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VP
O inevitável destino dos canalhas
Opinião de Rafael Castilho
Diz-se que o individuo canalha é aquele que age subalternizando os outros. Que inevitavelmente é orientado pelos interesses de ocasião. É uma especie de patologia que leva a um “excesso de individuo” em alguém.
O psicanalista Jacques Lacan disse certa vez que a canalhice leva inevitavelmente à imbecilidade. No entanto, neste caso, não seria uma imbecilidade por falta de inteligência, mas pela incapacidade de se relacionar com os outros, revestindo-se de uma máscara “realista”, para dizer ao mundo que as coisas são como são e assim consumar a sua vilania de maneira desfrutável.
Desagradável dizer aqui nesta coluna novamente o nome de Vítor Pereira. Quando o fiz outras vezes, era para dar destaque à sua atuação no comando técnico do Corinthians.
O critiquei de maneira tênue, acredito eu. Fiquei muito aborrecido com aquela declaração de que “queria estar no Liverpool, mas estava no Corinthians”, me irritava profundamente a incapacidade de vencer jogos grandes, em especial os clássicos. Critiquei quando colocou um time reserva para enfrentar o Palmeiras. Quando de maneira extremamente arrogante perguntou a um jornalista se ele sabia quanto dinheiro ele tinha na conta, argumentando que não temia perder seu emprego de treinador do Corinthians.
Sim, em geral, os canalhas assim são. Atacam e subjugam quando se sentem pressionados. Procuram, inevitavelmente, denotar sua superioridade frente ao outro.
Nas vezes em que meramente demonstrei meu desgosto com o comportamento de Vítor Pereira fui muito xingado nas redes sociais. Algumas pessoas até passaram do ponto. Porém, sinceramente, não tenho ressentimento nenhum.
Eu sei que a Fiel em sua maioria adorava o Vítor Pereira. Tenho muitos amigos queridos que verdadeiramente admiravam o trabalho do VP e os respeitei e continuo respeitando por isso. Não sou do tipo que sente prazer em dizer o famigerado “eu te disse”. Nem acho que isso acrescente nada e nem é esse o propósito desta coluna.
Só ressalto aqui o apoio que teve o Vitor Pereira no Corinthians, porque considero algo grandioso e também desencadeou uma decepção e frustração diretamente proporcionais. Ah, e a vibração da Fiel tem força.
Não se faz isso que ele fez. Podia ter dito que iria ganhar mais no Flamengo. Podia ter dito que preferia morar no Rio (que é uma delicia mesmo). Podia dizer que preferia lá do que cá. Tudo certo. Mas não se manipula o sentimento das pessoas. Nada pode incomodar mais do que quando a gente se sente ludibriado.
É meu santo é forte
Não adianta me picar
Sou Gavião e você pode acreditar
Que não aceito traição
E o veneno da serpente foi se despejando para outros lados. Felizmente. Por aqui seguimos nossa vida. As coisas parecem mais leves e felizes.
Um dos trabalhos fundamentais de um bom técnico de futebol é extrair o máximo de seus atletas. Ainda que os jogadores de futebol, em especial os brasileiros, tenham em grande parte um comportamento péssimo, seja profissionalmente, seja até mesmo perante a sociedade (o que compreende a própria torcida), parte do trabalho do técnico ainda é fazer seu time render.
A questão é que Vitor Pereira, aparentemente, não se concentra em fazer o time render, mas em render o time. Quer prevalecer sua autoridade, mas sem conquistar apreço e admiração de seus comandados. Toma decisões controversas, tanto na montagem de um time ou de um esquema tático, mas não desperta confiança, pois muitas vezes parece que quer fazer prevalecer suas ideias de forma a dar luz e destaque maior a sua atuação individual do que ao protagonismo dos jogadores. Quando a coisa dá errada, naturalmente responsabiliza os próprios comandados, quando não ataca o interlocutor, o colocando em seu “devido lugar”, se apresentando como um ser superior, inclusive ao próprio clube. Sim, quando ele diminui o clube é para para, em perspectiva, iludir e se parecer maior perante a ele.
Peço desculpas, em especial aos verdadeiros psiquiatras e psicólogos pela vulgaridade das minhas argumentações. A tentação foi grande. Fiquem à vontade para me corrigir ou incrementar as provocações.
Para terminar, vou falar poucas linhas sobre o Flamengo. Raramente cito outros clubes aqui e vou fazer esse breve comentário porque interfere diretamente no Corinthians.
É o seguinte. Vai custar bem caro o que vocês fizeram. Já estão pagando o preço, na verdade. Muito embora nossos dirigentes tenham absolvido o Flamengo pela contratação do Vitor Pereira e, a meu ver, estavam corretos em “não passar o recibo” que tanto queriam. Vocês sabem muito bem o que fizeram.
Vão pagar pela arrogância que lhes tem sido tão peculiar de uns tempos para cá.
O natural seria manter o antigo técnico que ganhou dois títulos importantes. Agora, no Mundial de Clubes, caso fossem campeões, o que me parece muito difícil para vocês, poderiam inclusive mudar de técnico, trazendo o Vitor Pereira, dizendo que iriam iniciar um novo ciclo depois que Dorival havia vencido quase tudo o que disputou.
Mas por que estou sendo desagradável ao ponto de falar das questões domesticas de vocês?
Porque todos sabemos que não interessava trazer VP depois, como seria mais inteligente, até para não queimar um novo projeto logo de cara. Em perdendo o Mundial, seria possível iniciar um novo trabalho com VP, mobilizando novas esperanças.
Pois é, mas não interessava trazer o VP depois porque o que estava no horizonte vocês era desaforar o Corinthians. Queriam que ele dissesse sim ao Flamengo imediatamente depois de dizer não ao Corinthians. Estavam orientados pelos interesses de ocasião. Tratava-se de demonstrar superioridade e subalternizar o outro. Preferiram pagar o preço disso, e pagaram. Inclusive, já tiveram uma amostra nada grátis do que o VP é capaz. Assumiram o custo do desaforo. Parabéns, vocês têm muito dinheiro e certamente isso não lhes fará falta.
Agora estão com um “igualito que tu. Pá tipos como tu”.
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Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.