Corinthians não precisa virar SAF, mas está longe de ser da Fiel
Opinião de Ana Paula Araújo
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Recentemente o Canal Na Prática, da Fundação Estudar, publicou uma interessante e enriquecedora entrevista com o diretor financeiro do Corinthians, Wesley Melo, que foi, inclusive, repercutida pelo Meu Timão. Nesta coluna, pretendo abordar alguns pontos.
SAF no Corinthians
O foco principal do vídeo publicado foi a SAF, modelo que transforma clubes em empresas de fato, porque eles passam a ter donos e visar lucros.
Na opinião do diretor financeiro do Corinthians e na minha, o clube ainda não precisa recorrer a esse modelo.
Falando unicamente por mim agora, eu penso que o fator que vai "salvar" o Corinthians é simples e passa apenas pela profissionalização dos cargos de importância no clube.
Assim como o presidente Duilio já tem dado os primeiros passos, precisamos de especialistas para cada área. Wesley é exemplo disso. Mas ainda precisa ir além, precisa profissionalizar, principalmente, o departamento de futebol, pois com alguém com visão mais especializada, podemos fazer contratações pontuais e certeiras e isso, aliado à melhor gestão financeira, certamente vai alavancar o Corinthians a outro patamar.
Todas as áreas no clube precisam andar de mãos dadas para que o conjunto da obra consiga girar a engrenagem e alçar o Timão ao melhor lugar que pode estar.
Potencial financeiro e poder de marketing o Corinthians tem de sobra. A história nos mostrou em momentos pontuais que a força do Timão no mercado publicitário é gigante e, portanto, mal explorada.
Numa busca rápida no site do Corinthians, temos entre membros da diretoria os seguintes nomes:
DUILIO MONTEIRO ALVES
Presidente da Diretoria
ELIE WERDO
1ª Vice-Presidente da Diretoria
LUIZ WAGNER ALCANTARA
2º Vice-Presidente da Diretoria
ADRIANO NOCCIOLI MONTEIRO ALVES
Secretario Geral
EDUARDO CAGGIANO FREITAS
Diretor Administrativo
ANDRÉ LUIS CARRIJO FERREIRA
Diretor Cultural
SILVIO ROMOALDO JUNIOR
Diretor de Esportes Aquáticos
CARLOS HENRIQUE ROS SALAS DE LIMA
Diretor de Esportes Terrestres
WESLEY LUCIO CAVALCANTE DE MELO
Diretor de Finanças
ROBERTO DE ANDRADE SOUZA
Diretor de Futebol
OSVALDO GOMES CORRÊA NETO
Diretor de Futebol de Base
HERÓI JOÃO PAULO VICENTE
Diretor de Negócios Jurídicos
LEANDRO MARTINS DA SILVA
Diretor de Patrimônio e Obras
ANTONIO GOULART DOS REIS
Diretor de Relações Institucionais
SÉRGIO COELHO MONTES
Diretor Social
O que todos eles têm em comum? Uma formação adequada para seu cargos? Não! Mas fazem parte do time de sócios do Corinthians.
O Corinthians é dos 40 milhões de torcedores?
“Dono do clube é a torcida”, afirmou Wesley Melo.
A fala do Diretor Financeiro do Corinthians é mais poética que verdadeira. Como o Corinthians poderia pertencer aos 40 milhões de torcedores se esses não possuem direito algum dentro do clube?
E não, não estou defendendo que "qualquer um" possa ter direito de escolha dentro do Corinthians, apenas por se dizer corinthiano. Quero pontuar que, mesmo que tentando se profissionalizar a passos de tartaruga, todo corpo diretivo do Timão — composto exclusivamente por membros do Clube Social — tem o mesmo discurso pronto: enaltecer o torcedor dito comum para passar a falsa impressão de poder que a torcida, na realidade, não tem.
Quem é dono do Corinthians?
Oficialmente, ninguém é dono do Corinthians, mas a realidade não é bem assim.
Os donos do Timão são os membros do Clube Social, aqueles que pagam os títulos para desfrutarem das dependências do Parque São Jorge ou alguns outros membros que se encaixam em diversas categorias de associados que NÃO PAGAM MAIS.
Conforme está no Artigo 4º do Estatuto do Corinthians, segue a visão dos associados:
- Titulados
- Contribuintes
- Militantes
- de Futebol
E aí dentro de cada uma dessas categorias, existem sub-categorias e aqueles que por "n" motivos não pagam para fazerem parte do sócios do clube. O prejuízo é gigantesco.
Segundo o ge.globo há 8.308 sócios remidos, que não pagam mensalidade; 112 sócios conselheiros vitalícios, que, além de não precisarem pagar para frequentar o clube, podem votar em contas, orçamentos, processos de impeachment; 2.228 sócios pagantes familiares, cujos donos desses títulos pagam R$ 200 por mês e podem levar parentes diretos; 447 sócios pagantes individuais, que arcam com R$ 180 por mês; 5.115 dependentes que engloba os associados vinculados aos títulos remidos (que precisam pagar mensalidade), mas também os dependentes familiares, que são isentos.
