Entra e sai de treinadores: até onde vai a culpa dos técnicos no Corinthians?
Opinião de Ana Paula Araújo
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Quando tentamos resolver um problema de uma maneira e ele continua lá, devemos então pensar em outra abordagem para solucionar a questão.
Desde 2018, o Corinthians teve seis trocas de comando: Carille; Osmar Loss; Jair Ventura; Carille; Coelho (interino); Tiago Nunes e Coelho (interino).
Treinador | Total de jogos | Vitórias | Empates | Derrotas |
Osmar Loss | 25 jogos | 10 | 5 | 10 |
Jair Ventura | 19 jogos | 4 | 6 | 9 |
Fábio Carille | 69 jogos | 27 | 24 | 18 |
Dyego Coelho (interino) | 8 jogos | 3 | 2 | 3 |
Tiago Nunes | 27 jogos | 9 | 10 | 8 |
Dyego Coelho (interino) | 2 jogos | 1 | 0 | 1 |
Quando Carille saiu na sua primeira passagem meteórica e vitoriosa, ficou nos ombros do auxiliar Osmar Loss a responsabilidade de manter a equipe jogando em alto nível e competitivamente. Não conseguiu.
Daí em diante, vimos números bem ruins dos treinadores que assumiram o cargo. Com exceções de Carille (na sua segunda passagem) e do próprio Tiago Nunes, todos eles não conseguiram sequer ter mais vitórias que derrotas à frente do Corinthians.
Nenhum deles também conseguiu engatar um "romance" com o elenco. Porque é assim que parece que tem que ser para as coisas darem certo.
Osmar Loss
O campeoníssimo pela base, Osmar Loss, parece que não encontrou flores no vestiário corinthiano.
Acesse a fala completa do ex-treinador do Corinthians aqui.
Fábio Carille (segunda passagem)
Não é segredo para ninguém que a relação de Carille com o elenco do Corinthians foi se desgastando na segunda passagem.
As falas do treinador, aliadas aos resultados ruins em campo, culminaram na saída dele em meio a polêmicas.
Carille foi muito mal assessorado em algumas entrevistas, falou demais, se equivocou também, mas até que ponto ele estava errado em cobrar publicamente os jogadores e atribuir a eles parte da responsabilidade dos resultados ruins?
Tiago Nunes
Este chegou para promover mudanças e o fez. Mudou rotina, hábitos, impôs regras, mas, não agradou aos jogadores.
Horários pré-estabelecidos para refeições, acesso restrito ao CT e vestiário, treinos longos, vídeos explicativos, tudo isso parece que era chato demais para a boleirada.
Para piorar, a chegada dele culminou nas saídas de Jadson e Ralf. Dois nomes importantes na história recente do Corinthians, mas que não estavam dentro dos seus planos.
Corroborando com a teoria de que os atletas não estavam em sintonia com Tiago, Jadson publica uma provocação ao treinador assim que o Timão perde o título paulista para o Palmeiras.
Tremenda falta de profissionalismo e mau gosto do ex-camisa 10 do Timão.
Na última terça-feira, o torcedor Rodrigo abriu um tópico no Fórum do Meu Timão com uma possível chacota do lateral Fagner ao ex-treinador Tiago Nunes. Só clicar no minuto 4:10 e dar uma olhada. Veja aqui a postagem.
Se foi ou não uma brincadeira infeliz com o trabalho de Tiago Nunes, nunca vamos saber.
Não quero jogar a culpa em Fagner, Cássio ou algum outro veterano que talvez se ache no direito de exigir tratamento especial por ter sido importante em dada conquista. Eu nem sequer sei se essa "sabotagem" aos técnicos é algo intencional por parte dos atletas. Se isso ocorre mesmo, é porque alguém lá em cima deu liberdade para o funcionário ao ponto dele se sentir confortável para agir assim.
Talvez estejam apenas desmotivados. E esse é um problema também.
Se salários altos, centro de treinamento bem equipado, perspectivas de títulos e profissionais capacitados são fatores que não motivam mais, é mesmo hora de procurarem novos ares.
Vamos exercer a garantia de presunção de inocência nessa coluna. A culpa é coletiva.
Também não estou aqui querendo um ditador no comando do vestiário. Até porque, Tite impunha respeito de forma pacífica e foi o maior treinador da história do Corinthians. Não tinha problemas com os comandados. E, se eventualmente os tinha, tratava de resolver e ponto.
Não vou isentar Tiago Nunes, ele poderia sim talvez ter tido mais trato com seus subordinados. Melhoraria o ambiente e refletiria em campo. Seu trabalho deixou a desejar.
Mas, todos esses técnicos que passaram pelo Timão tiveram indícios comuns que apontavam para problemas com jogadores.
Agora para ser aceito pela boleirada, precisa fazer as vontades dos caras?
Quando foi que o Corinthians virou parque de diversão?
Até quando vamos focar na comissão técnica e passar pano para diretoria e atletas?
Atletas, não. Me recuso a chamar de atleta algum jogador que ache absurdo ter horário para comer ou qualquer tipo de disciplina em prol da manutenção da boa forma e da saúde. Porque quem quer ser atleta, vive como atleta.
Pelé foi atleta, Maradona foi jogador.
E você pode dizer: "Ah, Ana, mas Maradona jogou muito também". Verdade, concordo. Mas era craque e não mediano com a maioria do elenco do Corinthians. O que me faz pensar então na culpa que cabe à diretoria, que contrata a esmo sem pensar no amanhã.
Que tal em vez de trocar o treinador, trocar os diretores? Trocar os jogadores que não se comprometem mais com o Corinthians?
Quando jogadores e dirigentes colocam suas questões pessoais acima do Corinthians é hora de partir.
É hora de Andrés e sua chapa partirem; de alguns outros medalhões desse elenco também partirem.
Que parta então quem se sente insatisfeito e fique quem quer trabalhar.
O processo para a retomada de sucesso do Corinthians é longo e passa desde quem está sentado atrás da mesa, pelos jogadores, profissionais das mais diversas áreas que trabalham no clube e até pela torcida.
A torcida sim, é claro. Toda mudança pede paciência.
O Corinthians já flertou com o sucesso. Reformulou estatuto, se renovou, venceu títulos, chegou ao topo. O que deu errado?
Se para ser jogador tem que saber jogar, por que para ser diretor não tem que se saber gerir? Pedem tanto competência na comissão técnica e esquecem da competência que vem lá de cima. A falta dela transforma uma decisão errada numa bola de neve sem fim.
Como eu citei acima, a culpa é coletiva. É do dirigente, do jogador, da comissão.
Quando o profissionalismo estiver enraizado no clube, questões como essa não serão mais pauta.
A troca de treinador será então eficiente, mas enquanto a bola de neve vier numa avalanche de problemas extra campo e atropelar o campo, não adianta contratar nem o Guardiola.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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