Sl Silvestrin
Resumindo! Pobre do torcedor que vai a arena, faz campanha para quitação, fica incomodado com a questão política e de assalto aos cofres do clube, sobre com piadas maldosas quando é identificado como corintiano.. Enquanto isso tem alguns espertos vivendo as custas do sonho e paixão do torcedor.. Logo ou acaba, toca o sic com os cartólas ladrões, ou a torcida continuará apenas sonhando com time forte,
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Em resposta ao tópico:
Cálculos Arena Corinthians (esclarecimentos)
Assim como eu, muitos vivem reclamando da falta de transparência sobre a dívida da Arena Corinthians (NQ Arena).
E tudo isso porque o clube insiste em dificultar a vida do torcedor, não entregando informação direta e fácil pra nós.
O que mais chama atenção do torcedor é o fato de que a dívida da arena só cresce, mesmo com as bilheterias batendo recorde ano após ano.
Com isso, fiz uma breve investigação de notícias sobre o tema, e tentei projetar alguns cenários que pudessem explicar o que acontece.
1. DAS INFORMAÇÕES PRELIMINARES
1.1 A arena foi inaugurada em 2014, em razão da Copa do Mundo.
1.2 Do valor global, o valor financiado pela CEF, em 2014, seria de R$420.000.000,00 (valor contratado).
1.3 A taxa de operação consignada em contrato, conforme noticiado, seria CDI + 2% a.a.
1.3.1 O CDI (Certificado de Depósito Interbancário) é uma taxa usada pelos bancos que, via de regra, acompanha a SELIC.
1.3.2 O CDI, por estar atrelado à SELIC, flutua ao longo do tempo, com alguns momentos estando mais baixo, outros mais elevado.
1.4 A informação que sempre tivemos era que o Fundo da Arena foi criado para apartar as contas, com o recurso proveniente das bilheterias sendo direcionado exclusivamente para a amortização da operação.
1.4.1 Fiz o levantamento das receitas com bilheterias de 2014 a 2024. Pra isso, foi utilizado o valor nominal informado em cada ano (não atualizado ao longo do tempo, pra evitar distorção).
1.5 Peguei alguns borderôs de partidas, pra verificar a composição e a relação entre arrecadação por jogo e despesas de operação.
1.5.1 Identifiquei que o custo da operação de cada jogo gira na casa dos 30% a 35% da receita bruta. Pra efeito de cálculo, usei 40% pra ter uma margem de segurança.
1.6 O SCCP fechou contrato com a Neo Química, em 2020, para batizar a arena.
1.6.1 O valor anunciado foi de R$300 milhões, pelo prazo de 20 anos, ou seja, valor nominal de R$15 milhões por temporada.
1.6.2 Ainda, nosso amigo Google apresenta, como índice de atualização do contrato, o IGP-M.
1.7 A promessa feita era que que os NR seriam destinados para pagamento da arena.
2. CENÁRIOS
Assim, considerando os dados que foram levantados, tentei planilhar os valores, calcular os juros da operação, eventuais amortizações, traçando alguns cenários possíveis.
2.1 CENÁRIO 1 - ATUAL (REAL)
Considerando as premissas estabelecidas, vamos aos números que entendo ser o cenário atual (ou algo muito próximo):
Observamos o efeito dos juros ao longo tempo e o peso que eles exercem sobre o saldo devedor.
2014 inicia com os R$ 420 milhões contratados. A partir dali, usei a lógica da renda bruta, menos os 40% das despesas operacionais, pra chegar numa receita líquida com bilheteria.
Em tese, após um ano, a gente teria o juro (CDI para 2014 foi de 10,9% a.a. + 2%) incidindo sobre o capital (R$420 mi) e aí usamos a renda líquida da temporada pra abater. Com isso, chegaríamos ao saldo devedor da temporada seguinte.
Ou seja = R$420 mi de saldo devedor inicial + R$54,18 milhões - renda líquida com bilheteria (R$21,9 mi) > chegando aos R$452,27 mi de dívida.
Explicando … mesmo direcionando toda a renda com bilheteria (descontadas as despesas operacionais), que foi de R$ 21,9 milhões, os juros de R$ 54,18 milhões fizeram com que o saldo devedor fosse de R$420 milhões para R$452,27 milhões. Isto é, mesmo pagando um pouco, a dívida aumentou.
