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Legados do Doutor

Resistência por alcoolismo e inspiração às crianças: conheça a EMEF Sócrates Brasileiro

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Inaugurada em 2015, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Sócrates Brasileiro Sampaio de Sousa Vieira de Oliveira precisou de cerca de quatro anos até que tivesse seu nome aprovado. Isso porque Dr. Sócrates, um dos maiores ídolos da história do Corinthians, nunca omitiu seu envolvimento com o alcoolismo.

Localizada no bairro Jardim Catanduva, no Campo Limpo, zona sul de São Paulo, o colégio, inicialmente conhecido como Campo Limpo I, teve de esperar entre o fim de 2011 e o meio de 2015 para que o projeto de reformulação fosse aceito. Todo o processo foi explicado pelo professor de matemática Jair Braz da Silva, de 51 anos, ao Meu Timão.

"Foi feita uma consulta com a comunidade, de 2010 para 2011. Carolina de Jesus havia ganhado. Só que uma outra EMEF já se chamava assim. Nesse período, o Sócrates morreu e uma aluna sugeriu de homenagearmos. E a coisa pegou. Foi feita uma consulta, com vários nomes em disputa. Mas Sócrates ganhou com mais de 78%", conta.

Ao escolher a nova denominação da escola era imprescindível levar em consideração a questão da identificação com o local e com os alunos. Essa foi uma das preocupações na hora da eleição: "Se nós não déssemos um nome à escola, poderia vir um decreto qualquer e dar um nome que não tinha nada a ver com a gente."

Direitos reivindicados por Sócrates são ilustrados já na entrada da escola

Rafaela de Oliveira/Meu Timão

Os debates aconteciam em sala de aula, onde os pais das crianças eram convocados a participar e opinar. Segundo Jair, "um ou outro" levantava a questão do alcoolismo, mas o maior problema se deu quando, já decididos em consagrar o ídolo corinthiano, o projeto foi encaminhado à Diretoria Regional de Educação (DRE).

"A documentação foi enviada para a DRE, e em algum momento, foi vetada pela questão do alcoolismo. O projeto foi engavetado. Mas eles não falaram nada. A Câmara também arquivou, porque o ex-vereador Claudio Fonseca não foi reeleito e não se pode reabrir o projeto, a não ser que fosse alguém do mesmo partido. Quando descobrimos isso, fomos atrás. Depois de muita luta conseguimos reabrir. Mas demorou."

A festa de inauguração, enfim, foi realizada no mês de abril de 2015 e contou com a presença de Kátia Bagnarelli, viúva do ex-atleta, do dirigente regional de ensino e do então prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT). É importante salientar que frequentemente assuntos como "quem foi Sócrates" são levantados sim pelos profissionais do colégio.

"Discutimos a importância do Sócrates como nosso patrono, e sempre surge alguém para dizer que ele era alcoólatra. É mais o pessoal da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Mas quem nunca cometeu um erro na vida, né? E o nome do Sócrates não foi dado por ele ter sido alcoólatra, mas, sim, pelo que ele representou politicamente na vida do Brasil. As suas lutas pela igualdade".

Rafaela de Oliveira/Meu Timão

Além disso, o professor Jair conta que a vida do ídolo da Fiel é usada como referência pela busca constante da democracia, do direito à opinião, à igualdade e à educação. "Em 2016 nós fizemos uma sequência didática sobre a democracia e foi trabalhada a questão das 'Diretas Já'. Todo ano no dia 19 de fevereiro, que é o aniversário dele, a gente levanta essa discussão."

"Isso é para que os mais novos tenham consciência. Assim como a nossa sociedade é despolitizada, eles (alunos) recebem friamente. Começam a despertar para o que é Sócrates, o que ele representa, no 7º, 8º, 9º ano. Porque a primeira imagem que fica é a do jogador de futebol. Mas depois eles começam a entender. É um trabalho longo", assegura.

Problemas com estudantes que torcem para times rivais? Que nada. "É tranquilo, não tem nenhuma rejeição por ele ser corinthiano. Porque o nome Sócrates é maior que tudo isso. Se tem, eles não demonstram. Mas a partir do momento que explicamos quem foi Sócrates, a parte do futebol se torna pequena".

Galpão de Cultura - Próxima luta da EMEF Sócrates Brasileiro

Terreno abandonado tem ligação direta com as dependências da escola

Rafaela de Oliveira/Meu Timão

Depois de tomar posse de um terreno abandonado que fica anexo à escola - usado como depósito de lixo e esconderijo às pessoas que fazem coisas erradas, conforme sinaliza Jair -, o corpo docente tem como objetivo a construção do Galpão da Cultura. O intuito é utilizar o lugar para promover atividades recreativas e profissionais aos moradores do bairro.

"Em 2015 começamos a fazer várias reuniões com vários coletivos, associações de moradores, escola de samba, todos do pedaço aqui.. Como a periferia é carente de lazer e cursos técnicos, queremos transformar esse espaço em um galpão de cultura, onde as pessoas vão encontrar tudo isso. É algo para a comunidade, a escola tem de derrubar os muros, não pode ficar só aqui dentro para os alunos."

"O grande problema é a juventude ficar ociosa. Os alunos vêm para a escola e saem daqui e ficam na rua, dentro de casa... Então tendo um local onde eles possam fazer cursos de qualquer área que seja, eles vão estar se ocupando", encerra.

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