Corinthians: campeão do mundo e brasileiro na mesma semana!
Opinião de Marcelo Rodrigues
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Eu confesso que tenho dó do meu vizinho. Ele não gosta de futebol. Não é só por isso que lamento. É também porque ele, coitado, chegou primeiro no prédio e não imaginava que eu mudaria para a parede do lado meses depois. Deve ser complicado.
Dias atrás, depois daquele hiato de 15 dias sem jogos do Corinthians, nos encontramos no elevador e ele brincou: “Cara, fazia tempo que não me sentia tão em paz nas noites de quarta!". E riu. Eu ri também. Ele é um cara legal e deve ser complicado mesmo.
Mas eu sofri sem o Corinthians. E, ontem, mais uma quarta-feira sem jogo, estava meio “carente” de novo. Mesmo assim, decidi manter meu ritual: saí do trabalho, jantei cedo para estar em frente à TV depois da novela e desencanei do celular. Era hora do Corinthians.
Procurei na internet um clássico para mim: Corinthians 1 x 0 Náutico, em 1990. O primeiro jogo que vi no estádio. Mas só achei o gol de falta do Neto. Chato. O mais legal de ver o Neto no estádio era o que dava errado: o ataque de nervos, as viradas de bola, os lançamentos geniais que nem sempre eram entendidos pelo nosso ataque. Gol de falta do Neto era o óbvio em 1990.
Na sequência, o próprio player sugeriu: Corinthians x Chelsea, final do mundial de 2012, na íntegra. Dei o play. Eu nunca tinha revisto o jogo assim, completo, sozinho, em paz.
Não lembrava de tanta coisa que foi como se fosse a primeira vez. Arrepiei com a Fiel lotando o estádio, a entrada dos jogadores, o beijo que o Fábio Santos dá na taça ao passar por ela, a ansiedade do Tite e a cara de fome do Jorge Henrique na hora do hino. Sim, de fome - e ele jantou naquela noite.
No sorteio de bola ou campo, o Alessandro escolhe bola. O juiz não entende. Muito barulho, idiomas misturados. E um close detalha: o capitão faz uma bola com a mão e soletra: B O L A! O Corinthians ia vencer na bola!
Quando o jogo já está para começar, a FIFA corta para uma câmera no alto para mostrar a saída de jogo. Mas... cadê o Corinthians? Enquanto o Chelsea está postado em campo, os Corintianos fazem uma última roda, meio disforme, igual aquelas que eu fazia na quarta série e gritava: “Hoje vamos ganhar da sexta série de qualquer jeito! Vamos que nem um bando de loucos!” E não é que uma vez a gente venceu?
Saída de bola pra frente (era assim “naquele tempo”). Foi assim, indo para cima, que começamos aquela final e, embora o time tenha precisado muito do Cássio, foi num ataque que o Chicão abandona ele lá atrás que começa o gol. É bola do Chicão no Paulinho, e do Paulinho no “um-dois” com Jorge, bola no Danilo e a defesa do Cech. O rebote cai bem no Guerrero que vive no instante seguinte o auge da sua carreira (para desespero de alguns colegas da imprensa). O gol me fez chorar de novo. Agora no vídeotape. Ou no YouTube para os mais novos.
O vizinho não entendeu nada quando urrei gol pela varanda e, semana que vem, quando mais uma vez não terá jogo do Corinthians, vai entender menos ainda. É que eu achei na íntegra a final do Brasileiro de 90 e o Tupãzinho está só me esperando para dar aquele carrinho.
Vai, Corinthians! Campeão brasileiro e do mundo na mesma semana.
Desculpa, vizinho. Mas aqui é Corinthians.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.