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Um dos maiores Corinthians de todos os tempos
Victor Farinelli

Victor Farinelli é um jornalista brasileiro e corinthiano residente no Chile, colabora como correspondente de meios brasileiros como Opera Mundi, Carta Capital, Revista Fórum e Carta Maior.

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Um dos maiores Corinthians de todos os tempos

Coluna do Victor Farinelli

Opinião de Victor Farinelli

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Um dos maiores Corinthians de todos os tempos

Cena de Grazi e Erika foi emocionante neste sábado na Arena Corinthians

Foto: Danilo Fernandes / Meu Timão

Já é madrugada de domingo quando comecei a escrever estas linhas. Passei o dia inteiro pensando naquela belíssima cena da capitã Grazi trazendo a Erika pela mão, para ajudá-la a levantar a taça.

A meia não conseguia conter a emoção, e embora eu não saiba ler lábios pra saber o que as duas conversaram naquele minuto, talvez foi possível sentir o clima. Com o cuidado de não querer roubar a emoção particular da nossa capitã, dá pra dizer que muitos se identificaram com aquelas lágrimas, por diferentes motivos.

O Corinthians é do Brasil, o clube mais brasileiro, e da mesma forma, este título paulista é uma conquista para todas e todos os que admiram o futebol feminino no país. Vou começar pelo argumento mais fácil, que é o recorde de público registrado na partida, de quase 29 mil espectadores. Mas talvez isso seja o menos impressionante – ou talvez eu seja muito otimista, porque sonho com ele sendo superado muito em breve, também em Itaquera, já que mesmo neste sábado poderia ter sido um número ainda maior de espectadores, se não fosse a ação dos cambistas. Só essa multidão acompanhando o jogo já é digna de emoção, porque há tempos o futebol feminino brasileiro merece um público de respeito, e é muito importante que seja o Corinthians, clube mais popular do país, o pioneiro em popularizar a modalidade desse jeito.

Outra conquista foi o nível do futebol apresentado, e não falo aqui dessa ladainha ridícula de que “ain, mas o feminino não tem o nível do masculino”. Quem acompanha o futebol feminino brasileiro há mais tempo vê times fantásticos como Corinthians, Ferroviária, Santos, Flamengo e mesmo este São Paulo em seu primeiro ano após o retorno à modalidade. Qualidade é algo que o futebol feminino brasileiro tem de sobra há muito tempo, tanto que já começa a passar a um estágio superior, o dos times que mostram um jogo quase perfeito que combina disciplina tática, talento e jogadas vertiginosas.

Sem clubismo nenhum (ainda mais num site com este, dedicado ao Coringão), creio que posso dizer que este Corinthians de 2019 alcançou tal nível de excelência. Não gosto de usar números como parâmetro de qualidade futebolística, mas é inevitável começar por eles, pra explicar como o nosso time é brilhante. Em uma temporada de 47 jogos, nós perdemos a partida de estreia… e só! Não perdemos mais. Ganhamos 43 partidas e empatamos apenas 3. Nesse meio tempo, chegamos ao recorde mundial de 34 vitórias consecutivas.

Perdemos a final do Brasileirão contra uma aguerrida e bem armada Ferroviária, mas não podemos nos envergonhar da campanha no torneio, com melhor ataque, melhor defesa e artilheira da competição (Millene), nem do nível do futebol apresentado ao longo do certame.

Conquistamos o bicampeonato da Libertadores de forma invicta, dando o troco no time de Araraquara na final, e novamente mostrando um futebol moderno, de excelente toque de bola, com velocidade, ofensividade, e sem perder a fortaleza defensiva.

Toda essa qualidade foi ratificada neste título paulista. Estamos falando de uma equipe que conseguiu 20 vitórias em 20 partidas, teve o melhor ataque, a melhor defesa e a artilheira do torneio (Victória). O mais irretocável dos títulos, de um trabalho que já dura quatro anos, dois deles em projeto solo, com um total de 5 títulos, em 8 finais disputadas, o que significa uma clara hegemonia do clube na modalidade durante este período.

Mas o que emociona neste Corinthians vai além desses números todos, embora faça parte deles. Pra se chegar a tantos recordes e conquistas é preciso jogar muita, mas muita bola mesmo, e como as nossas meninas jogam. Jogadas de pé em pé, lançamentos precisos, triangulações, velocidade pelo meio e pelas laterais, sem contar a raça que se exige de quem veste a nossa camiseta, e que elas demonstraram sobretudo nas partidas decisivas.

A chegada da Tamires, que é uma das melhores jogadoras brasileiras da atualidade, trouxe ainda mais dinamismo a um time que já era maravilhoso, com grandes jogadoras como Lelê, Tainá Borges, Pardal, Érika, Grazi, Zanotti, Millene, Juliete, Victória, Cacau, Katiuscia, Giovana, Mimi, Paty, Ingryd, Adriana, Gabi Nunes, Paulinha, Suellen, Campiolo, Amayo, Mayara, Diany… Quando se tem uma equipe que joga um futebol associado de tamanha categoria, com passes magistrais e gols antológicos, é impossível deixar algum nome de fora.

Com todos esses títulos, os recordes, os nomes, a épica, a altíssima qualidade do futebol apresentado, já não é exagero nenhum dizer que este é um dos maiores times que vestiram a camiseta do Corinthians em todos os tempos, além de ser o melhor time da história do futebol feminino brasileiro. Um time histórico, comparável ao Corinthians da Democracia Corinthiana, no início dos Anos 80, ou à equipe campeã do Centenário, que marcou época nos Anos 50, e até mesmo aos esquadrões montados pelo Tite durante a década atual.

Por ser tão grande, tão importante pra história do clube e das mulheres corinthianas, deveria também ter um lugar permanente e de grande destaque no Memorial das Conquistas do Parque São Jorge, mostrando estes recordes, conquistas e fotos das nossas atletas.

Mesmo depois de recordar tudo isso, eu volto para aquele lindo momento, com Grazi e Erika conversando, segundos antes de erguerem a taça. Um momento sublime, uma cena de cinema que tornou ainda mais mágico tudo aquilo que se viveu em Itaquera neste histórico sábado 16 de novembro.

Talvez a emoção da nossa capitã na final seja a de muitos corinthianos, e especialmente as corinthianas, que no futuro possam ver as craques do futebol feminino fazendo parte do nosso panteão. Essa sensação maravilhosa de que ver essa luta por espaço e igualdade dando frutos.

Esse maior espaço pra elas no Memorial por enquanto é só um desejo, e tenho certeza que não é só meu, nem só de uns poucos, e tenho fé de que será realidade em breve. Agora só me resta esperar, e desejar os parabéns a estas mulheres corinthianas, que presentearam a Fiel com a maior alegria que o Coringão teve neste ano de 2019.

Veja mais em: Corinthians feminino.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Victor Farinelli é um jornalista brasileiro e corinthiano residente no Chile, colabora como correspondente de meios brasileiros como Opera Mundi, Carta Capital, Revista Fórum e Carta Maior.

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