Diretoria, ajuda a (te) defender
Opinião de Victor Farinelli
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Chegou Mauro Boselli, artilheiro do futebol mexicano, pra resolver o problema da falta de gols, num elenco que já tem Roger, Romero (que ninguém sabe se fica), Clayson, Jonathas, Sérgio Díaz, André Luis e Gustavo Mosquito, além do regressado Gustagol, e sem contar as possíveis chegadas de Luan e Vagner Love – no grupo de WhatsApp em que participo, ao menos o segundo está sendo bastante aguardado, mesmo que seja em nome da zoeira, pra que ele forme com o argentino um ataque que seria chamado “Tango do Amor”.
A prioridade dada ao ataque na hora de buscar reforços é justa. Afinal, a falta de gols foi um problema grave que tivemos em 2018, especialmente no segundo semestre. Mas não pode vir junto com um menosprezo ou omissão a respeito de outras carências do time.
Parece meio surreal falar da zaga como um setor que temos problemas, já que a grande característica do Corinthians desta década, (Mano/Tite/Carille) é a solidez defensiva, alicerce de times que nem sempre fizeram muitos gols, mas que ganhavam com o pouco que se anotava, porque o zero do adversário quase sempre estava garantido.
Em um vídeo recente, onde o Emerson Sheik lembra do título de 2012, ele fala muito bem disso, quando conta que o primeiro gol contra o Boca Juniors, no jogo do Pacaembu, deu a ele e a todos a certeza do título, porque “a gente sabia que os caras lá atrás não iam deixar passar nada”. Porque não deixavam mesmo.
E nem precisamos de grandes contratações pra isso. Foram poucos os reforços que trouxemos pra este setor durante a década, mas eles sempre chegaram na hora certa: Castán, Gil, Balbuena, Pablo, quando foi preciso incorporar gente nova pra manter a eficiência na retaguarda, o clube acertou.
No ano passado, veio o Henrique, um zagueiro experiente, mas veterano, que formou uma boa dupla com o Balbuena, mas que também foi menos efetiva que Balbuena/Pablo em 2017 – que, apesar de alguns vacilos na bola aérea, foi impenetrável em mais de 70% dos jogos. Ainda assim, a zaga de 2018 cresceu nos jogos grandes do primeiro semestre, como nas finais do Paulista, e nos ajudou muito a chegar ao bicampeonato.
Com a partida do sargento pro futebol inglês, o rendimento no setor caiu sensivelmente. Não quero ser dramático aqui, porque tampouco foi um desastre, o time não chegou a ser goleado nem nada, mas antes o zero do adversário era quase uma garantia, e dali em diante passamos a tomar um ou dois gols por jogo. Isso já seria um problema se estivéssemos fazendo gols pra garantir um empate ou uma vitória por 2 a 1 ou 3 a 2, e como não estávamos, esses gols sofridos, mesmo sendo em erros eventuais, muitas vezes significaram derrotas.
Por isso precisamos de ao menos um reforço pra defesa, porque o sistema que nós criamos nestes últimos dez anos depende dessa fortaleza pra voltar a ser bem sucedido. Não basta ser quase perfeito, tem que ser perfeito, e pra isso é preciso de um novo jogador que seja o referente, o líder da marcação, fazer o papel que o Balbuena vinha fazendo desde 2016, e que o Henrique parece conseguiu fazer no ano passado. Quem sabe com a companhia de um Gil, ou outro jogador mais experiente, ele possa voltar a render como nos seus primeiros meses no clube.
Tampouco quero queimar a garotada que vem ganhando espaço. Muito pelo contrário, acho que o Léo Santos é um zagueiro com um baita futuro. Suas poucas falhas até agora foram bem menos espalhafatosas do que as cometidas, por exemplo, pelo Felipe, zagueiro que foi questionadíssimo no clube durante três anos e que acabou saindo como um dos craques e líderes do time em 2015. Também é uma pena que se lembre do Léo mais por esses poucos erros do que por aquela boa que ele salvou em cima da linha contra a Chapecoense, em 2017, lance que foi vital pra conseguir aqueles três pontos em um momento em que o time não vinha bem no ano. Se o Gil viesse mesmo, acho que o Léo disputaria com a outra vaga com o Henrique.
Mas falo do Gil só figurativamente, já que seu retorno já foi descartado. Se é por razões financeiras, tudo bem, pois é correto que o clube tenha disciplina em seus gastos – como não tivemos em anos anteriores, e deu no que deu. Mas isso não deve significar um menosprezo à necessidade de ao menos um bom reforço pro setor defensivo. Tenho a impressão de que falta movimentação do clube pra cuidar dessa necessidade, mas quero crer que é só uma impressão errônea minha, baseada no fato de que, fora Gil (e agora Manoel, do Cruzeiro), não vi nenhum grande esforço ou mesmo uma declaração mais contundente de que o reforço pra posição é tratado como objetivo.
Precisamos de um novo zagueiro com condições de ser titular, até pra fazer com que os nomes que o elenco já possui se sintam estimulados a melhorar e disputar a titularidade. Se contratarmos um jogador com boas habilidades, e se Henrique, Léo Santos, Marllon e Pedro Henrique estão também em sua melhor forma, podemos voltar a ter aquela segurança que tivemos em quase toda esta última década, não importa quem jogue, e sem sobrecarregar nenhum deles. Essa é a ideia.
Claro, seria legal ter também um reforço pra lateral-esquerda, mas entendo a decisão do Carille de dar mais uma oportunidade ao Danilo Avelar, que alternou bons e maus momentos no ano passado. Sem contar que o Carlos Augusto vem pedindo espaço pra ser o novo Guilherme Arana. Na direita sim tivemos boas notícias, com a chegada do Michel Macedo. E na volância: Ralf, Richard, Renê Júnior, Gabriel, Thiaguinho e Douglas, garantia de quantidade e qualidade. Nem vou falar dos goleiros, pois vocês já sabem, estamos mais que sossegados.
Por isso, peço (e sonho) por um pouco mais de esmero da diretoria em trazer esse reforço decente pra nossa zaga, que complete um trabalho que, aí sim, poderá ser considerado irretocável, e que daria aquela tranquilidade que a Fiel se acostumou a ter nos últimos tempos.
Quando o time voltar a defender como sempre, aí diretoria, vai dar pra te defender.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.