Em agosto de 2019, o ex-pivô do Corinthians, Douglas Nunes, foi assassinado durante um período de jogos que a equipe de futsal cumpria em Erechim, no Rio Grande do Sul. Extremamente comovido com o ocorrido, o elenco corinthiano prestou as devidas homenagens ao ex-companheiro, mas teve dificuldades em seguir com a rotina.

Quem mais sofreu no elenco, segundo o treinador corinthiano André Bié, foi ele mesmo. Muito próximo do jogador, com quem trabalhou desde as categorias de base, André revelou ter cogitado a abandonar a carreira de treinador.

"Primeiro que foi lamentável, dentro do futsal eu nunca tinha ouvido uma história como essa. Isso nos marca como pessoa, como treinador. Bom, eu perdi um jogador que eu tinha trabalhado com ele na base. Nosso relacionamento era muito bom, ele era como um filho para mim, foi muito difícil. Quando voltamos ninguém sabia o que ia acontecer no clube, não sabíamos como retornar, como seria o primeiro dia ali, o treino", relembrou, em entrevista à Central do Timão.

Ainda de acordo com o treinador, alguns nomes líderes do elenco foram essenciais para a retomada do time todo e, também, para que ele mudasse de ideia sobre deixar a equipe. Segundo ele, todo o elenco se apoiou e decidiu continuar os jogos em homenagem ao pivô e representando-o dentro de campo.

"Mais uma vez nos fechamos no vestiário, e os líderes, Tiago, Deives, me deram força para continuar ali, porque eu estava meio decidido em não ser mais treinador. Porque isso é uma coisa que você não espera, jamais você vai esperar, te comove, é uma dor imensurável, e eu não tinha mais alegria de estar ali dando treino. Eu conversei com eles, tive que expor isso, e recebi muitas forças para continuar ali, porque eu também era o comandante, eles acreditavam nesse caminho. Pensando, debatendo com eles, eu falei 'ok, vamos continuar, mas o time tem que ter a cara do Douglas, ser corinthiano, brigador', porque faltava isso um pouco na equipe, de ser mais corinthiano, alma e coração", disse.

"E nosso elenco tinha que jogar como o Douglas jogava, como ele se dedicava, a gente tinha que ter a cara dele, para a gente poder ter uma vida diária. E fomos tendo que buscar equilíbrio, porque eu chegava mal um dia, o Tiago outro, Deives outro, Nenê ficava mal... e a gente tem que puxar um ao outro, fazer o dia a dia andar, mesmo que aquilo tudo tivesse sendo muito triste para todos nós. Honramos o que o Douglas nos pedia, as características dele. Ele era brincalhão, então a gente jogava com alegria. Ele era corinthiano, dedicado, comprometido 100% em todos os treinos, jogos... pedi para a gente se conduzir dessa forma. Isso foi uma coisa marcante no meu cenário como treinador, eu acabei de fazer 41 anos, para suportar isso foi muito difícil. Eu preciso de braços do meu lado. A gente precisa estar sempre em conversa, porque é muito grave isso que passamos e só resiliência e carinho nos confortam nesse momento", finalizou o treinador corinthiano.

Naquela época, o clube adiou partidas para viver o luto e prestou homenagens ao jogador nas redes sociais e em quadra.

O elenco atualmente

Apesar do momento difícil vivido em 2019, o elenco encerrou o ano com a conquistas de cinco títulos. Já no início de 2020, o Corinthians realizou sua pré-temporada na Espanha e teve tempo de disputar outros três jogos amistosos no Brasil antes da paralisação.

"Nós fizemos nossa pré-temporada fora, na Espanha, com o convite de duas equipes e a ajuda de uma agência, isso foi muito bacana para nós, nosso crescimento. O que nós construímos, nossa imagem, tão grande, a ponto de ser convidado para uma pré-temporada fora do país... olha o tamanho da nossa imagem, do nosso projeto, construímos com muito trabalho, resultado, ideologia do clube... isso é de se ressaltar. Fizemos dois jogos, Barcelona e Palma, e na sequência veio a pandemia. Fizemos ainda três jogos em São Paulo, contra Botucatu, São José e Santo André", contou.

O elenco se preparava para a disputa da Supercopa que, se fosse vencida, levaria o Corinthians à disputa da Libertadores. Com a pandemia, os treinos presencias foram substituídos por atividades à distância e os jogos não têm previsão de retorno.

"Estávamos nos preparando para a Supercopa, se fossemos campeões íamos participar mais uma vez da Libertadores, e aí chegou a pandemia, paramos nosso treinos presenciais e começamos com o virtual. Hoje os jogadores, há três meses, treinam pelo Zoom, segunda com nosso supervisor e o gerente, e depois dois dias com o preparador físico Juninho, e sexta a parte técnica comigo e eu auxiliar. Passamos, também, devido ao momento pesado, com alguns especialistas sobre inteligencia emocional, falamos com psicóloga... estamos tentando ficar conectados. Sabemos também que esse treino não chega a 10% do que estamos acostumados, mas isso é uma forma de estarmos juntos, integrados, conversando, alimentando de coisas boas e positivas para ter o dia a dia de uma certa forma produtiva. Essa pandemia veio e eu tenho privilégio de ter meus gêmeos aqui, a Manuela e o Enrico, então estou cuidando, estamos 100% eu e minha esposa com eles. Estou vivenciando da maneira mais positiva possível eu sou um cara positivo, sempre levo as coisas para esse lado, e tento fazer isso ficar o mais leve possível, tentar tirar esse peso das costas", finalizou o treinador.

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