A linha tênue entre 'saber sofrer' e ser refém do sofrimento
Opinião de Andrew Sousa
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Há alguns anos, a solidez defensiva do Corinthians chama atenção. Com um sistema bem definido, virou rotina ouvirmos que a equipe alvinegra "sabe sofrer" durante as partidas. A afirmação de fato faz sentido, mas não pode virar regra. Há uma linha muito tênue entre usar dessa qualidade para o bem e para o mal.
Neste domingo, na Arena Independência, o que vimos foi um Corinthians praticamente estéril no setor ofensivo. Novamente sem centroavante, o Timão teve seus dez jogadores atrás da linha da bola em grande parte da partida vencida pelo Atlético Mineiro, por 1 a 0. O desgaste físico era visível, mas aqui não vamos entrar no fator "devia ter poupado ou não?".
Certo é que Carille parecia satisfeito com a postura de seus comandados. Em poucos momentos, segundo a equipe de transmissão, passou alguma instrução diferente. Não pediu para avançar a marcação ou povoar melhor o meio de campo.
Sem um atacante de área, a zaga do Atlético Mineiro aproveitou da liberdade para avançar e auxiliar na saída, sufocando o Corinthians. O resultado foram 45 minutos sem finalizações por parte do Timão.
Na volta do intervalo, a torcida já esperava mudanças. Com a entrada de Sheik, o treinador até tentou enfiar o camisa 47 para incomodar a defesa, abrindo Vital pelo lado esquerdo. A entrada de Emerson, no entanto, deu ainda mais liberdade para outro setor do adversário: o meio campo. Trocou uma peça, mas não a estratégia. E aí a pressão se manteve.
Enquanto os donos da casa aceleravam o ritmo, o Corinthians se mantinha atrás, "sofrendo" e esperando um contra-ataque - que raramente apareceu. A última substituição de Carille parecia mesmo ser a saída do exausto Rodriguinho. Mas colocar Marquinhos Gabriel manteve o time longe do gol e sem criar chances - talvez coubesse a estreia de Roger, para chamar a equipe um pouco mais para cima.
A entrada de um centroavante ajudaria até na parte física da equipe, visivelmente aquém do ideal. Atuando um pouco mais avançado, o time não precisaria percorrer tantos metros quando roubava a bola. Conversando com quem joga bola, é quase unânime que correr atrás do adversário cansa mais do que propor o jogo.
A estratégia não deu certo, o Corinthians pouco criou e saiu de Minas com o revés. É claro que o resultado não é o fim do mundo, não vamos ganhar todas as partidas. O ponto a se observar é que nem sempre podemos nos apoiar única e exclusivamente na capacidade de suportar a pressão adversária e contra-atacar. Neste domingo, não "soubemos sofrer", fomos reféns do sofrimento.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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