3.7K 97
Ganhamos o Dérbi da Honra
Opinião de Roberto Gomes Zanin
Amigos e amigas fiéis:
O maior legado desses 10 anos da era Mano, Tite e Carille é ter o privilégio de sermos dignamente representados por quem veste o manto.
Sim, houve exceções, mas a regra tem sido essa.
E não podemos ser ingratos.
Quando o bicho pega para valer, os caras nos representam.
Antes da final do Paulista, os rivais, soberbos e iludidos com um time que pensam ser melhor que o nosso, tratavam o jogo como o Dérbi do Século, crentes que ganhariam.
Perderam.
Mas como maus perdedores que sempre foram, encontraram o mimimi da influência externa.
O Dérbi do Século virou finalzinha do Paulistinha.
Por isso vencer esse jogo do Brasileirão era questão de honra.
Honrar nossos proletários fundadores.
Honrar os Necos, Idários e Zés Marias que morreriam em campo, se preciso fosse, para ver nosso pavilhão triunfar.
Honrar a memória de Elisa, a Rainha de Ébano, encarnação eterna da Fiel em forma de mulher.
E esses caras, parodiando o hino nacional, gritaram no solo sagrado de Itaquera: Fiel, verás que filho teu não foge à luta!
E seguiram à risca a bela inscrição encrustada na marquise da Arena: “Jogai por nós”. E todos jogaram por nós.
Começamos dominando. Depois o rival teve dez minutos de brilhareco, que culminou com uma bola na trave.
E nesse momento de dificuldade, aconteceu uma interferência externa: a Fiel torcida começou a cantar, enlouquecida.
Um minuto depois, nosso querido, nosso xodó, bordou uma jogada daquelas que ficam gravadas na retina.
Pedrinho arranca. Vai na vertical? Não.
Ah, deu o breque, recuou, e todo mundo pensa que ele vai virar o jogo ou dar um passe lateral, como qualquer mortal.
Mas ele não é qualquer mortal.
O garoto transpassa dois marcadores, como um fantasma atravessa uma parede.
Passe para Jadson. Lúcido como sempre, o meia vislumbra Maycon passando como um bólido pela esquerda. Cruzamento, desvio do goleiro e Rodriguinho, frio, completa a pintura.
Como é bom ver você jogar, Pedro moleque!
Você ainda nos brindou com um chapéu, um lindo chute e tantas outras jogadas.
Você sempre tenta algo novo, diferente.
Saiu a fumaça branca da nossa base: habemus craque!
E o toque final, o golpe de misericórdia nos maus perdedores, foi dado por Romero.
O paraguaio mata no peito e a bola, como aquelas serpentes indianas, sobe lenta e sinuosamente para sua cabeça.
Ele pensa no desdém que sofreu por “não ter técnica” e vai à forra.
Mantém a lua cheia flanando acima do corpo e baixa-a ao solo.
Quem não é corinthiano não entende Romero. Nós entendemos.
E foi o um a zero mais humilhante da história.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.