O “Match Point” da história recente do Corinthians
Opinião de Rodrigo Vessoni
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A imagem que ilustra minha coluna é reprodução de uma das cenas iniciais de “Match Point”, filme de Woody Allen (2005). A imagem é mostrada durante uma das falas do instrutor de tênis Chris Wilton (Jonathan Rhys Meyers), que diz "...Há momentos em um jogo em que a bola bate na parte superior da rede e, por uma fracção de segundos, pode ir pra frente ou cair pra trás. Com um pouco de sorte, ela vai pra frente e você ganha. Ou talvez não vá, e você perde". Woody Allen utilizou o lance do tênis em “Match Point” como metáfora da vida.
Eu decidi usar essa mesma imagem para mostrar que a situação financeira do Corinthians também teve seu “Match Point”, o momento de definição do caminho financeiro a ser seguido pelo clube. Esse “Match Point” se passa em dezembro de 2012.
O Corinthians acabara de ser bicampeão do mundo no Japão. No jantar de comemoração do título no hotel em Yokohama, a diretoria informou aos membros da comissão técnica e convidados que Pato, Renato Augusto e Gil estavam contratados. O investimento: cerca de R$ 70 milhões apenas em direitos econômicos. Fora luvas e salários.
O aviso ali estava claro: o clube chegou ao topo do mundo e quer voltar, iniciando já ali a caminhada pelo bicampeonato da Libertadores.
Ali foi o “match point” das finanças do Corinthians...
Mário Gobbi & Cia. tinham dois caminhos a seguir:
- Iniciar um novo ciclo, com a saída de todos os atletas multicampeões ao término de contrato de cada um. Além, é claro, da contratação de jovens para reconstrução do time, por valores baixos, aproveitando que a torcida estava paciente e feliz. Seria a iniciação de uma nova escalada até o cume da montanha;
- Gastar mais dinheiro, manter os campeões do mundo, reforçar o time, qualificar o banco de reservas e partir para um domínio total do Brasil e da América do Sul.
A opção escolhida foi a segunda. Além de contratar os reforços acima, a diretoria renovou alguns contratos com aumento substancial, deu aumento para outros mesmo sem renovar o contrato e, de quebra, ainda renegou ofertas, como as italianas recebidas por Ralf e Paulinho. Isso sem falar na compra de parte dos direitos desses jogadores que não saíram. Tudo pelo bi da América.
O audacioso plano não deu certo. Um sinalizador de navio, aceso na arquibancada de um estádio boliviano, acabou com tudo. Mas esse não é ponto.
Eu não estou criticando a decisão de Gobbi, que isso fique claro. Eu, no lugar dele, empolgado, satisfeito com a realidade financeira daquele momento, provavelmente teria feito o mesmo. Na intenção de ver o Corinthians cada vez mais vencedor.
Mas ali foi o “match point” das finanças do Corinthians...
Isso fica claro quando se pega o déficit/superávit do clube. O Meu Timão fez o levantamento. Veja aqui. Mas reproduzido novamente nesta coluna:
Esqueçam 2016, que teve quase 150 milhões de reais de venda de jogadores (maioria para China). Foi um mundo à parte. Se atente aos outros anos.
Em 2011 e 2012, positivo; Em 2013, praticamente, zerado. Dali em diante, a conta chegou.... com cinco dos seis anos no vermelho. Isso não é coincidência.
Claro que aquelas contratações, aqueles aumentos de salário e aquelas renovações de contrato NÃO são as únicas culpadas pela atual situação. Não quero dizer isso. Até porque muita bobagem foi feita na sequência, em várias outras decisões, com outros presidentes. A questão não é essa.
Eu apenas quero relembrar um momento importante da história recente do Corinthians, que pouca gente sabe (ou se lembra).
Andrés é, sim, um dos confeiteiros desse enorme bolo. Mas esse bolo também teve a participação de outros confeiteiros durante sua preparação. Afinal, a dívida total em 2011 era de R$ 178 milhões. Em 31 de dezembro de 2019, R$ 765 milhões. Tudo dentro da mesma década. Com três presidentes diferentes no período.
Diante da atuação situação do clube, o que eu quero saber é o seguinte:
Quando será iniciado o novo “match point” das finanças do Corinthians? Quando o clube escolherá um novo caminho para equacionar seus problemas de dinheiro?
É isso que eu e todos os torcedores queremos saber...
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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