Capa de jornal é alvo de críticas de corinthianas e motiva nota de repúdio
44 mil visualizações 356 comentários Reportar erro
Por Meu Timão
O Corinthians venceu o São Bernardo por 3 a 0 nessa quarta-feira, se isolando ainda mais na liderança geral do Paulistão. Na mesma noite, a equipe feminina do Timão empatou fora de casa com o Iranduba e manteve a invencibilidade no Brasileirão da categoria. A capa desta quinta-feira do diário Lance!, contudo, não trouxe nenhum desses temas como destaque. E causou repúdio em boa parte da torcida corinthiana.
Na página principal do periódico, a protagonista é Thais Garcia, "musa do São Bernardo". A modelo aparece semi nua, e a manchete traz uma tentativa de trocadilho entre a imagem e a atuação do Corinthians diante da equipe do ABC Paulista: "Fez bonito".
Por meio das redes sociais, um coletivo de torcedoras do Corinthians emitiu uma nota de repúdio à capa sexista. "Entre tantos destaques do futebol na noite da quarta-feira, optou-se por expor, mais uma vez, a mulher de maneira sexualizada e objetificada (...) imprensa opta por reafirmar o estereótipo feminino no futebol: A mulher como mero enfeite sexual", escreveram as corinthianas (veja a nota completa abaixo).
Uma das críticas, por tanto, gira em torno do público-alvo do jornal. De acordo com a capa, o periódico parece escrever apenas para homens. Outros torcedores também se manifestaram a respeito da publicação.
Em tempos onde as mulheres lutam por seu espaço no futebol, vem o Lance! e faz uma capa despropositada dessas. https://t.co/GqUethHAf4
— Lê, andro! (@lelones) 24 de março de 2016
Bicho... a Capa do Lance!... Tanta coisa pra colocar na Capa e vão colocar ~musa~ de não sei que time?! Ah para né....
— Michelle de M. Gomes (@mimentz) 24 de março de 2016
A capa do Lance! em SP é um desserviço. pic.twitter.com/vWUEpKJWOE
— Última Divisão (@ultimadivisao) 24 de março de 2016
Confira a nota de repúdio abaixo:
O Movimento Toda Poderosa Corinthiana vem às redes sociais para mostrar seu repúdio à capa do jornal esportivo Lance! de hoje, dia 24 de março. Entre tantos destaques do futebol na noite da quarta-feira, optou-se por expor, mais uma vez, a mulher de maneira sexualizada e objetificada
O time de futebol feminino Corinthians Osasco Audax, jogando pelo campeonato brasileiro, levou mais de 8 mil pagantes para a partida contra o Iranduba, em Manaus, na Arena Amazônia. Público superior a diversos jogos do futebol masculino de grandes times pelos campeonatos estaduais. As meninas se mantêm invictas no torneio após o empate de 2x2 de ontem. A falta de apoio e patrocínio ao esporte feminino é, por diversas vezes, questionada pela imprensa e ainda mais reforçada em épocas como a que o Brasil passa, com a aproximação dos Jogos Olímpicos Rio 2016. No entanto, essa mesma imprensa opta por reafirmar o estereótipo feminino no futebol: A mulher como mero enfeite sexual.
Esse tipo de manifestação por parte da mídia apenas ressalta uma dívida histórica da sociedade para com as mulheres, sejam elas torcedoras ou jogadoras, que por décadas foram tratadas como um “não público-alvo” do esporte, proibidas e boicotadas. Enquanto milhares de mulheres seguem seus times por paixão à camisa ou dedicam uma vida como profissionais em campo, é ainda preciso diariamente fazer mais: lutar contra o machismo e a invisibilidade seletiva.
Também ontem, o Corinthians venceu por 3x0 o São Bernardo, reafirmando sua boa campanha no Campeonato Paulista e sua liderança do grupo D. Cerca de 7 mil torcedores – público também inferior à partida feminina em Manaus - estiveram no estádio: homens e mulheres acompanharam a vitória do Timão, além de esperar, por 22 minutos, a falha de energia. Problemas de infraestrutura nos campeonatos estatuais também são comuns no país.
Nenhum desses assuntos mereceu o destaque da capa do Lance! desta quinta. Nenhum desses assuntos parecia ser relevante para o esporte no país. Nenhum desses assuntos agregaria mais para a discussão esportiva do que um corpo feminino.
Acreditar que essa capa pode oferecer representatividade para as mulheres no futebol é reforçar estereótipos apenas sob a ótica masculina e ignorar o esforço de tantas vozes. Representatividade, para nós, extrapola sim as quatro linhas, mas jamais caberá dentro de um sutiã.