Denis Russo
Raramente estou logado no site. Só loguei pra elogiar esse post. Magnífico.
1994 foi um ano especial pra mim, também.
Foi meu primeiro ano de escola. De conviver obrigado com torcedores de outros times. No ano anterior, meus primos palmeirenses e alguns amigos já tinham feito da minha vida um inferno. Mas, eu podia ignorar eles. Me trancava em casa, se não brincasse com ninguém na rua e faltasse das reuniões de família, podia usar minha camiseta do Corinthians sem ser zoado.
Mas, em 1994 foi diferente. Eu tinha que ir para a escola. E eu não podia esconder meu corinthianismo. Meu pai tinha dado muito duro pra comprar qualquer artigo do Timão que eu pudesse ter. Eu não podia pisar na bola e escondê-los. E eu aprendi a lidar com o fato de torcer para o time 'menos campeão' de São Paulo. E eu era perna de pau demais. Péssimo no futebol. Mas, eu usava uns meiões do Corinthians nas aulas de educação física. E as piadas de ser ruim de bola ligadas ao fato de ser corinthiano eram inevitáveis.
Também chorei com a morte do Senna. Também chorei demais com a Copa de 94. Eu me orgulhava demais do Viola estar presente nesse título da seleção.
Obrigado por me fazer viver de novo esse ano.
Aos mais novos, sem saudosismo, sem afirmar que antes era mais legal ou chato do que hoje em dia: quando verem nosso time numa fase ruim, pensem que já estivemos numa situação muito pior.
E 1994 talvez tenha sido um dos anos mais sofridos para ser corintiano. Ao menos pra mim, foi.
em Bate-Papo da Torcida > 1994
Em resposta ao tópico:
Esse será um longo texto. Peço desculpas por isso, mas não tem como deixar de ser.
Li que hoje é o aniversário de 25 anos da morte do Dener.
Quem não sabe do que estou falando, deem uma olhada:
https://youtube.com/watch?v=KHMLCbkZPys 
Dener Vs São Paulo (1992) - Gols e Melhores momentos desse eterno craque - YouTube TO MAKE THIS CHANNEL GROW LIKE, COMMENT AND SUBSCRIBE! PARA FAZER ESTE CANAL CRESCER CURTA, COMENTE E INSCREVA-SE! ------------------------------------------... youtube.com
Ele morreu em um acidente de carro, na Lagoa Rodrigo de Freitas aos 23 anos no dia 12/04/1994, emprestado pela Portuguesa, ao Vasco.
Eu vi 'sêo' Pepe dizendo em uma entrevista que ele era do mesmo nível que o Neymar.
Não 'sêo' Pepe, ele era bem melhor do que o Neymar. O senhor, o canhão da Vila, foi muito melhor do que o Neymar também.
Por que estou falando do Dener? Porque ele era o meu sonho de consumo e o sonho de consumo do Vicente Matheus e do Alberto Dualib. A Portuguesa fazia jogo duro conosco, desde quando tiramos o Super Zé de lá. Nós compramos o passe do Zé Maria direto na federação e a Portuguesa foi obrigada a liberar. No caso do Dener, foram feitas várias propostas de compra, todas elas recusadas. Ainda não existia a lei Pelé que extinguiu o passe.
A morte do Dener me chocou profundamente. Mas naquele ano, viria para o Corinthians talvez nosso maior ídolo, Marcelinho Carioca. Mas dele vou falar daqui a pouco.
Bom, em 1994 eu tinha 14 anos. Estava no último ano do ensino fundamental. E eu não sabia que naquele ano acabaria a melhor fase da minha vida. Até hoje, eu tenho sonhos em que estou no colégio que formou o homem que sou.
Pouco menos de um mês da morte do Dener, morreu um dos maiores corintianos de todos os tempos.
Ele não era desse mundo, estou falando sério. Eu nunca vi ninguém ser tão competente fazendo algo, como o Senna era competente guiando. Ele fazia coisas assombrosas como piloto. Quem não o viu correr, assista o documentário sobre ele. Ele era um samurai, como diriam os mecânicos da Honda.
No fatídico dia 01/05/1994 meu pai me acordou e disse:
- Igor, acorda que o Senna sofreu um acidente feio.
Eu acordei e fiquei olhando vidrado pra TV, até entrar o plantão da Globo com o Roberto Cabrini anunciando a morte cerebral do meu segundo maior ídolo. O primeiro é ainda o José Ferreira Neto.
Eu não me lembro de ver meu pai chorando em outra oportunidade. E não me lembro de sentir tanta tristeza. Foi um dos piores dias da minha vida. Eu apaguei da memória o que eu senti e há poucos anos eu vi o documentário sobre ele. Voltou tudo aquilo na minha mente e eu chorei tudo de novo.
