Carille tem mais, mas faz menos
Opinião de Andrew Sousa
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Desde que assumiu o Corinthians pela primeira vez, Carille ganhou a fama de fazer muito com pouco. Em 2017, um elenco razoável venceu o Campeonato Paulista e o Brasileirão - com direito a um turno de invencibilidade. Sem grandes opções técnicas, o treinador armou uma equipe eficiente.
A postura nunca foi dominante, mas a bola não queimava no pé. Com dois ou três passes, uma jogada de perigo acabava em gol. Em 2018, a qualidade caiu ainda mais, com perdas irreparáveis e muitas mudanças. O comandante surpreendeu, adaptou o que podia e papou mais um título.
Neste ano, o panorama se alterou. Carille já não "tira leite de pedra". Ele faz o contrário. Não que o plantel alvinegro seja do mais alto patamar, mas não há como negar a melhora. Em uma série de entrevistas, inclusive, ele colocou o atual plantel como o melhor que já treinou no Parque São Jorge - até porque, grande parte dos reforços foram indicados por ele.
Em sua primeira passagem, o treinador conseguia tirar o máximo de cada um dos atletas. Se cada nome do atual elenco jogasse seu máximo, o Corinthians brigaria por tudo que disputa na temporada. Sem Gustavo, Carille pode se dar ao luxo de escolher entre Vagner Love e Mauro Boselli. Privilégio de poucos.
Mesmo com mais qualidade, no entanto, o professor repete o roteiro utilizado lá atrás, com peças limitadas e que, de fato, dificilmente poderiam se impor ofensivamente dentro de campo.
É preciso mais. É inadimissível, mesmo que em início de temporada, que o Corinthians não tenha uma cara. Não há padrão, estratégia ou qualquer indício de uma movimentação diferenciada. Clayson é o único agudo em um time que mal consegue sair jogando - e não conta com a ajuda do treinador, que terminou o último jogo com Richard e Ralf inoperantes no setor.
Em 17 e 18, valorizei muito Carille pela capacidade de se adaptar ao que tinha em mãos. Neste ano, porém, ele quis fazer o contrário. Pegou um grupo melhor e tentou adaptar ao jogo cauteloso de outrora. Esse plantel pode mais, basta querer.
E é isso que preocupa. Após derrota para a Chapecoense, o técnico justificou não ter feito a terceira troca por estar satisfeito com o que o time vinha apresentando. Mais do que isso, destacou que temeu tomar mais um gol, complicando o jogo de volta. Uma covardia desnecessária, visto que o próprio time catarinense já não oferecia perigo.
Em outros momentos, a cautela se justificou. Jogar de forma extremamente reativa e contar com a força de Itaquera era mesmo necessário. Hoje não. Com menos material humano, outros treinadores, que chegaram junto com Carille, mostram mais em 2019. Por tudo isso, a Fiel tem razão em cobrar.
Pedrinho, Love, Gustavo, Boselli, Vital... Todos podem render mais se a proposta mudar. O foco excessivo no setor de defesa já não se prova em campo. O ataque precisa existir.
Nesse começo de ano, o processo é o contrário do que costuma acontecer nas mãos do treinador: o leite está virando pedra no CT Joaquim Grava.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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