O Corinthians emitiu uma nota oficial na tarde desta sexta-feira e disse que já entregou as imagens disponíveis do circuito de câmeras da Neo Química Arena para esclarecimento do suposto caso de racismo ocorrido na noite da quarta. Na ocasião, dois garotos teriam sido impedidos de entrar no setor Oeste Inferior , o mais caro do estádio.
"O Sport Club Corinthians Paulista informa que separou as imagens referentes à denúncia feita nas redes sociais sobre a dificuldade de dois torcedores para entrar na Neo Química Arena antes do jogo entre Corinthians e Deportivo Cali (...). As imagens foram entregues à Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (DRADE), a fim de que as investigações do incidente corram paralelamente às apurações internas", disse o comunicado.
Com o envio das imagens e o posicionamento, o Timão aguarda agora a investigação policial para concluir se houve ou não o caso de racismo na entrada do estádio. A investigação paralela do clube independe da conclusão da Polícia Civil sobre o tema.
No momento da publicação da matéria do Meu Timão sobre o caso, na quinta-feira, o Corinthians já havia dito que tinha recebido o conteúdo via redes sociais e se movimentava internamente para dar uma resposta.
Entenda o caso
Um vídeo postado nas redes sociais viralizou poucos minutos após a vitória do Corinthians sobre o Deportivo Cali, na noite da última quarta-feira, pela Libertadores. Nas imagens, um suposto caso de segregação e racismo na entrada do Setor Oeste da Neo Química Arena foi denunciado - veja vídeo abaixo.
As imagens foram gravadas e divulgas por Gustavo Sena, conhecido como Sena MC. O rapper chegou ao estádio com a bola rolando e, ao verificar um diálogo de dois garotos com um segurança, aproximou-se e constatou que a dupla tentava, sem sucesso, acessar a parte interna do setor mais nobre do estádio.
De acordo com Sena MC, os dois garotos estavam com ingressos corporativos, do Setor Oeste Business, cedidos por uma pessoa que não utilizaria os bilhetes e decidiu presenteá-los minutos antes. O setor era o mais caro diante do Cali, no valor de R$ 750,00.
"Eu não poderia deixar de fazer algo, é um caso claro de racismo e segregação. Vejo isso diariamente, em todos os lugares, o que aconteceu no estádio não foi um caso isolado, mas que precisa ser falado também", afirmou o músico, que falou ao Meu Timão por telefone - veja relato completo abaixo.
Veja o relato de Sena MC em depoimento por telefone ao Meu Timão
"Eu não conhecia os garotos, são mais dois desses invisíveis que fazem seu corre pelas ruas, que pegam refrigerante, lanche de quem os ajuda... sempre vejo garotos com esse perfil na porta do estádio porque vou a quase todos os jogos.
Eu costumo entrar no estádio em cima da hora. Ontem eu estava em Arthur Alvim, num bar que sempre frequento antes dos jogos. Comi um lanche por ali e cheguei no estádio com a bola rolando.
Quando caminhava para o setor Sul, me deparei com dois garotos conversando com orientadores na frente da entrada Oeste, eles estavam chorando porque não tinham conseguido entrar.
Verifiquei o que estava acontecendo e vi que eles estavam com dois ingressos coorporativos, em papel impresso, com QRCod. Os dois ingressos eram do Setor Businnes, ingressos coorporativos, que uma pessoa deu pra eles. A pessoa ia morrer com os ingressos e cedeu aos garotos. Quando vi que era mais um caso de segregação, eu comecei a gravar mesmo sabendo que minha bateria do celular estava acabando.
De acordo com os orientadores, eles não poderiam entrar porque eram de menores. Mas eu sempre vejo menores no estádio, obviamente. Eu voltei com os garotos para perto da catraca. Veio uma pessoa dizendo que eles não poderiam entrar sozinhos porque eram de menor. A pessoa chegou a citar que eles estavam de chinelo, mas eu até relevei essa parte.
Nesse meio tempo, passou um casal preto, que ia entrar no mesmo portão. Então, eu perguntei se eles poderiam entrar com os garotos porque os orientadores estavam dizendo que precisariam entrar na companhia de adultos. Eles disseram que 'sim'. E todos foram para a catraca.
Porém, os dois garotos não puderam nem testar, não deixaram eles colocarem o ingresso na catraca. Os meninos voltaram triste. Perguntei o que tinha acontecido e a resposta foi de que alguém rasgou os ingressos. Um até brigou com o outro, dizendo 'por que você deixou ele rasgar o ingresso?'.
Vi que não teria uma solução aquilo. Procurei um cambista, comprei dois ingressos de Sul e os levei até o setor que eu ficaria. Na Sul também houve questionamento sobre a idade, mas eles estavam comigo e entraram normalmente.
Eu tenho certeza que a proibição na Oeste se deu pela vestimenta deles, não pelos ingressos. Se fossem dois brancos aconteceria? Eu não tenho nenhum motivo para inventar essa história, sou uma pessoa pública, eu não ganharei nada com isso. É um caso claro de racismo e segregação.
É algo que é relatado todos os dias, que se vê em vários lugares e ocasiões, e ontem foi no estádio do Corinthians. Será que vão mudar isso lá (estádio)? Não vão. É o Brasil que a gente vive. Faço isso pela minha quebrada, pela minha vivência, eu jamais deixaria passar isso batido. Jamais".
Confira o vídeo divulgado pelo MC Sena