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'Não teve conversa'

Torcedor detido na Arena Corinthians detalha agressões e humilhações após manifesto contra Bolsonaro

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Rogério Lemes é frequentador assíduo da Arena Corinthians e garante que não vai mudar após episódio deste domingo

Arquivo pessoal

No último domingo, a Arena Corinthians foi palco, além do Dérbi, de um episódio violento contra um torcedor alvinegro. Rogério Lemes foi detido pela Polícia Militar após se manifestar contra o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro .

Mais do que o ato da detenção em si, o corinthiano alega que foi agredido e humilhado pelos policiais. Rogério perdeu o clássico inteiro durante o processo e está bastante assustado com tudo que aconteceu. Em conversa com o Meu Timão, na manhã dessa terça-feira, o vendedor deu detalhes de tudo que lhe ocorreu no estádio alvinegro.

Rogério é de Mauá e foi até a Arena Corinthians com os amigos acompanhar o clássico. Enquanto os amigos ainda confraternizavam na parte externa do estádio, Rogério, ansioso para o Dérbi, preferiu entrar e garantir seu lugar para não perder nada do jogo.

"Eu entrei na Arena, passei as catracas do Setor Norte e fui ali na direção do telão. Quando eu entrei, não lembro bem se já estava tocando o hino, eu levantei as mãos e comecei a gritar: 'Bolsonaro, vai tomar **'. Quando eu comecei a fazer assim, não deu tempo de eu falar umas três ou quatro vezes, já veio um policial me sufocando, me dando um mata-leão. Eu fui desfalecendo, desfalecendo até que eu caí", relatou o torcedor. Veja o vídeo do momento abaixo.

"Quando eu caí, eu não sei bem. Me lembro que algemaram e me levaram lá para baixo, desceram uma rampa. Eu fiquei reclamando porque tenho uma prótese na perna, ficava dizendo 'vai machucar minha perna', mas eles não ligaram. Prenderam as algemas bem apertadas no meu pulso", completou.

Rogério tem uma prótese no fêmur na perna esquerda por conta de uma necrose. Sua locomoção é limitada. O torcedor divulgou em suas redes sociais imagens dos pulsos e da sua mão. Ele ainda contou que um dos policiais torceu seu dedo médio da mão esquerda - veja abaixo.

Toda a situação, segundo ele, aconteceu muito rapidamente. Nenhum dos quatro policiais, do 2º Batalhão de Polícia de Choque, chegou a abordá-lo pedindo para que parasse.

"Se os caras chegam e falam 'meu irmão, sei que você tem liberdade, mas a ordem da gente é não permitir isso, não faz isso não. Se eles trocam ideia, eu não sou tonto. Você acha que eu vou entrar em uma com os caras? Não sou burro. Mas o cara já chegou e logo me jogou no chão. Não teve conversa", afirmou o corinthiano.

Após a detenção, Rogério não foi encaminhado diretamente para o posto policial dentro da Arena Corinthians. Ele ficou em uma sala sem água e o deixaram no chão por praticamente todo o primeiro tempo.

"Eles me fecharam na salinha e começaram a me humilhar. Cada hora ia um lá, falando 'você não é valentão?'. Eles me deixaram no chão em uma posição que a minha perna ficou virada, por causa da prótese. Eu pedia ajuda para sair da posição e eles só ficavam lá me olhando, me humilhando. Eu fiquei uns 40 minutos nessa salinha", contou.

Na sequência, foi levado para o posto do Juizado Especial Criminal (Jecrim), responsável pela segurança nos estádios, onde registrou um boletim de ocorrência.

"Na delegacia, a mulher pediu para contar o que tinha acontecido. Antes de contar, eu perguntei para ela: 'Eu quero saber o porque eu estou aqui. Porque eu estou algemado. Qual o crime que eu cometi?'. Ela disse para mim: 'Você não cometeu crime nenhum". Ela disse que não era o lugar certo para manifestações e eu aleguei que a Constituição me dá esse direito, que eles não podiam fazer isso comigo. Ela meio que tentou apaziguar a situação. Eu falei que fui agredido, que fui humilhado e ela não colocou nada disso no B.O. Mas naquele momento, eu estava com medo. Os caras chegam a te agredir, a te humilhar, então, para fazer mais coisas não precisa de muito", relatou.

O torcedor ainda lamentou a falta de apoio do Corinthians. Segundo ele, em todo o tempo que esteve por lá, ninguém responsável pelo clube ou pela Arena o procurou. Durante a segunda-feira, Rogério ainda tentou contato e não conseguiu.

"Eu senti falta disso. Mandei mensagens para eles e ninguém nem me respondeu, nem bom dia, nem boa noite, nada", ressaltou. No momento da conversa, o clube ainda não tinha divulgado a nota oficial repudiando a ação .

Ainda muito assustado com tudo, o vendedor está tentando retomar a sua rotina. Ele relatou que não sabe se tomará alguma providência contra os policiais, mas vai receber a orientação de um advogado ainda nessa terça-feira para entender melhor tudo que pode ser feito.

"Um advogado entrou em contato comigo para me ajudar. Vou conversar com ele ainda hoje. Eu tenho medo dos caras, na verdade. Vou ver o que ele me orienta. Mas ainda não sei se vou tomar alguma medida", explicou.

Ao fim da conversa, Rogério foi questionado do que o motivou a gritar contra o Bolsonaro ao entrar na Arena Corinthians.

"Eu sempre protesto. Eu vou em show de rock, eu faço o mesmo. Os nosso direitos estão sendo tomados. O cara está acabando o país, tem uma disseminação de ódio, de mandar as pessoas andar armadas, de ir contra as minorias. A gente sente isso na pele, no dia a dia. Eu queria manifestar só. Não foi premeditado, não foi nada assim", explicou.

A confusão toda fez com que Rogério perdesse todo o jogo entre Corinthians e Palmeiras. Deu tempo apenas de ver um dos milagres de Cássio que garantiram o empate e o ponto conquistado pelo Timão no Brasileiro.

"Eu voltei para a arquibancada faltava uns cinco minutos para o final do jogo. Eu só consegui ver aquela defesa do Cássio que os caras quase viraram o jogo", disse o torcedor antes de afirmar que o episódio não o afastará do Timão e nem da Arena.

"Eu não vou deixar de ver o Corinthians por causa disso, não vou me esconder. Tem gente me falando para tomar cuidado, mas Deus é maior. Não vou deixar de ir na Arena, não vou me esconder", finalizou Rogério.

Confira as fotos divulgadas por Rogério Lemes

Reprodução/Facebook

Reprodução/Facebook

Reprodução/Facebook

Veja mais em: Arena Corinthians e Dérbi.

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