Ou seja, "os donos do Corinthians" dão prejuízo para o clube, já você, Fiel Torcedor comum, dá lucro, mas não tem direito a nada.
Ainda há a questão: será que todo mundo ali dentro do Clube Social é corinthiano mesmo? Até onde eu sei, qualquer um pode se associar, inclusive aqueles que querem apenas desfrutar das dependências do Parque São Jorge. Imagina um palmeirense que queira frequentar o Clube Social e que tenham direito ao voto para presidente do Corinthians. Certamente não vai votar em pautas favoráveis ao futebol.
Último balancete mostra prejuízo gigantesco no clube social
Os últimos balanços divulgados pelo Timão, mostram o quanto o clube social dá prejuízo do Corinthians.
Conforme a figura acima retira diretamente do documento divulgado pelo clube, foram mais de 31 milhões de déficit.
Última campanha presidencial prova quem são os verdadeiros donos do Corinthians
Se você ainda duvida que a diretoria "governa" para agradar o associado, veja essas falas da última eleição para presidente do Corinthians.
Luiz Wagner Alcantara, o Wagnão, disse na época da candidatura da Chapa Renovação & Transparência:
"Duílio teve uma passagem muito marcante pelo Departamento Cultural, de 2009 a 2010, e pelo social. Sempre me identifiquei com esse trabalho feito por ele. Nesse momento, isso acabou estreitando muito mais essa relação, porque a minha trajetória no clube sempre foi voltada para trabalhos com o associado. Creio que juntos podemos trabalhar muito pelo social e pelo associado do clube."
"Recebi o convite para esse desafio com a total certeza de que, aliado à experiência do senhor Elie Werdo como primeiro vice, estamos prontos. Nós prestamos diversos serviços a diversos departamentos do clube e somos conhecedores de todas as necessidades dos associados. Vou colaborar muito com esse trio por esse conhecimento de chão de clube e daquilo que precisa ser aprimorado. (...)".
O clube social foi citado várias vezes e eu nem peguei outros trechos da entrevista. O fato é que nenhum postulante a cargo dentro do Corinthians vai desagradar o associado, pois é ele que elege, ele que vota. Não você, Fiel Torcedor, dito como "dono do Corinthians".
Como mudar?
É fácil mudar? Não! Vai ser uma mudança rápida? Também não. Então, o que fazer?
Profissionalizar os cargos
Não há fórmula mágica, é um conjunto de fatores. O primeiro deles falei logo no começo dessa coluna: profissionalizar os cargos. Esse, para mim, é fator primordial para que o Corinthians possa sair dessa dívida em que se encontra. Só assim o clube estabilizará as contas e poderá respirar mais aliviado sem depender de vender o elenco inteiro como vem sendo nos últimos tempos.
Otimizar o uso do Parque São Jorge
Precisa acabar com o Clube Social? Claro que não! Devemos valorizar o patrimônio do Corinthians. O que precisamos é transformar o Parque São Jorge num ponto de lazer para todo cidadão e não apenas para quem paga títulos ou é parente de algum associado. E é aí que o marketing precisa entrar forte e convencer o povo comum de que ir lá no Parque São Jorge é interessante.
Atualmente, há uma taxa para visitar o clube nos finais de semana, mas não há campanhas por trás de nada disso que instiguem as pessoas a irem passar seu dia lá.
Você, torcedor, sabe de tudo que o Clube Social oferece? É muita coisa.
Um espaço com mais de 162.000 m² deveria ser uma fonte de renda muito grande e se pagar facilmente.
Fiel Torcedor tem que votar
Não é a primeira vez que eu falo sobre isso aqui e, inclusive, é o ponto-chave que eu gostaria de chegar nessa coluna. O torcedor está longe de ser dono do Corinthians porque ele não tem voz.
Não é que eu deseje que só você se autointitular corrinthiano já te garanta voto nas decisões do clube, mas quem coloca dinheiro nas mensalidades do Fiel Torcedor deveria, sim, ter direito a opinar sobre o futuro do Corinthians. Obviamente, para isso acontecer, o tempo que já está no programa e a mensalidade/anuidade em dia seriam fatores preponderantes para ganhar tais direitos.
O problema é que toda chapa que concorre à presidência deverá, então, voltar seu olhos para essa outra parcela votante que irá exigir melhorias direcionadas ao futebol e não apenas para o Clube Social.
É complexo, mas o Corinthians caminha para isso, inclusive dar direito a voto ao Fiel Torcedor já foi pauta de reuniões do conselho.
O Corinthians só vai ser da torcida, realmente, quando ela tiver voz ativa no clube, até lá, é só uma frase de efeito jogada ao léu para nos pegar pelo que nos move, a paixão pelo Corinthians e toda poesia em torno de que é a torcida que tem um clube.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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