Vi muitos torcedores reclamando demais e fazendo críticas sem sentido, principalmente no tocante ao Leo Natel, sem se darem conta da evolução tática que tivemos. Até há pouco tempo reclamávamos de um ataque improdutivo, mas agora criamos muito mais do que o esperado. Agora realmente houve falhas na defesa, devido aos botes errados do Gil e as falhas de recomposição de Fábio Santos e Fagner, criando várias falhas defensivas que nós víamos muito no tempo do Coelho, por exemplo – não cito Tiago Nunes porque, apesar de vermos isso algumas vezes e como foi neste jogo, é bom lembrar que as maiores interações entre jogadores no tempo em que ele treinava eram entre os defensores e os laterais no campo de defesa, diferente de Mancini, cujos maiores interações nos últimos jogos é entre um volante e um meia.

Sou um forte crítico das opiniões de Marco Bello, tem muita coisa que definitivamente não concordo com ele. Mas o que ele escreveu hoje foi um fato: em ataque, o Corinthians jogou muito, e foi um jogo realmente emocionante como há muito tempo eu não via em um jogo do Corinthians. Mas atacar bem é uma coisa e atacar de modo desordenado taticamente. E é sobre essas desordens que falarei aqui.

ESTRATÉGIAS

Enquanto o nosso time jogou num 4-2-3-1 com meias fixos (o principal erro do Mancini, ainda que compreensível, como irei explicar depois), o adversário jogou num 4-2-2-2. A inteligência de Paulo Autuori foi armar um time sob esse esquema para neutralizar os laterais e aproveitar a velocidade de Nikão.

O alerta de spoiler fica por conta desses dois: Fernando Canesin e Nikão. Canesin atuou como meia-esquerda e como volante para neutralizar Fagner e os nossos volantes – notem o nível de acerto dos duelos no chão dele, dignos de um volante – ao mesmo tempo em que ligava o contra-ataque. Se eu fosse o presidente do Corinthians, daria mais enfoque a contratação desse cara, pois é muitíssimo raro um meia assim.

Nikão, por sua vez, ficou responsável pelo lado direito para neutralizar Fábio Santos ao mesmo tempo em que criava seus ataques pelo meio. Note que ele é ponta-esquerda e não direita, mas ainda assim jogou muito por ali. As maiores assistências para finalização vieram dele: 3 no jogo todo.

ANÁLISES GERAIS

Léo Natel

Para quem reclama do Léo Natel, vou me focar a minha análise em maior parte nele, de maneira direta e indireta. Pra começar, ele jogou fora de posição: originalmente ele é um ponta esquerda que faz a transição como centroavante, mas nesse jogo ele jogou como um meia campista que fazia a transição pelos dois lados do campo, coisa que só daria certo se Cazares ou até mesmo Ramiro estivessem jogando. Se o Mancini colocasse Ramiro para atuar com Cantillo, com Ramiro de segundo volante/meia-esquerda e Cantillo fixado, sem expor os laterais, aí sim não teríamos tantas quebras de linhas defensivas e o meio-campo flutuaria com uma dinâmica mais segura.

E eu elogio e muito a partida dele principalmente levando em conta que - é sério o comentário - no Cartola FC ele teve uma pontuação de 6.80, e há muito tempo não vejo um atacante de ofício no Corinthians ter uma pontuação assim no Cartola – e é o segundo jogo seguido que ele pontua acima de 5. Isso mostra que ele é imprescindível no ataque, mais do que muitos pensam.

Outro detalhe, que o mapa não mostra, é que por várias vezes ele chegou a apoiar o lateral e até mesmo a defesa, quase como um líbero mesmo, devido justamente ao abuso dos laterais e do próprio Gil.

Interações

Aqui temos um detalhe altamente esclarecedor: a maior interação de passes entre jogadores foi de Fagner para Bruno Méndez e Cantillo para Fábio Santos: 12 vezes cada! Depois vem Gil para Bruno Méndez e Fábio Santos para Gil (11 cada) e Bruno Méndez para Cantillo (10). Isso foi um fenômeno muito raro: um time com maior interação de passes durante o jogo entre zagueiros, laterais e volantes serem agressivos e finalizarem tanto quanto o adversário. E por quê isso aconteceu? Por causa de Bruno Méndez e Cantillo, que são excelentes para sair da defesa para o ataque. O problema foi em liberarem Gabriel e os laterais com muita frequência: não que Gabriel não deva fazer isso, ele melhorou muito em ataque, mas acontece que Mancini pediu pra Cantillo e os laterais participarem também, e como Gabriel é lento para se recompor e Otero mais ainda, as falhas aconteceram.

