Sobre o 'juiz ladrão'
Opinião de Walter Falceta
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Em uma de suas geniais crônicas futebolísticas, Nelson Rodrigues discorre sobre a ampla fauna dos árbitros desonestos. A diferença é que, naquele tempo, o pau comia.
Em "O Juiz Ladrão", de 1955, ele encerra com o seguinte relato sobre o apitador corrupto:
- Ao soar o apito final, os 22 jogadores partiram para cima do ladrão. Mas o gângster já se antecipara, já estava pulando muros e galinheiros. Era uma figurinha elástica, acrobática e alada. Isto foi em 1917. O juiz gatuno está correndo até hoje.
Hoje, não, felizmente, em tributo à civilidade, renunciamos à violência. No máximo, um resmungo na Internet.
Porque poupamos mais uma vez, por educação, o almoxarife mineiro Pablo Almeida da Costa, que costuma passar ileso por seus frequentes deslizes, quase sempre cúmplice de Ricardo Marques Ribeiro.
Neste domingo, em Itaquera, o elemento foi incapaz de perceber os 3,3 metros que separavam Jô do impedimento. Ah, e ele estava ali pertinho. Depois disso, continuou a mexer sua bandeira, lépido e pimpão, sem qualquer constrangimento.
Em julho do ano passado, o mesmo Costa anulou outro gol válido do Corinthians. Você se lembra? Foi aquele de Balbuena, contra a Chapecoense, na Arena Condá. Vencemos e ele passou incólume.
São frequentes e escandalosas as proezas, digamos, "interpretativas" de Ricardo Marques e Pablo Almeida da Costa. Mas permanecem à salvo. O árbitro até mesmo comemora suas apresentações, como depois do jogo entre São Paulo e Grêmio.
Comemora porque somos polidos e elegantes. Pouco nos importamos com seu currículo de equívocos e suas pantomimas burlescas.
Eram eles, aliás, que apitavam também o clássico em que o sãopaulino Gilberto anotou, na Arena Corinthians, um gol em impedimento, em vitória recente do alvinegro por 3 a 2.
Ali, nada viram de irregular.
Como somos ordeiros (e devemos mesmo ser), segue o jogo. Jô já teve dois gols surrupiados (o primeiro em Curitiba, em que o Timão foi operado pelo bandeira Michael Correia) e o Corinthians perdeu quatro pontos neste brasileirão.
A direção do Corinthians, no entanto, tem o dever e os meios para procurar a justiça. Não vai dar em nada, porque a CBF é um caso de polícia.
Mas vale a pena, ainda que por protocolo, manifestar alguma indignação.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.