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Coluna da Beatriz Maineti
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É difícil dar adeus

Fagner está no Corinthians desde 2014 e nunca teve um reserva que o ameaçasse

Rodrigo Coca/Agência Corinthians

O Corinthians não saber se despedir

Opinião de Beatriz Maineti

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A reformulação do Corinthians era um grande sonho - não só para a torcida, que viu o time fazer um péssimo 2023, mas também para a nova diretoria, comandada por Augusto Melo. Durante o período de campanha, Melo disse a plenos pulmões que mudaria tudo o que fosse possível e que iria impor ali o “maior choque de gestão de todos os tempos”. Aos ouvidos do público, a promessa soou como uma música harmoniosa; a realidade, porém, é um show de boteco com um violão sem corda.

Augusto fez muitas promessas antes e depois de ser eleito. Em determinado momento, chegou a dizer que traria 12 reforços para o time do Corinthians, pensando em titulares e reservas. Na vida real, porém, o buraco se mostrou muito mais embaixo. Com pouco poder aquisitivo e com o nome sujo na praça, toda e qualquer negociação para o presidente se tornou uma batalha. Os clubes pediam adiantamentos, garantias em parcelamento e alguns nem quiseram negociar.

Isso, porém, não foi analisado por ele com calma. Entre vendas, perdas e dispensas, Augusto tirou seis jogadores do time titular, e só conseguiu trazer quatro peças para os 11 iniciais. Fora estes, suas contratações buscavam compor elenco, o que também era parte do projeto. A verdade, porém, é que o projeto precisava ter sido feito de forma mais inteligente.

O maior problema neste caso é que, infelizmente, não dependia só do novo presidente. Para conseguir reformular como queria, Augusto precisava ter contado com a colaboração das gestões anteriores, que não fizeram seu papel direito. Com negociações confusas, nomes duvidosos, trocas de técnico a torto e a direito e um departamento de futebol defasado, a Renovação & Transparência entregou um Corinthians sem saída, e Augusto ainda não encontrou o caminho das pedras amarelas.

Montar um elenco de um ano para o outro é difícil. Montar um elenco de um ano para o outro com pouco dinheiro, é ainda pior. E montar um elenco para o Corinthians de um ano para o outro e com pouco dinheiro, beira o impossível. É verdade que Augusto deveria ter pensado melhor antes de assinar tantas dispensas como fez em dezembro de 2023, mas é verdade, também, que o legado que recebeu chega a ser vergonhoso.

A eleição presidencial do Corinthians aconteceu em 25 de outubro de 2023. Na época, o time disputava apenas o Campeonato Brasileiro e brigava contra o rebaixamento. Disso todo mundo sabe. Mas tem um fato que, a olho nu, pode escapar os mais distraídos: quando Augusto Melo recebeu a notícia que seria o novo presidente do Timão depois de ter derrotado seu adversário, o Corinthians tinha acabado de sofrer uma goleada por 5 a 1 para o Bahia, dentro de casa, com basicamente a mesma linha defensiva que era utilizada em 2014: Cássio; Fagner, Gil, Lucas Veríssimo e Fábio Santos. A única mudança era Veríssimo.

Passados dez anos entre uma data e outra, todos os jogadores citados já sentiam o peso da idade. Com a exceção de Cássio, porém, nenhum deles tinha um reserva a altura. Quando chegaram ao Corinthians, o time já era comandado pelo mesmo grupo político que ocupou as salas da diretoria até ano passado, e dois deles (Gil e Fábio Santos) foram contratados e recontratados justamente por estes cartolas. Em momento algum, porém, houve o entendimento de que o elenco precisava de mais e de que era preciso ficar atento ao mercado.

E assim seguiu: entre chegadas e saídas de reservas, técnicos e companheiros, alguns nomes seguiram ali, absolutos. Hoje, porém, a carga fica mais pesada para quem comanda o time. Gil e Fábio Santos deixaram novamente a equipe: o primeiro não teve seu contrato renovado, e o segundo pendurou as chuteiras. Fagner, porém, bateu os 34 anos e nunca viu sua titularidade ameaçada. Agora precisa escolher o setor do campo em que irá atuar, pois seu físico não lhe oferece mais a agilidade que ele um dia teve. Cássio, ídolo inabalável e líder de elenco, sofre com críticas pela baixa impulsão em bolas altas e já sente o cansaço dos 36 anos, sendo a maior parte deles dedicados ao ofício de goleiro.

