Leio e escuto muito sobre a elitização do futebol. É claro que aplicam conceitos generalizados e tudo que é abrangente gera injustiças, mas é verdade que muito do que se fala por aí faz sentido. O torcedor não tem a liberdade de outros tempos, os ingressos estão caros, os velhos estádios vão minguando, novas arenas nascendo e o processo torna-se cada vez mais natural. Aconteceu na Europa, chegou aqui. Está presente no Corinthians.

Especialistas dizem que é uma equação simples. Precisa faturar alto para brigar por grandes títulos. Era inaceitável um clube do tamanho do nosso não ter casa própria. O esforço da hipoteca compensará após tanto suor. É o que dizem, espero que seja verdade.

Mas em que ponto desse processo nós mudamos? Qual foi o 'clique' para a torcida do Corinthians parecer tanto com a do São Paulo? Ou é mais uma generalização burra?

Ilustro o texto com Mano, afinal esse treinador odiado por tantos acaba de conduzir o Corinthians à Libertadores da América, a décima segunda da história alvinegra. Um técnico que é verdade, nem de longe, tem o mesmo carisma de Tite, mas que do meu ponto de vista é competente. Que assumiu uma missão de reformular um time multicampeão com o know how de segurar a pressão de times difíceis. Poucos tem Corinthians, Flamengo e Seleção Brasileira na bagagem.

Depois de alguns resultados pensou-se que ele sucumbiria como no Flamengo, onde 'falou outro idioma', mas não, segurou a onda. Teve tempo, respaldo, reforços, dispensou quem quis e trouxe quase todo mundo que desejou. Não veio Sóbis, não deu certo com Marcelo Cirino e ele encarou do jeito que deu.

Perdemos pontos bobos, é verdade. Chapecoense, Bahia, Figueirense, Atletico-PR. Nove pontos que nos colocariam na briga pela taça, mas que são justamente equipes em formação as especialistas em jogar fora.

Um elenco mais qualificado que esse ficou quatro pontos acima da zona do rebaixamento ano passado. Tomamos prejuízo por não estar na Libertadores. Muitos dos que hoje pedem Tite, pediram sua cabeça há um ano. Esquecem quantas derrotas, incluindo o vergonhoso Tolima, foram necessárias para a construção da equipe mais vencedora da história do clube.

Os que pedem Osvaldinho pregam que não podemos mais jogar a 'escola gaúcha', recuar quando vencemos. Ele, também campeão por aqui, quase me mata do coração tamanha a retranca na final do Brasileirão em 1999. Todo técnico é ofensivo e retranqueiro. Todo mundo tem medo de perder o emprego, não é diferente no mundo da bola. E, acima de tudo, ninguém gosta de perder, ainda que isso signifique empatar demais.

Interrompemos, então, o trabalho de Mano no próximo final de semana. Na Libertadores, no mínimo na fase pré. Proeza alcançada apenas três vezes em Brasileirão de pontos corridos (2005,2010 e 2011 - três de doze anos).

Mano é um desses fenômenos imbecis de falta de popularidade tal qual a presidenta da república que foi mandada tomar #$!@% dentro dos estádios? É a elitização que nos deixou assim ou caminhamos paralelamente?

Mano não é gênio, eu mesmo gostaria de esganá-lo algumas vezes, mandá-lo para a casa do #$!@% em determinados jogos. Mas, pautado no que é pregado sobre futebol moderno, planejamento, plano plurianual e afins, não encontro nenhuma razão para a saída do técnico. Interromperemos um ciclo que poderia, sim, ser vencedor.

Quem vem? Não sei. Osvaldinho? Tite? Abel Braga?

Salvo a exceção que apareça Joaquim Low ou Guardiola, não penso que a troca elevará tanto o nível. E, como ela parece certa, torço para que venha Tite, que conhece esse novo Corinthians.

Reparem nos cinco classificados para a Libertadores. Entre os quatro do Brasileirão, todos começaram e terminaram a competição com o mesmo técnico. Marcelo Oliveira e Muricy estão há mais de um ano. E no Galo, ainda que Levir não tenha iniciado o ano, na Copa do Brasil, onde o imponderável mata-mata dá o ar da graça, ele já tinha o time na mão.

E acho, de fato, que é a torcida que está botando Mano pra fora do clube. A ver se estávamos certos em 2015. Tomara!

Podem xingar. Ao menos o meu direito de opinião eu ainda tenho.

Vai, Corinthians!