Li há muito tempo que os treinadores realmente eficientes memorizaram apenas 30% daquilo que é mais importante num jogo. Isso porque o que funcionou sempre foi o primordial. Guardiola, há alguns anos atrás, se definiu como um “ladrão de ideias”: ele pega o que funcionou e adapta as suas necessidades – e é isso que o faz parecer que está à frente do tempo, quanto que na verdade está sintonizado com ele.
O Campeonato Brasileiro desse ano, devido a guerra pandêmica e a crise financeira de muitos clubes, tem proporcionado uma competição de um nível mediano porém altamente competitivo. Atualmente, a diferença entre o líder e o Corinthians é de 13 pontos. Ainda assim, clubes se destacam pelos jogadores que possuem e por sistemas táticos que valorizam seus jogadores. É essa análise que será feita nesse artigo.
Queremos com isso mostrar o que o Corinthians precisa melhorar se quiser chegar ao topo. Para tanto, primeiro, será mostrado um ranking de características específicas de jogo, para em seguida mostrar mapas de calor que mostram o posicionamento do time. E aí será visível que sim, possuímos um bom plantel, mas ajustes são necessários se quisermos melhorar.
GOLS
FINALIZAÇÕES
ASSISTÊNCIAS
DESARMES
INTERCEPTAÇÕES
PASSES PRECISOS
Aqui, os zagueiros sempre se destacam, e Gil é o líder disparado. O único meia melhor ranqueado é o Willian Arão, em 5º, com 822 passes.
CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS TIMES
Internacional
Internacional é um caso interessante: os laterais ajudam a compor um meio-campo que não possui muita habilidade e visão de jogo mas são rápidos para passar. Selecionei 3 jogos para vocês verem que o Inter não tem absolutamente nenhuma diferença do Corinthians em termos de coletivo: no jogo contra o Sport eles foram mais pra cima ocupando mais o meio-campo e as pontas, já nos dois outro jogos apresentados foi um time mais na retranca. E no jogo do São Paulo, estes bombardearam o Inter com uma saraivada de chutes enquanto que o Inter chutou míseros 4 chutes.
Já no jogo contra o Flamengo o jogo foi muito mais igual em termos de chutes, e em termos de passes, não muito diferente do Corinthians nos últimos jogos, o Inter distribuiu mais passes no meio-campo, mesmo com um adversário tão forte quanto o Flamengo. Isso prova que, mesmo não tendo um meio-campo de criatividade, é possível rodar e pressionar mais em ataque.
Thiago Galhardo, o artilheiro do time e do campeonato, é um centroavante que possui uma qualidade pouco vista no futebol: é capaz de jogar como meia-central, além de jogar como meia-esquerda. Como vocês podem ver no mapa de calor abaixo, ele é praticamente o cérebro do time, e como podem ver nos mapas de calor acima, o Inter explora todos os lados do campo: direita, esquerda, meio, justo ao contrário do Corinthians que explora mais um lado do campo do que o outro. Por isso insisto tanto em anular a previsibilidade. Contra o Vasco fizemos isso muito bem, mas contra o América-MG não. E quando Thiago faz isso com Rodrigo Lindoso, Edenilson, Marcos Guilherme, nota-se a efetividade de um esquema simples que não afoga o time.
E um detalhe: dos 15 gols que Galhardo fez, apenas 4 ou 5 foram de cabeça, e isso é prova de que não é regra que centroavante é só pra fazer gol de cabeça, se o time é ruim pra cruzar, chuta de fora da área ou infiltra dentro dela.
Flamengo
Eis aí um time que demorou a se encontrar esse ano mas que agora vem fazendo bons jogos. No mapa contra o Internacional, como vimos, é um time que realmente valoriza o meio-campo. A essência do Domènec é de um time que explora todos os lados do campo, sendo extremamente assertivo nisso. No jogo contra o Inter, tiveram o dobro de posse de bola – o que não quer dizer que tenham suas vulnerabilidades, pois tomaram 2 gols e empataram nesse jogo, que foi muito parelho em termos de chances.
Arrascareta deixou de ter protagonismo para que Bruno Henrique, Éverton Ribeiro e mais recentemente VItinho assim o fizessem. Olhem o mapa abaixo e perceba o quanto Vitinho é extremamente útil para o time deles, sendo um jogador muito móvel. Com essas características, aqui no Corinthians, apenas Otero, Vital e Natel que fazem isso, sendo que Vital é o que mais se move assim, como demonstrou contra Flamengo e Vasco mas não contra o América-MG.
Éverton Ribeiro se posiciona bem semelhante ao Ramiro no Corinthians, com a diferença que ele não recua tanto quanto Ramiro e este passou a ser mais centroavante – embora praticamente à toa, uma vez que o Corinthians erra cruzamentos demais como provei no último artigo. E Willian Arão é quem sai ajuda a fazer a transição da defesa para o meio-campo.
