Torcedor de 97 anos lembra o primeiro duelo com Chelsea
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Se Corinthians e Chelsea avançarem para a final do Mundial de Clubes da Fifa, em dezembro, eles voltarão a se enfrentar após 83 anos. O primeiro e único duelo entre as equipes aconteceu em 4 de julho de 1929, no Parque Antarctica. Entre a ‘extraordinária multidão presente’ (segundo relato do jornal Folha da Manhã) estava o corintiano Antônio Risaliti, na época com 14 anos.
Em entrevista ao Portal da Band, Risaliti, hoje com 97, lembrou detalhes daquele emocionante 4 a 4, como o fato de o goleiro alvinegro Tuffy ter sido escalado, mesmo doente. O corintiano também recordou que os visitantes começaram dando show e abriram três gols de vantagem. De acordo com jornais da época, Willie Jackson, Andy Wilson e Sidney Elliot marcaram para os ingleses. No entanto, ainda no primeiro tempo, veio o empate dos pés de Gambinha (duas vezes) e Grané.
Na segunda etapa, De Maria carimbou o gol da virada e só não determinou uma vitória surpreendente para o Timão por conta de um erro de Tuffy, que levou mais um tento de Sidney Elliot: 4 a 4. Ao analisar o duelo, Risaliti não teve dúvidas em apontar os destaques e o culpado pelo empate.
"Foi um jogo muito tenso e truncado. O Corinthians começou perdendo, mas conseguiu empatar e até virar. Depois o nosso goleiro Tuffy falhou feio", lamentou o corintiano e acrescentou: "Os melhores eram Gambinha, Grané, e De Maria."
Apesar dos oito gols, o torcedor alvinegro disse que na época não era um jogo tão aguardado como o de dezembro. O Chelsea, na época, frequentava a segunda divisão do Campeonato Inglês e era um time fraco e pouco técnico. Estava longe de ter o prestígio e os jogadores de cifras milionárias de hoje.
"Em 29, o Chelsea não era um grande time. Na verdade, eu nem tinha ideia do que eles eram na época. Não tem a mesma expressão que tem hoje. Sinto muito mais emoção hoje. O futebol mudou muito. Hoje temos bem mais técnica e força física, e algumas regras mudaram".
A imprensa da época compartilhava da mesma opinião de Risaliti. A Folha da Manhã elogiou apenas o desempenho do Sidney Elliot, autor de dois gols do time inglês, e disparou contra o resto do elenco, caracterizando-o como violento e ‘retranqueiro’.
"Sem fintas, os atacantes (do Chelsea) passam a bola sofrivelmente. Os médios são obscuros, jogam o necessário para o quadro a que pertencem... Os zagueiros são imprecisos nos chutes, abusam dos chutes 'viva São João', dos chutes fora para ganhar tempo e do mau uso de correr para frente, a fim de colocar os adversários em impedimento”, informou a publicação, que poupou só um no time inglês.
“Se fosse destacar um avante, esse seria Elliot, diretor do ataque, que é esforçadíssimo. Do restante, só ficaria a escolha do guardião. Outro detalhe curioso é a forma como os profissionais chutam: com o bico das botinas, que não parece aconselhada senão em casos especiais, quando a meta está próxima, numa avançada fulminante", relata.
Mesmo assim, o corintiano não tira o mérito do empate entre Corinthians e Chelsea avaliando-o até como uma vitória, já que a equipe alvinegra começou perdendo por 3 a 0. "Começamos perdendo feio, mas o time despertou e conseguimos até virar a partida, de modo que o empate nos deixou com a sensação da vitória", disse.
Mais uma vez os jornais da época confirmaram a afirmação de Risaliti. A Gazeta deixou isso bem claro na crônica do jogo. "O adversário foi virtualmente batido. E tratava-se do Chelsea. Pena é que o resultado final de uma partida nem sempre deixa bem gravado no público a impressão real da atuação", constatou o periódico.
Empolgado com a possibilidade de um novo duelo entre os times, Risaliti relembrou o passado para alertar ao Corinthians sobre os perigos de se enfrentar o Chelsea. Questionado sobre quem sairá vencedor do confronto em 2012, ele afirmou: "A gente sempre acredita no Timão, mas lá atrás o Chelsea era um time sem expressão, hoje não.”