Logo depois o Corinthians perderia de novo para o Palmeiras o Campeonato Paulista, ficando atrás inclusive do SPFC.
O ano começava muito mal.
Veio então a Copa do Mundo e eu assisti até jogo da Nigéria. Vi todos os jogos daquela copa e não lembro de ter pulado tão alto na minha vida, como pulei quando o Baggio chutou o pênalti pra cima.
Eu corri pra rua em frenesi. Subi na caçamba de um caminhão e fui parar bem longe da minha casa. Sem dinheiro, sem documento, sem nada. Cheguei só no outro dia pra levar uns tapas da minha mãe. Eu nunca tinha feito nada parecido.
O Brasil vivia um dos seus piores momentos. Muita gente passando fome. Nenhuma esperança e seu maior ídolo morto dois meses antes.
A comemoração do tetra foi algo assustador. Todos estavam na rua pulando, gritando, chorando. Quando eu digo todos, eu estou dizendo todos literalmente. O caminhão que eu estava teve que parar pois não tinha por onde passar na Avenida Interlagos. Eu segui a pé até próximo ao Parque do Ibirapuera. As avenidas estavam fechadas pelas pessoas, a pé, comemorando.
Acabou a Copa do Mundo, começou a primeira e única Copa Bandeirantes em SP.
Em um Corinthians x SPFC eu vi na TV um Rogério Ceni muito jovem levar um gol olímpico de trivela do Marcelinho Carioca. O último gol olímpico que eu tinha visto tinha sido do Neto.
https://youtube.com/watch?v=38bmJ_KmVWU 
1994 Copa Bandeirantes Corinthians 2x0 São Paulo - YouTube 1994 Copa Bandeirantes Corinthians 2x0 São Paulo - inicio da caminhada pro titulo da copa do Brasil de 95 youtube.com
Logo depois, o Corinthians fez a final contra o Santos e meteu logo 6x3 no primeiro jogo.
https://youtube.com/watch?v=wJWeTXfxXi4 
Corinthians 6 x 3 Santos - 1994 - YouTube youtube.com
Eu sempre pedia para o meu pai me levar no estádio, mas ele nunca quis. Eu então decidi que era hora de ir no estádio pela primeira vez. Juntei o dinheiro e fui com a cara e com a coragem, sozinho, ver o segundo jogo da final.
Eu não sabia como chegar no Morumbi. Desci do ônibus na Av. Santo Amaro quando vi um monte de gavião. Perguntei se podia ir com eles para o estádio. Eles deixaram é claro. Andei de lá até o Cicero Pompeu de Toledo. Na volta fiz o mesmo, pois não fazia ideia qual ônibus pegava pra voltar até Santo Amaro.
Eu vi ao vivo o Gralak dar essa patada do meio da rua.
https://youtube.com/watch?v=QlBddolps7I 
Corinthians 1 x 1 Santos - 11 / 08 / 1994 ( Final da Copa Bandeirantes ) - YouTube youtube.com
A única edição da Copa Bandeirantes classificou o Corinthians pra Copa do Brasil de 1995, onde fomos campeões.
Logo depois, nós perdemos o Rivaldo e o Valber para o Palmeiras/Parmalat no Brasileirão. Perdemos a primeira final por 3x1 com dois gols do Rivaldo e empatamos a segunda por 1x1.
E sim, em 1994 veio pra cá, aquele que é considerado por muitos o maior jogador da história do Corinthians. Eu ainda acho que ele está atrás do Rivellino, do Neco e do Cláudio Gerente. E acho o Neto tão grande quanto ele, mas sou suspeito pra falar do Neto. Mas aceito essa alcunha que o Marcelinho conquistou de forma magistral. O pé de anjo assombrava os rivais e só não teve espaço na seleção por conta do seu temperamento e por ter a fama de ser ruim de grupo. O Rincón que o diga.
Um pouco antes dessas finais do Brasileirão, eu me despedia do Colégio União Brasileira, lugar onde eu passei os melhores dias da minha vida. Eu não fazia ideia, de maneira consciente, da falta que eu sentiria de lá. No último dia eu chorei demais. O povo da minha sala até estranhou o tanto que eu chorei. Acho que de maneira inconsciente eu sabia que a partir daquele dia, eu estava me tornando um homem.
Nada foi como antes desde então. Tudo passou muito rápido. Nada mais teve tanta graça. Tudo foi muito difícil e hoje carrego as chagas e cicatrizes desses 25 anos que se passaram.
1994 foi o último ano, antes do resto da minha vida.
