Uma reportagem publicada na edição desta sexta-feira do jornal Folha de S. Paulo denuncia um suposto escândalo financeiro no Corinthians datado dos anos de 2014 e 2015 e envolvendo assim as gestões dos presidentes Mário Gobbi e Roberto de Andrade. Teriam sido "maquiados" R$ 328 milhões nas contas do clube.
O jornal teve acesso a uma carta enviada nos últimos dias por Emerson Piovezan, atual diretor financeiro do Corinthians, ao Conselho Deliberativo do clube. Em tal documento, o dirigente afirma que o balanço patrimonial de 2014, apresentado em 2015, foi adulterado: o superavit de R$ 230,6 milhões alegado pela gestão de Mário Gobbi e apresentado e aprovado pela gestão de Roberto de Andrade era na realidade um deficit de R$ 97 milhões.
Na tal carta, Piovezan utiliza o termo "maquiado" e justifica dizendo se tratar de uma forma coloquial, mas reafirma que a diferença de R$ 328 milhões "distorceu a análise realizada pelos leitores do balanço, notadamente pelo egrégio conselho". Raul Corrêa da Silva, antecessor de Piovezan no Corinthians e assim responsável pelas finanças em 2014, nega qualquer irregularidade (veja mais abaixo).
A justificativa do rombo de R$ 328 milhões estaria ligada à inclusão das cotas da Arena Corinthians como receita direta. "O procedimento correto -conforme determina a legislação contábil- é efetuar o registro desses valores diretamente em conta de patrimônio líquido", explica Piovezan na carta.
Pressão sobre Roberto de Andrade
Passada a "parte um" do pesadelo de impeachment , Roberto de Andrade se vê agora pressionado no que diz respeito justamente às prestações de contas do Corinthians. Foi por conta desse cenário, inclusive, que Piovezan escreveu o documento ao Conselho Deliberativo, numa tentativa de justificar a demora da atual gestão em apresentar as contas de 2016 e colocar em votação a previsão orçamentária de 2017 - reuniões datadas dos últimos meses de dezembro e janeiro adiaram as definições.
Fato é que a tal "maquiagem" de R$ 328 milhões pode se voltar contra a gestão de Roberto de Andrade. Um dos líderes da oposição no Conselho, Romeu Tuma Júnior afirmou à Folha que "'isso (carta de Piovezan) mostra que o Piovezan e o presidente Roberto de Andrade sabiam o que havia acontecido e nada fizeram".
Vale lembrar que, no caso de reprovação das contas, o presidente do Corinthians corre o risco, de acordo com o estatuto de clube, de ser destituído por improbidade administrativa. Nesse caso, um novo pedido de impeachment deverá ser protocolado.
Negação e silêncio
A única pessoa envolvida no rombo de R$ 328 milhões do balanço patrimonial de 2014 que se manifestou até o momento da publicação da reportagem da Folha foi o ex-diretor de finanças do Corinthians Raul Corrêa da Silva. Ele negou qualquer erro, mas evitou dar maiores explicações por ora:
"Ele (Piovezan) escreveu uma carta ao conselho deliberativo. Eu vou me defender também por carta ao conselho deliberativo. Posso dizer que discordo 100% de tudo o que ele escreveu e vou esclarecer isso no momento apropriado", disparou.
Emerson Piovezan, Roberto de Andrade e Mário Gobbi ainda não foram localizados e/ou não quiseram se pronunciar a respeito da denúncia.