E assim, seguimos, ano a ano. Seguindo a mesma linha de raciocínio.
Até chegarmos a 2025, com saldo devedor de R$720 milhões. Algo muito próximo ao que está sendo anunciado e divulgado nos balanços do clube.
Ressalvas: por essa projeção, o clube não teria feito nenhuma amortização do principal … apenas dos juros mesmo. Além disso, NADA dos Naming Rights teriam sido direcionados pra arena.
Isso explicaria porque mesmo o clube direcionando toda a renda da bilheteria, o valor nunca baixou.
2.2 CENÁRIO 2 - NRs
Caso o clube tivesse direcionado os NRs para contribuir para a quitação da dívida, teríamos um cenário um pouco diferente. Vejamos:
Aqui, a projeção é muito próxima da anterior. O que muda seria a aplicação dos recursos provenientes dos NRs, cujo contrato foi firmado ainda em 2020.
O valor de face de R$ 15 milhões, pelo que consta na internet, deveria ser corrigido pelo IGP-M. O índice foi destacado na quarta coluna, com os valores reajustados a cada ano. Isso na teoria.
Logo, os valores são os mesmos da projeção real, com mudanças a partir de 2020, sendo o valor pago ligeiramente maior.
Mesmo assim, sem muito esforço, a gente chegaria num valor de dívida de R$593 milhões em 2025. São R$127 milhões de diferença do saldo comparando cada cenário.
Ressalvas: a projeção leva crer que os NRs NÃO ESTARIAM SENDO DIRECIONADOS PARA QUITAÇÃO DA ARENA. Se há alguma restrição para que esta rubrica seja alocada exclusivamente para a finalidade acima, algo de errado poderia estar ocorrendo.
2.3 CENÁRIO 3 - NRs + GESTÃO
Chegamos, então, ao terceiro cenário traçado. Este leva em conta o uso dos NRs, acrescido de um esforço mínimo da diretoria para de fato buscar quitar a dívida em definitivo.
Um simples exercício de números, alocando um valor fixo estimado para amortização do principal, teríamos o seguinte:
Pra que esse cenário fosse exequível, caberia ao clube aportar, anualmente, R$30.000.000,00 em amortização.
Caso isso tivesse ocorrido desde 2014, ano de inauguração, este ano (2025) poderíamos quitar em definitivo a operação de crédito contratada com a CEF.
Isso permitiria que o estatuto da arena pudesse ser revisto, de modo que as receitas com bilheteria fossem revertidas integralmente em benefício do clube. O mesmo para os NRs.
Ou seja, estamos falando de mais de R$ 50 milhões de renda líquida de bilheteria, mais cerca de R$24 milhões de NR (caso realmente atualizado pelo IGP-M), no caixa do clube a cada temporada.
Isso seria recurso para fazer frente a várias outras questões, como liquidação da dívida do clube com credores; contratações de reforços; dentre outros.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pelo que me parece, realmente o juro da operação tem sido o grande vilão dos números (em termos financeiros). Por mais triste que seja, mesmo o clube colocando toda a renda, o valor segue crescendo. E assim deve continuar, caso não seja tomada alguma providência pra sanear a questão.
O cenário projetado com o uso da renda para amortização apenas dos juros se aproxima muito dos valores anunciados atualmente, algo na casa dos R$720 milhões. Fica implícito que os NRs não tem sido usados na operação.
Consta nos portais de notícias, que o clube planeja iniciar a amortizar a operação de fato a partir de 2025. Não sabemos como, visto que o nosso fluxo de caixa está bastante comprometido.
Aí entra o componente de gestão. Todo o mal feito ao longo dos anos, com péssimos contratos, dívidas contratadas com empresários, confissão de valores anos mais tarde, etc., agora começam a revelar sua face prejudicial.
Caso o clube fizesse um mínimo de esforço e tivesse zelo pelo dinheiro, poderíamos estar com a arena praticamente quitada e toda a arrecadação sendo revertida em benefício do próprio departamento de futebol.
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É isso. Desculpem a dissertação, mas o assunto é denso mesmo.
Fiquem à vontade para criticar a metodologia. Contribuições são sempre bem vindas.