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Lamentável

O jeito de torcer pelo futebol já não é mais o mesmo

Daniel Augusto Jr. / Agência Corinthians

A torcida não gritou contra o Internacional ou o Fernandão. Gritou contra o futebol

Opinião de Mayara Munhoz

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Eu tenho 26 anos, faço 27 daqui menos de um mês. Sei que para muitos isso quer dizer que sou nova demais para opinar sobre um passado, mas, acreditem, não sou. Quando meu pai me levou a primeira vez em um estádio de futebol, eu tinha meus quatro, cinco anos de idade. Não foi no Pacaembu, não foi no Maracanã. Foi no modesto Jayme Cintra, em Jundiaí, cidade onde eu nasci e cresci.

Nessa época, ninguém nem imaginava que o Paulista ganharia uma Copa do Brasil, disputaria uma Libertadores da América, enfrentaria o River Plate. Mas uma coisa me chamou a atenção: a torcida. A paixão daqueles torcedores que gritavam, choravam, acreditavam em um time de futebol - um time pequeno de futebol. Eu era pequena demais para entender, mas foi isso que me fez e, principalmente, me faz amar esse esporte até hoje.

Por isso, mesmo com só 27 anos de idade, posso dizer que sinto falta do futebol de antes. Sinto falta de quando a torcida era mais apaixonada do que ignorante. Hoje, a rivalidade e a violência parecem estar dominando as arquibancadas dos estádios de futebol.

O último fato lamentável aconteceu na noite desta segunda-feira na Arena Corinthians. Torcedores simplesmente iniciaram um grito absurdo em direção a torcida do Internacional.

"Não é mole, não. Vocês vão cair igual ao Fernandão", gritava parte dos torcedores lá no estádio. A frase, para quem não sabe, faz alusão ao ex-jogador do Internacional, que morreu em junho de 2014 vítima de um acidente de helicóptero. Sim, ele morreu!

Aquela Mayara, que se apaixonou pelo futebol por causa da torcida, no auge dos seus cinco anos de idade, demorou alguns minutos para processar o vídeo com esses gritos. Não podia ser real! É uma atitude que não deveria fazer parte do futebol. Assim como briga entre torcedores, confrontos que acabam em morte, pessoas inocentes presas. Esse não é o futebol que eu conheci. Não é o futebol que eu quero torcer.

Alguns aqui já devem estar acusando torcedores organizados pelo ato contra os gaúchos. Pasmem: os gritos vieram, em sua maioria, do setor sul da Arena. As torcidas organizadas estavam no leste na partida, já que o norte ainda está fechado. Ou seja, dessa vez não podemos jogar a culpa nas torcidas organizadas. Não podemos fingir que só eles fazem coisas erradas. Não podemos jogar a culpa neles.

A culpa é do ser humano. De quem acha normal gritar bicha antes do goleiro adversário cobrar o tiro de meta, de quem acha que quem torce para um time diferente do seu é teu inimigo. De quem fecha os olhos para as coisas erradas que vemos todos os dias dentro do nosso clube. A culpa é de quem incentiva uma ofensa que vai além do futebol, que fere famílias, amigos e pessoas que tinham um mínimo de ligação com Fernandão. A culpa é de quem não se preocupa com o que essa atitude pode causar. Quanto tempo vai demorar para vermos brigas em jogos do Corinthians e Internacional? A rivalidade, que cresceu nos últimos anos por causa da história do DVD, ganhou um capítulo novo nesta segunda-feira que pode ter consequências irreversíveis. Já não temos mais torcidas em clássicos paulistas, será que, em breve, teremos só jogos com torcidas únicas?

Eu, sinceramente, não acredito que um dia o futebol vai voltar a ser como antes. Que teremos grandes festas nas arquibancadas, que uma invasão no Maracanã seria novamente possível. Não acredito que, no futuro, vou conseguir levar meus filhos à Arena Corinthians e fazê-los sentir o que eu senti quando entrei pela primeira vez em um estádio.

A paixão ainda existe. A devoção do corinthiano ainda é admirável, invejada, desejada. Quando a Fiel canta, ainda é impossível não ficar arrepiada dos pés a cabeça. Mas, infelizmente, a ignorância e a violência estão cada dia mais presentes nas arquibancadas pelo Brasil.

Peço desculpa se aqui neste texto não tem nenhuma informação, nenhuma notícia importante sobre o Corinthians. Só não consegui ver um vídeo em que um grupo de torcedores faz brincadeira com a morte de um ser humano e não falar nada sobre.

Só não consigo mais ver o meu futebol morrer e não sentir por isso.

Veja mais em: Arena Corinthians .

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

Por Mayara Munhoz

Jornalista, 33 anos, mãe do Joaquim. Faço parte do Meu Timão desde fevereiro de 2015. Hoje, sou a editora-chefe dessa loucura toda com muito prazer e amor.

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