Imagine o seguinte cenário.

Você mora em um edifício de cinco andares. Com quatro apartamentos em cada andar. 20 residências no total. Todas elas ocupadas.

Cada uma das 20 famílias tem direito a um voto para escolher o síndico. Que é a pessoa que vai administrar o dia a dia do condomínio. Vai contratar prestadores de serviço, executar melhorias, garantir a manutenção, gerir o fluxo de caixa, etc.

Um dia, alguns moradores formam um time de futebol de salão e começam a treinar à sério. Montam uma rotina de trabalho, encomendam uniformes, se inscrevem em campeonatos, … a coisa toda.

Nos primeiros anos, os condôminos topam contribuir com um adicional na taxa condominal pra ajudar o time. Bancam viagens, ajuda de custo para os moradores atletas, compram materiais, reformam a quadra poliesportiva, etc.

Depois de um tempo, o time prospera. Passa a conquistar campeonatos, angaria torcida, gera interesse da mídia especializada e, acima de tudo, passa a dar retorno financeiro. Isso mesmo, o time agora dá lucro. E essa grana é revertida para melhorias no edifício. Ocorre a compra de terrenos ao redor para ampliar as áreas de lazer, instalam novos brinquedos no parquinho das crianças, colocam aquecedor na piscina, trocam as redes de vôlei na quadra, etc.

A arrecadação do time do prédio fica uma coisa absurda, transformando o síndico em vira figura de prestígio, e agora chovem oportunidades para que ele pratique o esporte favorito de todo brasileiro com poder: o desvio de verbas para o próprio bolso. Um fornecedor dá a famosa “bola” para virar o único que abastece o cloro das piscinas, outro dá aquele presentinho pra ser escolhido como a terceirizada responsável pela faxina, etc. Até empresários de jogadores de futsal colocam um caraminguá no bolso do sujeito pra garantir que seus protegidos tenham chance no time do prédio.

Para os moradores, pouco importa. Afinal, o síndico rouba mas faz. A estrutura do condomínio segue excelente e o valor do boleto mensal não aumenta.

Um belo dia, incomodados com a péssima gestão do time de futebol de salão, os torcedores do mesmo pedem pra participar das decisões administrativas do condomínio. Nada mais justo, afinal, eles são os consumidores do espetáculo proporcionado por aquele conjunto, e é a arrecadação proveniente do mesmo que há tempos vem bancando toda a brincadeira.

Você, morador do edifício, aceitaria essa modificação do regulamento interno? Concordaria em dividir o seu poder de escolha com quem sequer habita no espaço que sofrerá diretamente as consequências dos atos do mandatário escolhido?

Acho que a resposta é óbvia.

O Corinthians é um clube social que tem um time. Nunca se esqueçam disso.