Neto, Luan e uma faixa de protesto no Corinthians
Opinião de Mayara Munhoz
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Eu lembro do dia que o Corinthians anunciou Luan. Por acaso, estávamos todos aqui do Meu Timão em uma viagem de final de ano e parte da equipe precisou parar "o descanso" para subir o conteúdo em relação ao novo reforço alvinegro. Lembro também que fiquei bastante empolgada, pois sempre gostei de ver Luan jogando no Grêmio. O fato dele ser corinthiano, claro, aumentava ainda mais a expectativa.
Meses depois, após o vice do Paulistão, o CT Joaquim Grava amanhece com uma faixa de protesto contra o jogador. O time perdeu o título do Paulistão no sábado, para o Palmeiras, mas a faixa fala apenas de Luan.
Nela, Luan é chamado de pipoqueiro. O mesmo termo utilizado pelo ex-jogador e agora apresentador Neto no último sábado após o jogo. Em um vídeo publicado nas suas redes sociais, Neto distribuiu críticas para Luan.
Na minha opinião, temos três pontos para observar aqui nesse contexto todo:
1) O Neto é bastante irresponsável no que diz. Eu consigo ainda separar a figura Neto jogador da figura Neto apresentador e, por isso, não deixo de gostar dele. Mas, como comunicador e até mesmo influenciador, Neto é péssimo. Falta um cuidado por parte do ex-jogador de pensar nas consequências das suas falas desmedidas feitas, principalmente, para chamar atenção e ganhar audiência. Aliás, no discurso, Neto critica Luan por ter "pipocado", mas também critica Tiago Nunes por ter colocado Cantillo para cobrar pênaltis mesmo sabendo que o colombiano já havia perdido uma cobrança na temporada. Pois, veja bem: Luan também perdeu. Cadê a coerência?
2) O segundo ponto, aliás, é exatamente sobre o aproveitamento de Luan em cobranças de pênalti. O meu amigo e ótimo repórter Diego Ribeiro, do Globo Esporte, fez uma thread em seu Twitter falando sobre o histórico do camisa 7 em penalidades. Vou só deixar ela aqui e vocês mesmo podem tirar suas próprias conclusões.
LUAN E OS PÊNALTIS: lembra daquele Grêmio x Corinthians de 2017? 1 x 0, gol do Jadson. O camisa 7 parou em Cássio, e perder cobranças não era exatamente uma novidade. (Foto: eu mesmo). 🧵 pic.twitter.com/AKjninfVvF
— Diego Ribeiro (@diegoribeiro) August 9, 2020
Em 2018, Luan melhorou o aproveitamento, mas também teve erros: seis cobranças, duas perdidas. Aproveitamento de 66,6%. (Foto: Lucas Uebel/Grêmio) pic.twitter.com/zIQ1M26WAj
— Diego Ribeiro (@diegoribeiro) August 9, 2020
No Corinthians, com o peso de decidir, Luan já bateu contra o Botafogo-SP (acertou) e a Ponte Preta (errou...). (Foto: Marcos Ribolli) pic.twitter.com/RoYL50Extb
— Diego Ribeiro (@diegoribeiro) August 9, 2020
Além de tudo isso citado acima, Luan estava jogando no final da partida claramente no sacrifício, com dores no tornozelo e no joelho. Sim, ele bateu todas as faltas, como Neto disse. Mas, quem viu o jogo percebeu a dificuldade que ele estava encontrando para batê-las já no finalzinho da partida.
3) O último ponto é a expectativa que criamos sobre Luan. Acho que o erro foi achar que Luan seria o cara que resolveria todos os problemas do Corinthians. Que chegaria e mudaria todo o cenário do setor ofensivo. Isso não é do perfil do Luan. Nunca foi, aliás. Não vou nem me arriscar aqui em fazer uma análise tática sobre a maneira como Luan jogava no Grêmio. Não acho nem que preciso, pois se vocês fizerem uma busca rápida nas redes sociais e nas matérias de comentaristas e analistas vão achar diversas opiniões. Quase todas tem uma coisa em comum: Luan não jogava sozinho, não resolvia tudo sozinho. Luan funcionava melhor quando seus companheiros atuavam próximo dele, o que hoje não acontece no Corinthians. Ricardinho, ex-meia do Timão, por exemplo, apontou esse fator como um prejudicial a produtividade do camisa 7 após o primeiro jogo da final do Paulista. Veja abaixo:
"Quando eu falo a questão ofensiva é de não ter um escape, de um jogador de mais movimentação e velocidade. O Corinthians joga em um curto espaço de campo, aproximando os jogadores, tentando triangulações, tentando tabelas. Quando isso é marcado, o Corinthians precisa ter uma diferença nessa jogada de velocidade. E muitas vezes isso não acontece porque não tem esse jogador. Então, acaba interferindo sim na produtividade do Luan. Não quero aqui defender, mas acho que como jogador de meio de campo que fui, ele tem esse prejuízo nesses momentos por não ter esse jogador".
Ponderações citadas acima, finalizo dizendo que não concordo com esse protesto exclusivo contra o Luan no CT. Sim, ele está devendo. Sim, esperamos mais de Luan. Queremos mais. Mas, não vejo necessidade de uma cobrança desse tamanho.
Luan, aliás, foi um dos melhores jogadores do Corinthians no jogo do Allianz Parque para mim. Além do desempenho, foi um dos poucos jogadores que demonstrou irritação com a derrota durante o segundo tempo. Foi possível ver imagens dele cobrando os companheiros e até o árbitro. Isso sem falar na força de vontade de se manter em campo mesmo sangrando e com dores. Para quem não lembra, o árbitro mandou ele sair do gramado quando começou a sangrar e ele se manteve, já que a equipe médica estava do outro lado atendendo Fagner e ele ficaria ausente. Levou bronca, precisou sair, mas brigou para não fazer.
Pipoqueiro por não bater um pênalti no sacrífico sabendo que não é uma de suas especialidades? Em uma final contra o Palmeiras?
É preciso sim cobrar o melhor para o Corinthians sempre. Mas é preciso também ser justo e não cair em pilha de quem fala sem pensar para ganhar audiência.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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