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Respeita os 53%
Victor Farinelli

Victor Farinelli é um jornalista brasileiro e corinthiano residente no Chile, colabora como correspondente de meios brasileiros como Opera Mundi, Carta Capital, Revista Fórum e Carta Maior.

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Respeita os 53%

Mulheres são a maioria na torcida do Corinthians, segundo pesquisa

Foto: Danilo Fernandes / Meu Timão

Diante da repercussão da pesquisa que mostra que as mulheres são maioria da torcida do Corinthians, resolvi ceder o espaço desta coluna pra minha brilhante amiga Beatriz Braga, para ela comentar sobre o que significa para as mulheres corinthianas ser a maioria da Fiel e, mesmo assim, ainda ter que lutar por espaços e por respeito. Se você é homem e vai ler isto, peço que o faça com humildade, e se quiser criticar, o que é legítimo, que seja com respeito e troca de ideias, sem babaquice e sem machismo.

RESPEITA OS 53%

Por Beatriz Braga

Foi divulgada no fim do mês passado, através de uma pesquisa feita pelo Ibope/Repucom, a informação de que nós mulheres somos maioria na torcida corinthiana. Somos cerca de 53% das pessoas que amam o Corinthians, enquanto os homens são 47%.

Isso pode ser um número inesperado. Já estamos cansadas de saber que é um ambiente totalmente misógino e machista. Não preciso ir longe para afirmar o que digo, e sei que, de uns anos pra cá, as coisas melhoraram. Mas melhorar não significa estar num nível ideal, ou perto da equidade dentro do cenário futebolístico.

Há mais de dez anos, quando eu comecei a ir ao Pacaembu, era muito difícil ver mulheres na arquibancada. Éramos poucas e sempre acompanhadas por seus parceiros. Eu fui totalmente sozinha. Era apenas eu no meio de inúmeros homens de todas as idades possíveis. Foi assim que eu cheguei na famosa “bancada”. No intervalo, ouvia inúmeros “elogios”.

Na volta pra casa, “gostosa” era o mais suave que me diziam. Moro em São Vicente, no litoral paulista, e encarei aproximadamente duas horas aguentando essas “gracinhas” até a chegar em casa. TINHA APENAS 15 ANOS. Foi nojento? Foi! Poderia ter desistido ali, mas eu não estava ali por ninguém, estava por mim. O Corinthians me alimentava a alma e eu não morreria de fome por pessoas que achavam que ali não era o meu lugar. Eu sei onde é, sempre soube. Era acompanhando o Coringão.

Hoje, com 26 anos, posso dizer: a Arena Corinthians é uma outra realidade, perto do que já foi o ambiente de estádio para uma mulher.

Vejo inúmeras mulheres no estádio, mulheres com vozes ativas no futebol, comentando em suas redes, formando opiniões. Grupos femininos tomando força, se sentindo mais à vontade ao chegar no ambiente e poder sentir/saber que têm o mesmo amor e importância, que qualquer homem ali.

Apesar do espaço, sabemos que nem tudo são flores. O ego masculino ainda faz com que eles acreditem veementemente que estamos ali por conta deles, que vamos ao estádio a procura deles, para chamar atenção deles, e que ninguém sendo de outro gênero pode acompanhar o raciocínio lógico do futebol, apenas eles.

Somos diminuídas o tempo todo. Não existe nenhum tipo de explicação lógica, apenas machismo. Machismo esse que vem acabando em passos de tartaruga, mas seguimos firmes.

Diminuídas? Sim!

Exemplo pessoal: (Indo para o jogo contra o Guarani do Paraguai) tenho uma tattoo do doutor Sócrates do braço, parei para fumar um cigarro e me perguntaram para onde eu estava indo, toda de Corinthians. Respondi que estava seguindo para o jogo. O cara me respondeu: “você vai no jogo contra o Guarani? Cadê seu namorado?”. Respondi que iria sozinha, mas eles continuaram. Um deles olhou meu braço e disse: “você sabe quem é? Quem é esse?”.

Após a resposta, ele perguntou se eu sabia quem era Zenon, Casão, entre outros… Depois de alguns minutos dando atenção, decidi sair do local. Me senti diminuída. Parece pouco? Bom, sabe quando esse tipo de situação vai acontecer com um homem? Nunca. O homem diz que gosta, tatua o time que ama ou um ídolo que ele admira e pronto. Acabou. Não existe indagação sobre. Ele é homem, ele sabe.

Somos maioria, mas ainda somos vistas como mero enfeites. As coisas melhoraram, mas estão muito longe de serem boas.

O que eu posso dizer? Esqueçam seus egos, estamos todos gritando, chorando, vibrando e cantando, por um só objetivo. Somos uma só voz, somos Corinthians, somos o futebol, somos o Time do Povo.

Como já sabem, o futebol veio do povo e para o povo. Que tal, deixar de ser apenas discurso e entender que defender e apoiar minorias faz parte da história do esporte mais popular do mundo?

A Democracia Corinthiana não deve ficar apenas nos livros. Nós devemos vivê-la, e vivê-la significa dar espaço e entender que: NINGUÉM É MAIS CORINGÃO DO QUE NINGUÉM.

O seu gênero não define seu amor, suas atitudes sim.

Nós por nós mesmas. Seguiremos! Lutando, crescendo e jamais deixando de apoiar!

Jogai por nós, Coringão.

Veja mais em: Torcida do Corinthians.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Coluna do Victor Farinelli

Por Victor Farinelli

Victor Farinelli é um jornalista brasileiro e corinthiano residente no Chile, colabora como correspondente de meios brasileiros como Opera Mundi, Carta Capital, Revista Fórum e Carta Maior.

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