O Corinthians, desde 2012, não se prepara para substituir seus jogadores, seja por saídas eventuais, aposentadorias ou até porque, de vez em quando, a gente precisa saber quando é hora de desacelerar. E hoje, com uma necessidade aguda de reformulação, o clube não tem a opção de buscar reservas para a maior parte das suas posições; precisa de titulares. Um jogador titular em boa idade e condição física custa caro, e o clube hoje não tem dinheiro para ir ao mercado com tanta força.

Como reformular um elenco que nunca teve reserva para um lateral de 34 anos? Como dizer a um ídolo que é hora de começar a preparar o próximo para assumir o seu lugar?

Se despedir é algo difícil; ninguém realmente está pronto para admitir que ciclos se encerraram. Neste caso, falar é infinitamente mais fácil do que fazer. Mas para que haja uma reformulação é verdade, é por estes casos que devemos começar: é preciso entender que nem tudo dura para sempre, e a ruptura não precisa ser abrupta, feita de um dia para o outro. Ela pode ser gradual e respeitosa, levando adiante o legado deixado por um jogador tão amado pelo clube.

O torcedor que ama e idolatra não quer perder a admiração que sente pelo jogador. Afinal, como uma vez disse o Doutor, “o Corinthians é uma religião, é uma grande nação, mas muito mais do que isso, o Corinthians é uma voz, o Corinthians é uma força, é uma forma de expressão que a sua população tem”, e os jogadores dentro de campo tem papel fundamental em honrar essa representação de amor.

Por isso, é preciso saber deixar ir e aceitar quando chega o momento. Mas, no fim das contas, será que nós estamos preparados para dizer “adeus”? No fim, será que nós, torcedores, realmente sabemos nos despedir?

Veja mais em: Fagner , Augusto Melo , Duílio Monteiro Alves , Cássio , Fábio Santos e Gil .

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

Por Beatriz Maineti

Apaixonada pelo futebol, mas, antes de tudo, feita de Corinthians. O mundo em preto e branco é mais bonito.

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  • Comentários mais curtidos

    Teix
    Teix

    Uma análise feita como se tivesse um ano de gestão.
    Como se nenhuma promessa feita até então tivesse sido e ainda pudesse ser cumprida.
    Como se com 40 dias houvesse tempo de fazer tudo; sem dinheiro.

    Não dá para se despedir de jogadores que ainda têm contrato, justamente, por não termos dinheiro para repor.

    Nos desfizemos de todos que estavam em fim de contrato, porque era o que tinha de ser feito, e é claro que sem dinheiro vai ser difícil repor com jogadores no mesmo nível e tão rápido.

    Estamos prontos para nos despedir desses jogadores (Cássio, Fagner, principalmente) mas não estamos em condições. Então resta a torcer para o técnico colocá-los no banco para contribuírem somente quando necessário.

  • Adhemar
    Adhemar Ferreira #2.154

    Misturou tudo. O jogador é o primeiro que percebe que seu desempenho não é o mesmo, se tiver auto crítica já vai se preparar para enfrentar o que virá: aposentadoria, mudança de posição, ir para desafios menores... O clube tem que sempre se preocupar em manter-se competitivo, porque hoje clube que não tem boa performance, vai sofrer com as finanças, porque a maior parte da receita está vinculada aos avanços nas competições. Quanto a Democracia II, nem pensar, Democracia I só nos deu um Paulista, desestruturou o clube de tal forma que somente fomos nos recuperar 5 anos depois. Festa na Favela é com títulos, não com discurso.

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  • Todos os comentários (119)

    Ronaldo
    Ronaldo Xavier #4.564

    Essa reformulação tinha que acontecer de qualquer jeito não dava mais nem para o jogadores que estavam aqui no Timão já estavam sem vontade isso era nítido então sejao felizes em outro lugar

  • MARCIO M RAMOS
    Marcio Ramos #2.858

    O contrato do Fagner e do Cássio acabam em 31/12. Só não renovar. Agora, nenhum jogador pode ficar tanto tempo assim num clube. Eles passam a se acharem donos. Olhem o exemplo do Ceni e do Marcos. Outros goleiros que afundaram os clubes deles por terem ficado mt tempo num time só.

  • Eduardo
    Eduardo Brito

    Esse negócio de ser time paternalista já era...clubes como Palmeiras e tines europeu que tem gestão profissionalizada não tem esse tipo de postura...sempre alternando o elenco e deixando mais forte a cada temporada visando o preparado físico...sendo um diferencial e vantagem em relação outros times...o Corinthians tem que mudar sua gestão no futebol urgente...

  • PAULO
    Paulo Silva

    Cara temos de ser realista reformular e ganhar título no mesmo ano é muito difícil ainda mais com pouco dinheiro

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