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A noite mais inesquecível da minha carreira
Marco Bello

Setorista do Corinthians desde 2009 pela Rádio Transamérica, Marco Bello acompanha o dia a dia do clube

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A noite mais inesquecível da minha carreira

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Opinião de Marco Bello

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A noite mais inesquecível da minha carreira

Tite assiste ao jogo e comanda o time das arquibancadas

Foto: Reprodução / Internet

Há exatos 8 anos, no dia 23 de maio de 2012, aconteceu algo mágico naquele Pacaembu. Não foi um jogo, não foi apenas uma partida de futebol.

Foi como se o estádio jogasse bola. Se as arquibancadas chutassem a gol. Se cada pedaço de cimento e concreto vestisse a camisa do Corinthians.

Aquele Corinthians 1 X0 Vasco foi diferente de tudo que já vi e vivi.

Vou, como diz o poeta, começar do começo.

Nos jogos de Libertadores da América, os repórteres de rádio não podem ficar dentro do campo de jogo. Por isso, em cada estádio ficamos em um lugar diferente. Naquela Libertadores, lembro que na maioria dos jogos nos acomodaram em algum lugar reservado nas arquibancadas, longe da torcida.

Por incrível que pareça, nos dois estádios em que eu mais temia, foram as duas melhores acomodações que nos deram. São Januário e La Bombonera. Nos dois estádios, reservaram cabines muito confortáveis para nós.

Eu digo nós, porque naquela Libertadores havia os repórteres que sempre viajavam com o clube, que acompanhavam quase todos os jogos. No meu caso, fui a todos. 14 jogos inesquecíveis.

Flavio Ortega (Rádio ESPN) e Gustavo Zupak (Rádio Globo) foram os companheiros mais assíduos nesta jornada.

As duas piores acomodações foram na Vila Belmiro e no estádio do Emelec, em Quito. Nos dois estádios, nos colocaram no meio da torcida adversária, literalmente. No Equador, foram copos e copos de urina jogados na cabeça o jogo todo. Na Vila, por incrível que pareça, nos trataram razoavelmente bem, com uma ou outra ameaça que não se concretizou.

Dito isto, voltemos ao Pacaembu. O estádio estava lotado, não havia possibilidade de acomodação em lugar algum. A Conmebol, desculpem a expressão, ‘cagava’ para os repórteres de rádio. “Se virem”, diziam eles. Pedimos ajuda para a Aceesp, a Associação dos Cronistas de SP, mas tampouco nos ajudaram.

Resultado, trabalhamos naquele jogo, eu, Ortega e Zupak, em pé, no alambrado, exatamente atrás do banco de reservas do Corinthians.

Imaginem como era para dar os detalhes dos lances, com torcedores pulando, passando na frente, empurrando, gritando, puxando a camisa, tentando falar nos nossos microfones... hoje dou risada, mas naquela noite foi terrível.

Enfim, tudo estava tenso, como disse acima, o estádio jogando junto com o time, jogo duro, na ida tinha sido aquele 0 a 0 estranho, era uma sensação de que quem fizesse o primeiro gol ganharia.

A expulsão de Tite deixou tudo ainda mais trágico naquela noite. Mas também colaborou para o teatro do absurdo que foi aquele jogo.

O técnico saiu do campo, ao lado do gerente Edu Gaspar, e se acomodou na arquibancada, exatamente atrás de onde estávamos. Não sabia naquele momento se prestava atenção ao jogo ou às reações do treinador, que estava há 5 passos de mim.

Foi quando percebi uma estranha conversa entre os torcedores que estavam ao meu lado. “Fala pro Alex ir mais por lá”. “Diz pro Paulinho voltar mais”. “Chega mais perto do Diego Souza”...

Uma conversa estranha para os torcedores. Estranha até eu ver o que estava acontecendo. O técnico Tite estava passando instruções para o auxiliar no banco de reservas através da torcida. Algo surreal. Ele falava com um torcedor na arquibancada, que ia até o alambrado, vinha algum funcionário do Corinthians do banco, ouvia a instrução e passava para o auxiliar falar para os jogadores. Tudo acontecendo ali do meu lado.

Tite também chegou a descer até o meu lado para passar diretamente instruções ao Willian e ao Liedson, que entrariam no segundo tempo, exatamente através do alambrado onde eu estava.

Aí vieram os dois principais lances da partida, que não sairão nunca da memória do torcedor, nem da minha. A defesa de Cássio no chute de Diego Souza, comemorada como um verdadeiro gol, e aos 42 minutos o gol de Paulinho. Redentor, salvador, o gol da vitória, o gol da classificação.

Já seria especial se a história terminasse aí. Mas não.

O jogador veio até o alambrado, novamente ao lado de onde eu estava, cerca de 3 metros, e um torcedor que assistiu todo o jogo ao meu lado, gritando, pulando, xingando, subiu no mesmo alambrado e abraçou o jogador. Aquela cena mágica aconteceu do meu lado.

Se meus olhos fossem uma máquina fotográfica, aquele jogo me daria um livro ganhador do Pulitzer, um livro tão irreal que eu teria que provar para as pessoas que aquilo tinha realmente acontecido do meu lado.

Inesquecível. 23 de maio de 2012. Saudades.

Veja mais em: Libertadores da América e Tite.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Por Marco Bello

Marco Bello é jornalista, apresentador e repórter da Rede Transamérica de Rádio, setorista do Corinthians desde 2009

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