Luan deve mesmo sair do time?
Opinião de Jorge Freitas
2.8 mil visualizações 79 comentários Comunicar erro
No futebol, nem tudo que parece realmente é.
Se um time não está bem balanceado ou não tem um bom ajuste, um jogador pode ser crucificado por não conseguir fazer corretamente a função que dele é esperado.
Neste período pós-pandemia, a atenção está toda voltada para nossa camisa 7, Luan. Melhor jogador das Américas em 2017 e com um técnica invejável, que foi demonstrada com a criação dos dois grandes lances de perigo do Corinthians no jogo contra o Palmeiras, o jogador tem sido criticado pela torcida pela falta de vontade e também por não aparecer tanto no jogo.
Curioso é que mesmo em seus tempos áureos de Grêmio, Luan jamais se destacou pela vontade, por dividir as bolas ou por ser um jogador ágil. Sua qualidade sempre foi o bom toque de bola e finalização, que continuam bons e que foram comprovados com suas finalizações e passes nos últimos jogos
Enquanto Luan é visado por toda torcida e, para usar um termo da moda, "cancelado", jogadores como Ramiro e Mateus Vital seguem com suas posições cativas, com a desculpa ridícula de que são fundamentais para o esquema do treinador.
Ora, aqui então chegamos num impasse. Queremos ter um time que jogue para frente, bonito e que vença ou um time trancado, defensivo e que sacrifique seus jogadores mais cerebrais em nome da marcação?
É exatamente isso que tem acontecido no Corinthians.
Luan joga sozinho do meio para frente. Quando toca para Ramiro, a jogada não evolui, pois o ponta não possui habilidade para dar um drible ou fazer a bola chegar em condições a Jô. Quando toca para Vital ou para Jô, não há continuação de jogada por falta de aproximação de outros jogadores que ajudem a concluir a jogada.
Pouca gente se lembra, mas em 2014, Renato Augusto foi banco por um longo período com Mano Menezes. Conseguiu se encaixar com Tite, que colocou jogadores habilidosos que o ajudaram a se tornar o principal jogador do Brasil na temporada do ano seguinte.
Sim, Tite deu ao meia condições de apresentar um bom futebol ao colocá-lo ao lado de craques como Elias, Jadson e Malcon.
Mas e Luan, joga ao lado de quem?
O meia tem sido engolido pelo esquema e por companheiros que não favorecem a sua participação em campo.
Sinceramente, demonstra muita falta de conhecimento aqueles que pedem que Luan dê um carrinho ou dispute uma bola dividida, pois o meia jamais foi esse tipo de jogador, mesmo em seus tempos áureos.
Mas no Corinthians tem que dar carrinho.
Aqui chegamos a outro impasse, pois se isso é uma obrigatoriedade, bastaria uma análise superficial para saber que o jogador jamais deveria ter sido contratado.
Luan joga e deixa jogar.
No Grêmio, dividiu seus melhores dias com jogadores como Arthur e Everton Cebolinha. Também havia Fernandinho que jogava melhor que os atuais pontas do Corinthians. Mesmo com Ramiro ao seu lado, fez parte de um esquema montado por Renato Gaúcho para valorizar seu bom futebol, de troca de passes, que o permitia chegar à área e balanças as redes.
Até mesmo Cícero fazia a bola girar e tirava o peso exclusivo do jogador.
No Corinthians, Luan precisa se virar para receber e produzir. Quando deixa o companheiro na cara do gol, não há qualidade para uma boa finalização.
Aqui, Luan não tem com quem tabelar, pois não há um esquema montado pela posse de bola, mas sim para retrancar e sair no contra-ataque.
Não é culpa dele.
O "corpo do Corinthians" tem problema nas pontas, mas o peso está fazendo que Luan sinta toda a pressão, como um coluna vertebral.
Estamos cansados de ver bons jogadores serem massacrados pelas torcidas no Brasil por não se encaixarem a um estilo de jogo extremamente reativo.
Casemiro, o melhor volante do mundo na atualidade, foi tratado como imprestável por aqui por não ter encontrado um treinador que soubesse usá-lo de acordo com seu melhor potencial. Quando chegou à Europa, nas mãos de um mestre e com time equilibrado, decolou.
Luan, melhor jogador do Brasil nas Olimpíadas de 2016 num time que jogava para frente, é a mais nova vítima. Na falta de criação, preferem matar o cérebro do elenco do que alterar a forma de jogar.
Enfim, prefere-se hoje montar um esquema em que o jogador fundamental seja o limitado Ramiro, não o craque Luan.
Por essas e outras que o Brasil deixou de ser o país do futebol faz tempo.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
Avalie esta coluna
Veja mais posts do Jorge Freitas
- Corinthians vive recorte ruim na Neo Química Arena; veja números recentes
- Virtualmente eliminado, Corinthians terá pré-temporada de verdade em março
- Incomum até para gestões passadas, contrato de Mano Menezes é mais um absurdo assinado por Duílio
- Com R&T desde 2018, Corinthians somou menos pontos que rivais paulistas e Flamengo no Brasileirão
- Tite no Corinthians: a estratégia de quem não sabe o que fazer
- A triste derradeira função de um dos treinadores mais vitoriosos do futebol brasileiro