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Futebol não é coisa de mulher
Beatriz Maineti

Apaixonada pelo futebol, mas, antes de tudo, feita de Corinthians. O mundo em preto e branco é mais bonito.

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Futebol não é coisa de mulher

Coluna da Beatriz Maineti

Opinião de Beatriz Maineti

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Futebol não é coisa de mulher

Tamires comemorando com Vic Albuquerque celebrando na Arena

Foto: Jhony Inacio / Meu Timão

Eu tinha pouco mais de quatro anos quando meu pai me levou pela primeira vez ao Pacaembu. Sentei na arquibancada para assistir Corinthians x Brasiliense, quando o Marcelinho Carioca ainda defendia o adversário. Ouvi a torcida gritar "Doutor, eu não me engano, o Marcelinho é corinthiano" e comemorar a vitória de virada naquele dia e pensei: é, doutor, eu também sou!

Mas enquanto essa realização tomava conta de mim, isso parecia ganhar outros ares para quem me rodeava. Enquanto eu brincava de amar o esporte, sofria por ouvir que agir assim "não era coisa de menina", que eu "devia brincar de outra coisa" e com os comentários que as vizinhas faziam achando que eu não podia ouvir. Eu podia. Elas achavam que eu não entendia. Mas eu entendia, sim. Afinal, futebol não era coisa de mulher

Então era melhor abandonar essa paixão. Segui acompanhando de longe meu time, comemorei os títulos mais importantes com certa cautela e, nas poucas vezes em que deixei este lado aflorar, ouvia que eu não entendia nada, que era só para agradar os meninos que estavam em volta e coisas piores. Passei anos escondendo este lado, acompanhando em silêncio e aprendendo no cantinho, para que ninguém soubesse o que eu estava fazendo. Afinal, futebol não é coisa de mulher.

Demorei anos até entender que o futebol era para todo mundo, e eu estava inclusa nisso! Não muito tempo depois, comecei a ver a equipe feminina de futebol do meu Corinthians empilhar taças, trazer as desigualdades da molidade à pauta e inspirar meninas para que essa nova geração não passasse pelo que a minha passou. Vi mulheres ganhando destaque por seus comentários na televisão, acompanhei o nascimento de narradoras, de comentaristas mulheres e percebi que, pouco a pouco, as pessoas começaram a se acostumar com a presença feminina no meio do esporte.

Ledo engano. Afinal, futebol não é coisa de mulher. Os estádios de futebol passaram a ter mais presença feminina, os times passaram a investir na modalidade, as pessoas começaram a exigir excelência de suas equipes femininas, a seleção brasileira ganhou mais destaque. Mas, ao mesmo tempo, as apreciadoras do esporte viram ex-jogadores condenados por crimes sexuais seguirem impúnes, e até um que comprou metade da pena para cumprir apenas quatro anos e meio na Espanha. Na semana do Dia Internacional da Mulher, viram o Ceará simplesmente desistir da disputa do Brasileirão Feminino para "poupar", quando a modalidade ocupava apenas 2% no orçamento do clube. Afinal, futebol não é coisa de mulher.

E seguem vendo, principalmente quando decidem expressar suas opiniões numa roda de amigos. Tem quem pergunte para elas o que é impedimento, quem corrija sem precisar corrigir e simplesmente quem ignore. De uma forma ou de outra, a intenção é sempre a mesma: silencia-las. Afinal, futebol não é coisa de mulher.

Futebol não é coisa de mulher mas pode vir a ser. Cabe a cada um dos fãs do esporte mais famoso do mundo brigar pela inclusão e pela equidade do mesmo. Mas esta batalha, porém, não tem dois lados; ela precisa ter um só. Não é uma guerra só delas; eles não podem se eximir da discussão e assistir de camarote aos avanços. Cabe a eles, que têm voz no meio, clamar por justiça.

As meninas merecem o direito de amar o esporte assim como os meninos. Ofereçam isso a elas! Levem suas filhas aos estádios e trabalhem para construir um ambiente saudável para que elas sigam consumindo o futebol. Reprimam o preconceito, dialoguem sobre o assunto, quebrem o tabu. Está, também, na mão de vocês.

Não são só as mulheres que precisam gritar por isso. Afinal, futebol não é coisa de mulher... ainda. Mas pode vir a ser!

Veja mais em: Corinthians Feminino.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Por Beatriz Maineti

Apaixonada pelo futebol, mas, antes de tudo, feita de Corinthians. O mundo em preto e branco é mais bonito.

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