mudança.
Duas semanas depois, os times se reencontraram. Morumbi lotado. Nosso salão de festa seguia à risca seu apelido. Nunca vi o Corinthians dominar um adversário da maneira que fez na noite daquele 30 de abril. O jogo não valia um título, mas foi encarado como tal pela torcida e pelos jogadores. Já no aquecimento, o goleiro Felipe pedia o apoio das arquibancadas. E era atendido. Em troca, o Corinthians sufocou o Goiás desde o início. Com 30 minutos de jogo, já goleava por 4 a 0.
Diogo Rincón (2x), Herrera e André Santos sacramentaram a goleada alvinegra, que poderia ter sido maior, se o quinto gol de Chicão não fosse mal anulado. No final do jogo? Comemos uvas verdes que remetiam à camisa do time goiano. O time de Mano Menezes deu um espetáculo à sua torcida.
Eu estava no estádio. Meu pai me levou no Morumbi, e ali já sabíamos que não teria mais volta. A garra daquele time, que meses depois subiria à primeira divisão, se instaurou nas minhas veias e ainda não saiu.
Hoje, posso garantir que, se não fosse aquele jogo, não seria corinthiano como sou atualmente. E como sempre digo, só sou jornalista há um ano pois sou corinthiano há 19.
Aquele 30 de abril mudou minha vida. Por causa dele, estou aqui hoje para compartilhar essa história com vocês.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.