O Corinthians é o time do Brasil que mais faz sentido ser SAF, explico

Entre os grandes clubes brasileiros, o Corinthians é, possivelmente, o que mais teria a ganhar ao se transformar em uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Há um estigma no Brasil de que SAF significa vender o clube para uma grande empresa ou um bilionário qualquer, mas essa visão é equivocada. Tornar-se uma SAF não é sinônimo de perda de identidade ou controle – é, na verdade, uma oportunidade de modernização e sustentabilidade financeira.

- Antes de tudo, vamos entender o que seria uma SAF:
A SAF é um modelo jurídico que permite converter um clube de futebol – tradicionalmente uma associação sem fins lucrativos – em uma empresa, mais especificamente uma sociedade anônima (SA). Como qualquer empresa, uma SAF precisa gerar resultados financeiros positivos, ter uma gestão transparente e prestar contas aos seus acionistas. Caso contrário, corre o risco de falir, assim como acontece no mundo corporativo. Isso impõe uma disciplina financeira que muitos clubes brasileiros, incluindo o Corinthians, historicamente não têm.

Diferente do que muitos pensam, virar SAF não significa necessariamente abrir mão do controle do clube. O Corinthians poderia, por exemplo, estruturar sua SAF de forma que o clube social (a associação original) mantivesse 51% das ações, garantindo o domínio sobre as decisões do futebol. Ou até mesmo com uma participação menor, como 20%, desde que o contrato estabeleça mecanismos claros de governança para proteger sua influência. O modelo é flexível e pode ser adaptado à realidade e aos valores do clube.

- Por que o Corinthians seria um caso perfeito?
O Corinthians tem uma combinação única de fatores que o torna ideal para esse modelo: uma torcida apaixonada e numerosa, uma marca globalmente reconhecida e um potencial de receita que, se bem gerido, poderia rivalizar com gigantes europeus. Transformar-se em SAF abriria portas para um passo ousado: o lançamento de um IPO (Oferta Pública Inicial) na bolsa de valores. Clubes como Manchester United, Juventus e Borussia Dortmund já operam assim, com ações negociadas publicamente, o que lhes garante acesso a capital de investidores e uma gestão mais profissionalizada.

Imagine o seguinte: com um IPO, qualquer corintiano – eu, você, ou até mesmo um torcedor do outro lado do mundo – poderia comprar ações do clube. Seríamos, de fato, donos de um pedacinho do Corinthians. Além disso, como acionistas, teríamos direito a uma parte dos lucros (quando houver) e participação nas decisões estratégicas, proporcional às nossas quotas. Pequenos investidores, como a maioria dos torcedores, geralmente são representados em conselhos ou assembleias por grupos organizados – algo semelhante a uma torcida organizada, como a Gaviões da Fiel, que poderia até adquirir uma participação significativa e ter voz ativa na gestão.

Na prática, forçaria uma sustentabilidade financeira, gestão profissional e aumentaria nossa competitivade global.

É verdade que o processo não é simples. Virar SAF e entrar na bolsa exige planejamento, uma reestruturação profunda e, principalmente, uma mudança cultural na gestão do clube. Tudo precisa ser certificado, fiscalizado e reportado com rigor – algo que contrasta com o amadorismo que ainda marca muitos departamentos do Corinthians. Esse é o preço da modernização.

E quem perde com isso? A meia dúzia de conselheiros e dirigentes que, hoje, usam o clube como trampolim político ou fonte de benefícios pessoais. A transformação em SAF os obrigaria a ceder espaço para uma administração profissional e a prestar contas de verdade – algo que, convenhamos, nem todos estão dispostos a aceitar.

- O papel da torcida – e da Gaviões
Se o Corinthians é mesmo 'o time do povo', como canta sua torcida, a Gaviões da Fiel deveria liderar esse movimento. Pressionar por uma SAF não é apenas uma questão de finanças, mas de resgatar o clube das mãos de poucos e devolvê-lo aos milhões que o sustentam. Não basta publicar notas em redes sociais ou fazer pressão pessoalmente – a verdadeira demonstração de poder viria ao abraçar esse modelo e garantir que o Corinthians seja, de fato, dos corintianos.