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Jogadores da equipe de amputados do Corinthians durante treinamento

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Sem limites

Equipe de amputados do Corinthians: dedicação e perseverança dentro e fora das quadras

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Os treinos de quarta são na quadra sintética da Universidade Mogi das Cruzes (UMC). Os treinos de sábado ocorrem na quadra cedida pelo SESI. Não há salários, premiações ou bônus. A utilização de uma das camisas mais poderosas do futebol mundial é apenas um acordo de sessão do direito para uso do nome. A chance de viajar para amistosos e campeonatos pelo Brasil está sempre condicionada à ajuda financeira de empresas, prefeituras ou entidades. Isso sem falar no fato de ser um jogador de futebol com apenas uma das pernas, tentando se equilibrar com muletas em meio a piques e chutes a gol.

Esse cenário acima, repleto de obstáculos, nada mais é do que a rotina da equipe de amputados do Corinthians. Complicações, dificuldades e problemas que não fazem os atletas desistirem. Ao contrário. Servem de estímulo para seguir. A reportagem do Meu Timão viajou até Mogi das Cruzes, a cerca de 40 quilômetros da capital paulista, para conhecer um pouco dessa equipe que perdeu apenas um jogo em quase cem disputados desde a temporada 2005.

"A motivação é fácil trabalhar, é natural da cabeça deles. Por terem dificuldades, eles encaram isso como motivação em treinos e jogos", explicou Rodrigo Oliveira, treinador da equipe há dois anos e seis meses.

O treino teve aquecimento, trabalhos tático e técnico com bola e, claro, a simulação de um jogo oficial (regras abaixo). De um lado, o Corinthians, time de alto rendimento, base da Seleção Brasileira com cinco jogadores, que entra nas competições para ser campeão. Do outro, o Instituto Só Vida, com jogadores que seriam reservas da equipe principal do Corinthians, mas que diante da impossibilidade de espaço para todos, são transformados em adversários em treinos e competições oficiais.

O técnico Rodrigo Oliveira passando as instruções para seus jogadores

Rodrigo Vessoni / Meu Timão

"Nosso trabalho é de inclusão, deixar atletas de fora e não criar um outro time para que todos pudessem jogar seria exatamente o inverso disso", lembrou Rogério de Almeida, de 37 anos, que completou:

"Parte financeira é o maior desafio. Temos o apoio da Prefeitura (de Mogi das Cruzes), que paga nosso estafe (psicóloga, fisioterapeuta e dois treinadores), outras parcerias como UMC e o SESI, além de empresas parceiras aqui da região", contou.

Rogerinho ou R9, como é conhecido, é considerado o melhor jogador brasileiro e um dos melhores do mundo na modalidade. Seus 457 gols na carreira (desde 2001) são consequência do que faz dentro de campo.

"Potencial dele é a finalização, perto do gol é imbatível. Tentamos criar ao máximo as chances de gol para ele. O percentual de acerto dele, pelos nossos estudos, é alto, beira os 70%", contou o treinador da equipe.

Mas os maiores golaços de Rogerinho foram mesmo longe das quatro linhas. Nascido sem a perna esquerda devido a uma má formação congênita, o camisa 9 do Corinthians trabalha como gestor financeiro e concilia a profissão com a luta pelo esporte adaptado. É uma espécie de referência para organizadores e patrocinadores.

É de suas mãos que saem todas as assinaturas de acordos para a manutenção da modalidade. O camisa 9 do Corinthians foi quem buscou apoio da Prefeitura e entidades sociais como o SESI, que ofereceram infraestrutura para a preparação dos times. O mesmo acontece com empresas da cidade, que contratam os atletas deficientes por meio da Lei de Cotas e os liberam para treinos e jogos.

O time de amputados, agora, negocia com o departamento de marketing uma ida ao CT Joaquim Grava para que os atletas possam conhecer a equipe profissional do Corinthians. Contato esse que ocorreu duas vezes até hoje, em duas visitas à Arena - contra o Figueirense, em 2016, e diante da Ponte Preta, em 2017.

Jogadores do Corinthians treinam duas vezes por semana em Mogi das Cruzes

Rodrigo Vessoni / Meu Timão

As competições da modalidade

A Copa do Brasil da modalidade será a próxima meta do time de amputados do Corinthians que, neste momento, disputa o Campeonato Paulista da modalidade ao lado de SPFC Futebol de Amputados, Santos AEDPG, Ponte Preta, Instituto Só Vida, Bola pra Frente e Audax Peruíbe.

O Estadual de amputados será realizado de 3 de março a 14 de julho, em oito etapas em diferentes cidade: São Paulo (03/03 e 14/07), Mogi das Cruzes (17/03, 07/04 e 23/06), Peruíbe (12/05), Campinas (02/06) e Praia Grande (07/07).

Psicóloga, fundamental

Juliana Jacques, esposa de Rogerinho, é a psicóloga no projeto. Uma função fundamental dentro da rotina dos atletas amputados, principalmente, daqueles que chegam ao projeto e mal conseguem se equilibrar sobre as muletas no primeiro contato com a modalidade. Não foram poucos aqueles que tentaram desistir com poucos minutos em campo.

"A psicóloga faz o trabalho de reforçar a confiança dos atletas. Alguns iniciam, não conseguem jogar num primeiro momento e pensam em desistir rapidamente. Já houve caso de grandes jogadores que quiseram desistir logo de cara", explicou o treinador, Rodrigo Oliveira.

Jogos Paraolímpicos

O sonho é que a modalidade faça parte da Paraolimpíada, sendo experimental em 2020 no Japão e valendo medalha em 2024. Para isso, Rogerinho e seus colegam cobram ajuda do Comitê Paraolímpico Brasileiro, que vê em entidades internacionais os parceiros ideais para pressionar o Comitê Olímpico Internacional.

A Seleção Brasileira possui cinco jogadores do Corinthians. O restante pertence a clubes de outras cidades e estados brasileiros. Há uma seletiva anual em busca de novos jogadores em condições de vestir a camisa amarelinha da equipe de amputados.

O Brasil é destaque na modalidade: tetracampeão mundial (1989, 2000, 2001 e 2005), tricampeão da América (2009, 2013 e 2015) e atual vencedor da Copa das Confederações (2016).

Prevenção de Acidentes

A modalidade tem como objetivo também chamar atenção sobre a prevenção de acidentes que levam a amputação. Só em 2017, de acordo com a Associação Brasileira de Desporto para Deficientes Físicos (ABDF), mais de 30 mil pessoas morreram em acidentes de trânsito no Brasil, metade dos motoristas e motociclistas acidentados tem entre 18 e 34 anos de idade e 75% ficam com invalidez permanente.

As regras do futebol de amputados

  • Os jogos são disputados em campo society, com dimensões mínimas de 60m x 38m;
  • Cada equipe tem sete jogadores e o goleiro é amputado de um dos braços. Já os atletas de linha são amputados de uma das pernas;
  • As partidas são divididas em dois tempos de 25 minutos com intervalo de dez minutos;
  • Os técnicos podem pedir um tempo de um minuto para orientar seus atletas a cada etapa;
  • A muleta não pode tocar na bola de forma intencional e o goleiro não pode sair da área;
  • O tiro de meta não pode ultrapassar o meio campo e a lateral é cobrado com o pé;
  • Não há limite para substituições e os jogadores substituídos podem voltar ao jogo.

Equipe corinthiana só perdeu um jogo desde que foi formada

Rodrigo Vessoni / Meu Timão

Veja mais em: Ações de marketing e Ações sociais do Corinthians.

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