Árbitro da final de 93 revela filho torcedor do Corinthians e diz que rival seria campeão de qualquer jeito
Entrevista de Marco Bello
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O ex-árbitro José Aparecido de Oliveira, hoje com 68 anos, carregou o escudo da FIFA e apitou diversas decisões estaduais e nacionais nos anos 90. Mas ficará marcado na história do futebol por causa de um jogo que aconteceu em 12 de junho de 1993.
Naquela ocasião, Aparecido foi o pivô da polêmica arbitragem da final do Campeonato Paulista entre Corinthians e Palmeiras, vencida pelo rival que seria campeão após 18 anos de fila.
Em conversa exclusiva com a reportagem do Meu Timão, Aparecido disse que não esquece aquele dia:
"Sim, sempre tem um ou outro pra falar, pra lembrar, e eu respeito dentro do possível. Eu acompanho às vezes, foi uma coisa que vai ficar pra história, então infelizmente não tem como eu viver sem isso".
Apesar de reconhecer que o jogo foi marcado por polêmicas e inclusive dizer que se houvesse o VAR poderia ter tomado algumas decisões diferentes, o ex-árbitro defende o resultado do jogo:
"O Palmeiras seria campeão de qualquer maneira. Se você pegar ali, e estamos falando depois de 23 anos, o Palmeiras tinha uns dez jogadores que serviram a Seleção Brasileira e foram campeões. Só naquele jogo lá, tinha o Mazinho, Antonio Carlos, Cesar Sampaio, Roberto Carlos, Edmundo, Evair, Edilson... Tinha time pra ganhar com folga. Não só do Corinthians, tinha time pra ganhar de qualquer um. Tanto que o Palmeiras ganhou o Paulista de 93, depois ganhou o Brasileiro, depois ganhou o campeonato de 94, ganhou o Brasileiro de novo, depois a Taça Rio-SP... Então não ganhou à toa, ganhou porque tinha time. Então você tá querendo tirar o mérito do time do Palmeiras e jogar em cima de um cidadão que sozinho foi pro campo, ele e Deus? Isso aí que eu não acho justo", disse.
José Aparecido faz ainda algumas comparações com outras arbitragens polêmicas:
"Você quer ver um grande exemplo, o Corinthians reclama, o torcedor do Corinthians reclama do jogo de 93, mas se você for analisar em 2005, por exemplo, Corinthians e Internacional no Pacaembu (Campeonato Brasileiro), o erro foi infinitamente mais grave que o meu! Não estou aqui fazendo crítica não, porque (Marcio Rezende de Freitas, árbitro daquele jogo) é um grande amigo meu, infelizmente errou. Como o (José Roberto) Wright errou, o Dulcídio (Wanderley Boschilia) errou, o Armando Marques errou, outro errou. Aí fica a pergunta: e por que só falam do José Aparecido? Aparecido, Aparecido, Aparecido... como se o José Aparecido tivesse apitado todos os jogos do século e só ele errou! Eu não acho isso legal e fico muito triste com isso", desabafou.
O pivô da polêmica, que hoje vive como advogado e administrador de uma pequena empresa, ainda revelou ao Meu Timão um fato curioso. O filho que, em 93 tinha apenas 19 anos e estava no Morumbi, é torcedor do Corinthians:
"É corinthiano doente, doente! Meu filho tem tudo o que é do Corinthians, meu filho tem boné, tem chaveiro, tem toalha, tem camisa, tem tudo, é fanático pelo Corinthians!", revelou.
E o filho não ficou bravo com a sua arbitragem não?
"Não, não. Ele tava no campo, assim, e se você for olhar o jogo friamente, se a gente for falar de um erro, se for falar de um erro, se é que foi um erro esse lance em um jogo de 120 minutos (ele se refere à não expulsão do atacante Edmundo, do Palmeiras, após uma entrada clara e desleal em Paulo Sérgio), você crucificar um árbitro porque não expulsou um jogador pra mim é demais".
José Aparecido passou por problemas graves de saúde em 1995, quando teve que lutar contra um câncer, e desde lá desapareceu da mídia e diz não ter mais contato com ninguém do futebol:
"Uma parte do que tive foi de mágoa, foi sim. Ouvi muitas coisas na televisão e no rádio. Hoje eu to bem, graças a Deus. Tive alguns problemas bastante sérios de saúde, mas hoje graças a Deus eu estou bem. Recuperado, graças a Deus", disse.
E você não tem vontade de voltar ao convívio do futebol, a conversar com ex-árbitros, a viver mais de perto o dia-a-dia?
"Não tenho. Não tenho. Eu fiquei mais de 20 anos correndo atrás disso, é um sacrifício muito grande. Você abandona a família, não vê os filhos crescerem... e assim, isso também, o fato do jogo, essas coisas... algumas coisas me aborreceram. De vez em quando eu encontro um ou outro que, assim, tá com a cabeça ruim e acaba gritando, acaba me ofendendo. Aí você corre um risco, né. Posso acabar discutindo e criar uma situação que eu não quero mais pra minha vida. Eu não tenho necessidade disso, faço minhas coisas, tenho a minha empresa, vou para as minhas audiências e vou tocando minha vida", finalizou.
Falando em final Corinthians x Palmeiras...
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