Romero, Rodrygo e as duas medidas
Opinião de Andrew Sousa
16 mil visualizações 200 comentários Comunicar erro
Março de 2018. Deixando o campo após empate por 1 a 1 contra o Santos, o paraguaio Ángel Romero deu uma de suas raras entrevistas com a camisa do Corinthians. Tendo sofrido uma entrada violenta no fim, o camisa 11 alvinegro não perdeu a chance de provocar o time rival, que deixou o campo satisfeito com o empate.
"O cara me deu uma porrada, mas está tudo bem, é parte do jogo. Olha como estão comemorando. Isso é coisa de time pequeno", afirmou.
Abril de 2019. Com vantagem construída na primeira partida, o Corinthians garantiu a classificação à final do Paulistão após bater o Santos nos pênaltis - no tempo normal, derrota corinthiana por 1 a 0. Dias depois da eliminação, o badalado Rodrygo, do Santos e já negociado com o Real Madrid, falou com a imprensa.
"Ficamos tristes com a eliminação, ainda mais da forma que foi. Parecia jogo de time grande contra time muito pequeno", pontuou.
Nessa altura, o nosso leitor já deve ter entendido onde esse texto quer chegar.
Voltando a 2018, não é difícil lembrar como foi a reação geral à declaração do paraguaio. Das torcidas adversárias (não só do Santos) à imprensa, o discurso foi o mesmo: "Romero não pode dizer isso"; "Será que ele não conhece a história do Santos?".
Na época, sobrou até para a nacionalidade do atacante. Em um programa da Rádio Energia 97FM, um comentarista chegou a dizer que Romero não sabe o que é grandeza porque veio de "uma aldeia indígena que movimenta sua economia por meio do tráfico de drogas". A frase motivou desabafo do camisa 11, que ganhou apoio do compatriota Balbuena.
Agora, em 2019, a fala da jovem promessa brasileira passou batida no debate da grande mídia ou nas mesas de bar que, um ano atrás, tinham uma série de amantes do esporte "conscientes" defendendo a grandeza do "clube que teve Pelé e tantos outros". O que acontece, inclusive, é justamente o contrário. Alguns jornalistas e torcedores usaram o jargão "jogar como time pequeno" sem qualquer preocupação com história, conquistas, ídolos ou torcida do Corinthians.
Isso tudo, então, pode servir para duas coisas: comprovar a xenofobia relatada por Romero e ironizada por muita gente ou mostrar o quanto tudo que é Corinthians ganha maior repercussão - desnecessária muitas vezes. Ninguém achou interessante "defender" o clube alvinegro da ofensa de Rodrygo. Por quê?
Nós, torcedores, entendemos um pouco da resposta - e nem é preciso escrever.
Vale cobrar, no entanto, o motivo da postura ser tão diferente quando o "polêmico" ocorrido se inverte.
Afinal, o problema de Romero foi ser paraguaio ou vestir a camisa do Corinthians? Onde estão as críticas para Rodrygo? A hipocrisia pode tardar, mas uma hora aparece.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
Avalie esta coluna
Veja mais posts do Andrew Sousa