Maria Lisboa
Por herói Vicente / Antonio Craveiro - Advogados, Conselheiros Trienais do SCCP
No próximo dia 27 de agosto os Conselheiros do Sport Club Corinthians Paulista estarão reunidos para votar as propostas de alteração do Estatuto Social, em especial, a extinção do “CHAPÃO”. Trata-se de uma oportunidade histórica para introduzir mudanças na forma de eleição do Conselho Deliberativo de uma das maiores Entidades de Prática Desportiva do mundo.
“Chapão” é a denominação do Sistema político-eleitoral em vigor no Corinthians. Esse modelo contempla o preenchimento das 250 vagas trienais em disputa (200 titulares e 50 suplentes) através da vitória de apenas uma chapa. Trata-se da imposição de candidatos pela pequena cúpula que disputa os cargos de diretoria, reproduzindo uma politica coronelista ultrapassada. É um retrocesso.
O Conselho Deliberativo (CD) é um dos “poderes” do Clube, assemelha-se ao “Poder legislativo”. Compete ao CD, dentre outras atribuições, velar pelo fiel cumprimento do Estatuto Social e pelos interesses do Clube, eleger os Membros do Conselho Fiscal, CORI, Comissão de ética e Disciplina, julgar os membros do próprio Conselho, da Diretoria, dos demais Poderes e Comissões e aplicar-lhes as sanções, julgar as contas anuais da Diretoria, votar a previsão orçamentária anual, etc. Decorrem dessas atribuições a importância colossal desse órgão.
Considerando essa relevância, os sócios esperam dos Nobres Conselheiros, no mínimo uma atuação destemida e independente. Na prática, entretanto, a situação é bem mais complicada. As dificuldades iniciam-se no processo de escolha dos integrantes do “CHAPÃO”. Pouquíssimas pessoas decidem quem o integrará. Mais do que o mérito individual, a principal característica almejada pelo mandatário que literalmente impõe seus candidatos é a predisposição do futuro Conselheiro em ratificar todos os atos da diretoria - preferencialmente sem debate. Prioriza-se a quantidade ao invés da qualidade.
O chapão não permite a oxigenação de ideias e propostas e dificulta absurdamente que um candidato desvinculado dos velhos caciques políticos do Clube encontre legenda para disputar a eleição; não há espaço para divergências. Os questionamentos ou manifestações públicas de dissonância com as diretrizes administrativas do Clube não são enxergadas com simpatia pelo grupo predominante. Como o CD é composto por integrantes de apenas uma chapa, é óbvio que existe uma relação de interdependência ou submissão entre quem indicou o candidato (líder político do Clube) e quem se viu laureado com a escolha (Conselheiro). Isso porque atualmente não basta a vontade de disputar o pleito. É necessário que o candidato também “caia nas graças” do “dono da chapa”. Sem essa aquiescência, não há vaga! Não nos olvidaremos de lembrar que na última eleição para preenchimento das vagas de Conselheiros trienais, disputaram-nas apenas DUAS chapas. Que conveniente para as lideranças!
Nessas nefastas condições, o voto do Conselheiro perde sua essência vital, que é a isenção.
Um exemplo concreto partiu da imposição de uma lista de candidatos pré- concebida, para disputar as vagas do CORI, Conselho Fiscal e Comissão de Ética. Sem consulta prévia, um pequeno grupo de líderes escolheu alguns nomes para disputar os cargos mencionados, não possibilitando o debate. Simplesmente, no dia da votação surgiram listas impressas, entregues aos Conselheiros trienais do “CHAPÃO”, com os nomes dos escolhidos e a “sugestão” de voto unificado. Quem dissentiu e lançou candidatura independente, naturalmente enfrentou dificuldades extraordinárias.
Cientes da necessidade de modificar esse cenário político anacrônico, dez Conselheiros Trienais e cinco vitalícios propuseram um conjunto de alterações eleitorais. A proposta é vinculada ao fim do CHAPÃO e prevê a criação de chapas de 25 (vinte e cinco) Associados. Pelo critério defendido, eleger-se-iam as 10 (dez) chapas mais votadas, sendo que as 08 (oito) melhores colocadas preencheriam as vagas de Conselheiros trienais titulares e as 02 (duas) remanescentes, as vagas suplentes.
Esse modelo garante o PLURALISMO POLÍTICO no Clube. Pluralismo é, em sentido amplo, o reconhecimento da diversidade. Em política, é o reconhecimento de que vários grupos possuem igual direito ao exercício do poder político segundo procedimentos eleitorais claramente definidos. O pluralismo político é um dos mais importantes atributos da democracia moderna, na qual pequenos grupos são ouvidos e têm direito a voto. Corresponde na prática, à extirpação do autoritarismo. Caso essa proposta vença, garantir-se-á a plena democracia no Parque São Jorge. Ganhará o SCCP, crescendo como Entidade verdadeiramente INDEPENDENTE, dirigida aos anseios do Clube como um todo e não de poucos líderes preocupados em ratificar seus atos.
Em 2015, todos os 250 candidatos do grupo situacionista “Renovação e Transparência” assinaram um termo de compromisso público com o fim do chapão. Qualquer tentativa de alterar esse pacto soará como provocação acintosa à ordem democrática. Cumpre ao associado e ao Conselheiro eleito denunciar a incoerência na mudança abrupta de opinião, caso ocorra revisão tardia de posicionamento.
O grupo “INTELIGÊNCIA CORINTHIANA” nasceu com o propósito de propagar a necessidade de mudança do Estatuto e lutar pelo fim das mega-chapas.
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