Passes, assistências para finalização e finalizações

Antes que alguém reclame, logo logo eu devo corrigir essa falha de ativar o Windows! (assim espero kkkkkk!) Notem que a média de passes foi bem maior na esquerda do que na direita. Agora o Ahtético passou mais vezes pela nossa esquerda (explorando o Fábio Santos), e pela nossa direita (explorando o Fagner)...e as duas assistências a gol deles adivinhem de onde vieram? Pelas duas laterais!

E esse mapa de assistências para finalização mostra uma coisa bem clara: que as assistências maiores do rival vieram do nosso lado esquerdo, pelas pontas.

Esse gráfico mostra as finalizações por tempo de jogo. Notem como o Atlético foi muito mais estável em suas finalizações do que nós.

Observem que o rejeitado Nikão (pela maioria da torcida corintiana) jogou mais pela direita do que pela esquerda, que é a posição dele, e intercalando como meia-atacante. Foi graças a ele que o Athlético-PR criou os vários perigos. E foi ele quem deu mais assistências para finalização, sendo o melhor do time depois do Fernando Canesin.

Perda de posse de bola

Notem que perdemos muitas bolas pela meia-esquerda e pela ponta-direita, e muitas vezes na área. E o Athético perdeu a bola mais vezes na ponta-direita deles, na ponta-esquerda e nos dois lados do campo. O Corinthians perdeu tais bolas porque era previsível: os ataques só eram em sua maioria pelo lado esquerdo com Fábio Santos e Otero, e a como o rival marcou muito bem o meio-campo, perdíamos muitas bolas ali e tomávamos o contra-ataque.

Mapa de calor

E esse mapa de calor revela tudo: notem como o previsível e egoísta time corintiano tocava as suas bolas mais pelo lado esquerdo do que pelo lado direito. E notem como o adversário marcou muito bem Fábio Santos e Otero.

QUAIS FORAM OS ERROS DO TIME?

Gabriel foi muito contestado na partida por ter atacado demais. Mas a grande realidade é que ele foi bem segundo a proposta que o técnico fez, e que seria muito bom se fosse com qualquer outro time que não fosse o Athético – ou o Santos, por exemplo. Tanto é assim que houve algumas vezes em que o time jogou dessa forma com o Gabriel indo pra frente com um companheiro de posição, e o time ganhou.

O Gabriel é muito lento pra se recompor posicionalmente, e pedir para o Gabriel atacar diante de um esquema que Autuori montou foi suicídio. Quando Gabriel ficou mais fixo no meio, os riscos diminuíram um pouco, mas ainda existiram devido a descida dos laterais. Contra o Flamengo, jogar assim com o Gabriel pode até dar certo, desde que não abuse da descida dos laterais.

Outro fator foi ter fixado Gustavo Silva, Araos e Otero em suas posições, sendo que eles podiam muito bem trocar de posição! Gustavo Silva é originalmente ponta-esquerda, e não direita, mas ele me vem surpreendendo muito jogando por ali. E Otero pode jogar pelos dois lados, como meia de criação e até mesmo como segundo volante. Quanto a Araos, como já disse várias vezes, é um meia-esquerda que faz a transição como meia-de-criação. Portanto o time poderia ter rendido muito mais com os meias trocando de posição e com isso a bola teria chegado com maior qualidade ao Léo Natel pela característica de jogo dele.

CONCLUSÃO

Eu entendo que Mancini quis um time agressivo, veloz e preciso nos passes, mas a proposta teria sido muito melhor se houvesse troca de posições ao invés de jogarem fixo. Ao jogar da maneira como jogou, o time se tornou previsível. Se pensar que Fernando Canesin flutuava e muito no meio-campo em conjunto com Nikão e outros, dá pra entender o motivo de eles terem sido tão precisos em explorar buracos.

O Corinthians deixou um enorme buraco no nosso lado esquerdo e no meio de campo devido ao Fábio Santos. A esperteza do Autuori foi em explorar essas falhas, sabendo de tal tendência. Flamengo e principalmente o Santos podem muito bem explorar isso, portanto é bom ficar de olho.

Léo Natel não teve culpa porque ao jogar fora de suas características – inclusive voltando pra defender nas duas pontas – quando ele chegava ao ataque ou a bola não vinha legal ou, quando vinha, o esforço desprendido era tanto que acabava errando. Agora, se os meias trocassem constantemente de posição, o time planejaria muito melhor o ataque e até Gabriel poderia ser um homem-surpresa, desde que pelo menos um meia veloz garantisse a retaguarda e os laterais não abusassem em descer. O próximo jogo exigirá um meio-campo mais assertivo e dinâmico posicionalmente do que foi nesse jogo. A dinâmica nossa melhorou, mas de nada adianta isso se a previsibilidade e o abuso em passar para os mesmos jogadores ocorrerem com frequência.

VAI, CORINTHIANS!