Ano de 78, meus saudosos pais fizeram uma festa de aniversário pra mim. Lembro que foi um festão desses que que se chama os familiares, os amigos e os amigos dos amigos são bem-vindos.

Naquela época era assim, nada de buffet, bolo era uma vizinha que fazia e trazia equilibrando pela rua em suporte de madeira. Bebidas, pode pegar ali no latão com gelo. É garrafa de vidro, cuidado!

Salgadinhos as tias sob o comando da vó deixavam a cozinha e a casa toda impregnada com cheiro de óleo, era o dia todo fritando as coxinhas, quibinhos.

Outra turma ficava ali recortando o pão de forma em quadradinhos para besuntar de patê, feito na hora.

Os docinhos então eram um desafio à parte, faz um brigadeiro ali, aparece a mão de uma criança traquina e puff, já era! Tome bronca e grito. "É pra festa, peste, vai lá para o quintal."

Refrigerante servido em copinho de plástico, chapeuzinho de aniversário de papelão com aquele elástico que arrebentava e deixava um belo vergão na bochecha.

E as balinhas de coco caprichosamente embaladas que ficavam ali rodeando o bolo uma cerca de proteção.

E o melhor de tudo o aniversariante, enchendo o quarto de presentes e tinha que expor todos e tirar um retrato com cada um que lhe desse uma lembrança.

Mas o que mais me marcou nesse aniversário em especial não foi todo esse 'forfé' bacana que eram os aniversários.

O que marcou era o fato de eu estar diante de um bolo em forma de campo de futebol, cheio de jogadorezinhos e eu lá de farda, parceiro.

Camisa preta com listras brancas com número 8 nas costas, calção preto da Topper, meião listrado em preto e branco, e Kichute amarrado na canela.

Eu era um Corinthians feliz da vida, os anos passaram fui crescendo, as festas acontecendo e se modificando na forma de ser. Mas sempre Corinthians, aguentando gozação com a mítica do 'corinthiano sofredor'.

E fui aguentando e me tornando cada vez mais Corinthians, desde o primeiro jogo que vi levado pelo meu saudoso pai, e que jogo, 10 x 1 pra nós. Canindé lembro como se fosse hoje.

Depois fui crescendo e aprendi a subir a Brigadeiro pra ir lá pegar fila e pegar ingresso na Federação, aprendi a gostar do lanche de pernil na entrada do Pacaembu, a tremer junto com a Fiel nas arquibancadas do Morumbi, onde pude ver o time de 90 acabar com um parte das gozações dos rivais. E assim fui levando, até o dia de ver meu Corinthians sendo rebaixado e esculhambado em praça pública.

Depois vi um crescimento monstro e pensei agora, sim, Corinthians! Aprendeu a ser respeitar ninguém segura! E conquistamos as Américas finalmente onde pôs fim em definitivo às piadas e o mundo pela segunda vez. Aí firmou, né não, parceiro?

Pois não é que não firmou nada.

E hoje o Corinthians paga o preço alto pela ambição de quem se lambuzou com o melado do poder, de quem sabia que se explorasse o potencial da torcida o Corinthians seria quase imbatível.

Porém, esses se deixaram ou já estavam premeditados a sacanearem o Corinthians, e pior fazer com que é novo o torcedor tenha que ficar defendo o Corinthians dos piadistas.

O tempo passou o mundo evoluiu, as festinhas hoje tem hora pra começar e acabar, e Corinthians não é mais aquele clube que ficou na fila do Paulista por 23 anos, aquele time que demorou pra ter um brasileiro e uma Libertadores.

Hoje o Corinthians tem Mundial, e logo dois, amigos. E simplesmente está refém de seus conselheiros obedientes e coniventes, até de sua T.O, que um dia foi marca e orgulho até para os torcedores comuns.

Tá, 'embasado' Corinthians, meus cincos anos já vão longe, meus pais já viajaram no tempo, eu cresci, hoje não sou mais o filho, sou pai.

Um mundo de responsabilidades nas costas e ainda o prazer juvenil de ver e torcer por ti Corinthians.

Mas estou pra ver uma diretoria tão juvenil, covarde, escura de comportamento e despreparada como essa que te arrumaram Corinthians, um dia com fé em Deus, tu se libertas de novo Corinthians.

Por enquanto tá 'embasado'.

VAI CORINTHIANS...