Tevez jogou mais bola e teve mais identificação com o Corinthians do que Guerrero
Opinião de Tomás Rosolino
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Olá, amigos. Venho tocando um projeto paralelo aqui no Meu Timão e tenho aparecido pouco para escrever, mas vou aproveitar essa coluna para matar um pouco dessa saudade. Escrevo esse post motivado por um comentário do meu amigo Marco Bello, que considera Guerrero mais ídolo do que Tevez no Corinthians.
Como acho a concepção de mais "ídolo" muito pessoal e totalmente ligada a experiências individuais, ou seja, impossível de definir com precisão, vou explicar o que considero factual: Tevez jogou mais futebol e teve mais identificação com o Corinthians do que o peruano.
Antes que você comece a pensar e reclamar (se já o fez, calma): os dois saíram pelas portas dos fundos, com a imagem arranhada e uma relação que se desgastou bastante nos meses que antecederam a saída. Mesmo Tevez indo para fora do Brasil enquanto Guerrero foi para o Flamengo, acho que ambos se equivalem nesse sentido.
Para começar, os números: Tevez fez 46 gols em 78 partidas disputadas enquanto Guerrero anotou 54 em 130 duelos. Além de segundo atacante, enquanto o atleta hoje no Internacional era centroavante, Carlitos atuou em uma equipe muito inferior tecnicamente a todas que Guerrero teve ao seu dispor.
Um "mito" a se quebrar é o de que o Corinthians teve os "galácticos" em 2005. Quem viveu a época lembra, mas não custa nada relembrar quão deturpada é a ideia de que Mascherano, Carlos Alberto, Roger, Nilmar e Tevez atuaram juntos e formaram um grande time.
- Mascherano atuou em apenas sete jogos dos 48 daquela campanha. Chegou na metade do primeiro turno e machucou-se pouco depois, com uma fissura por stress. Voltou só em 2016
- Nilmar chegou com o segundo turno já começado. Ele estrou no jogo anulado contra o São Paulo, derrota por 3 a 2 no Morumbi.
- Carlos Alberto e Roger foram titulares juntos em apenas dois jogos daquele Brasileiro. No esquema de Márcio Bittencourt e Antonio Lopes, só um armador tinha espaço. Roger teve por um grande tempo e machucou-se há cerca de 15 jogos do fim. Carlos Alberto assumiu a titularidade e fechou bem o torneio.
- Sem as estrelas, o Corinthians era basicamente um amontoado de garotos, a maioria consolidada por Tite no ano anterior (Coelho, Betão, Bruno Octávio, Rosinei, Dinélson, Jô...) liderados por Tevez ao título.
Imprescindível naquela conquista, Tevez tem nessa cruzada heroica algo que Guerrero nunca teve nos três anos em que passou no Corinthians. O peruano, dono de excelente atuação contra o Chelsea, chegou em uma equipe já campeã continental somente porque Liedson, grande nome no Brasileiro de 2011, já não conseguia mais lidar com uma lesão no joelho e caiu drasticamente de produção.
Além do gol no Mundial, Guerrero teve boas participações, mas nunca foi imprescindível para o Corinthians. No seu melhor ano, a equipe ficou em quarto lugar no Brasileiro (2014). Em 2015, quando ainda parecia ser o melhor do time, deixou o Timão e, enquanto buscava se acertar no Flamengo, viu o Alvinegro ser campeão brasileiro com o futebol mais bonito da década.
Colocada a parte dentro do campo, vamos para o lado de fora. Tevez também foi maior (diria muito maior, mas vamos manter a calma) no trato com a torcida e no jeito que contagiou toda a cidade de São Paulo.
O paulistano que aqui vivia sabe que o "chapeuzinho do Tevez", uma obra peculiar que o fã de cumbia gostava de utilizar para ir a qualquer evento, poderia ser encontrado a cada esquina em que se procurasse. A cumbia do "Piola Vago", grupo musical formado por seus amigos, ficou famosa, assim como sua dancinha. Foi também o "boom" dos nomes nas camisas, ajudado pelo início de um marketing mais sério no Corinthians.
As camisas com "10" "Carlitos" nas costas lotaram os estádios em níveis absurdos. Vale lembrar que, mesmo aos 21 anos, Tevez já era campeão da Libertadores e presença constante em uma das melhores seleções da Argentina recentes. Fez ainda dupla com Messi em 2006, na Copa, subaproveitada por causa de uma lesão do canhoto.
Guerrero também teve sua idolatria, os tiros disparados com a mão na comemoração e o cabelo um pouco diferente do resto. Mas dividia atenção com vários outros nomes mais históricos do que ele no clube, como Cássio, Alessandro, Chicão, Paulinho, Danilo, Renato Augusto e Jadson. Era grande, mas era mais um entre vários grandes. Tevez era grande em um time que não tem ninguém próximo de si.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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