Outro dado curiosíssimo: pela ordem, Willian Arão (meia e volante) e Filipe Luís (lateral) são os mais refinados para passes. E nesse time, o único meia de criação é Arrascareta, mas há tempos que ele não é titular – e ainda assim o time está em segundo com a mesma pontuação do Inter!
Santos
O Santos é outro time que concentra seus passes bem mais no meio-campo que no ataque, com a diferença de que eles exploram muito os lados do campo com os meias agudos Marinho e Soteldo.
Marinho, o vice artilheiro, divide o protagonismo com Diego Pituca, Soteldo e por vezes Carlos Sánchez, Jean Mota e Kaio Jorge. Possuem extrema objetividade entre eles e são, disparado, os que mais concentram passes em jogo. Isso é provado pelo fato de Jobson (segundo volante que também joga como zagueiro), no jogo contra o Grêmio, ter sido o maior passador do time, como vocês podem ver no segundo mapa. Quando tomam gol é devido ao mal posicionamento de volantes. E olhem no mapa com pontos o quanto o Atlético-MG (azul) chutou bem mais a gol que o Santos (laranja)! Isso é sinônimo de efetividade, uma característica que Mancini busca desde o início implantar no Corinthians, que oscila muito nesse sentido.
E no jogo contra o Atlético-MG, percebe-se que tanto Jobson (nesse jogo de zagueiro) quanto Pituca são os que mais passam a bola, e isso tem um significado importantíssimo como vimos semelhantemente nos outros times citados e explicarei depois.
Atlético-MG
Eles atualmente ocupam o terceiro lugar devido a serem bastante efetivos, mas quando enfrentam times grandes demonstram falhas na recomposição defensiva: possuem dificuldades para se defender de jogadores habilidosos, não conseguem evitar contra-ataques e muito menos evitar construções de jogadas.
Eles só estão na frente do Brasileirão pelo fato de serem altamente precisos e valorizarem a posse de bola em ataque. Keno participa muito do meio campo com Jair, Allan Guga e Arana. É justamente pela participação desses dois últimos que a defesa fica desguarnecida, porque os meias tem dificuldades para recuarem, assim como o Corinthians...i-gual-zinho...e ainda assim estão em terceiro! Será mesmo que a culpa é dos meias que não voltam?!
CONCLUSÃO
Quem leu os meus artigos desde o tempo de Tiago Nunes sabe que sempre critiquei o fato de possuirmos maior posse de bola na defesa quanto que na verdade os passes deveriam ser concentrados em consonância com os volantes e meias: justo o que vemos nos times que abordamos aqui – por isso a ênfase minha no Santos como explanado antes. Atualmente, Gil é quem é o maior passador do campeonato, e que só agora está jogando como Avelar jogava: mais para a frente, participando do ataque.
Com isso, podemos resumir o seguinte:
- O estilo de jogo do Corinthians não é muito diferente do Internacional e de outros times, com a diferença que agora está tendo uma grande mobilidade no meio-campo. Antes, os passes eram altamente concentrados na defesa.
- Os primeiros 4 times provaram que os melhores passadores são aqueles cujo maior passador é o segundo volante em consonância com o meio-campista.
- Esses times também provam que, quanto mais os passes na zona do meio-campo e ataque são concentrados, maiores as chances de gol. Por várias vezes isso não ocorreu no Corinthians: muitas vezes os passes são concentrados em apenas um lado do campo, facilitando para o adversário.
Se essas evidências não fosse provado com abordagem tática e estatística, poucas pessoas acreditariam. Agora vocês entendem que o que está faltando ao Corinthians agora não é jogador e nem um esquema tático melhor, mas sim maior traquejo e corrigir certos pontos, como uma maior posse de bola entre jogadores certos e atacar dos dois lados.
O Corinthians tem um elenco bem mais forte que muitos outros times. Mas pra isso é necessário polir os jogadores. Foi somente com Mancini é que realmente ficou provado a falta de preparo físico. E mais provando ainda ficou sobre a panela existente no clube, advinda de medalhões e de diretoria/presidente. Essas duas coisas minaram com o clube, caindo no mesmo mecanismo que criaram – se antes técnico, jogadores e diretoria colocavam um jogador só pra queimá-lo depois, agora provaram do próprio veneno ao forçar um mal desempenho de modo que se afogaram demais.
A solução pra isso? TRABALHO. E uns chá pras junta, pé de ouvido nos medalhões, reserva pra alguns medalhões e obediência tática!
Caraca parceiro, que análise hein...vc deveria investir num jornalismo esportivo e mostrar sua qualidade, você iria se sobressair diante desse monte acéfalo que tem por aí no jornalismo...Parabéns