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Zanotti, a primeira ídola do Corinthians
Victor Farinelli

Victor Farinelli é um jornalista brasileiro e corinthiano residente no Chile, colabora como correspondente de meios brasileiros como Opera Mundi, Carta Capital, Revista Fórum e Carta Maior.

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Zanotti, a primeira ídola do Corinthians

Coluna do Victor Farinelli

Opinião de Victor Farinelli

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Zanotti, a primeira ídola do Corinthians

Gabi Zanotti é um dos principais nomes do Corinthians Feminino

Foto: Danilo Fernandes/ Meu Timão

Diversos comentaristas já tentaram explicar como nasce a idolatria da torcida a um esportista, e alguns chegam até a especular com fórmulas, como se o sentimento fosse uma equação entre quantidade de títulos, gols em clássicos e outros fatores objetivos.

Mas idolatria é algo muito mais complexo. Se a emoção de uma só pra com outra já é algo por si difícil de explicar, imagina a de uma torcida inteira, ou de grande parte dela, que passa a idolatrar uma pessoa.

O amor que a Fiel Torcida Corinthiana sente pelas Brabas tem crescido cada vez mais nos últimos anos, assim como não é de hoje que isso tem se canalizado em várias jogadoras: Tamires, Érika e Katiuscia parecem ser algumas das favoritas da torcida. Até mesmo algumas que já saíram, como Vic Albuquerque, Crivelari e Gabi Nunes – ou que voltaram, como a goleira Lelê –, também desfrutam desse carinho.

Contudo, me arrisco a apontar uma jogadora como símbolo dessa crescente idolatria corinthiana pelas Brabas. O nome dela é Gabriela Maria Zanotti.

O apelido de “Zinedine Zanotti” pode parecer grande, mas fica confortável numa jogadora de tanto talento, visão de jogo, toque de bola refinado e que é praticamente uma técnica dentro de campo – me lembro de uma partida de mata-mata contra a Ferroviária, em que o Corinthians venceu, com ela fazendo um dos gols, mas sem jogar bem, e na entrevista após a partida ela apontou exatamente os defeitos do time, que, na partida seguinte foram corrigidos pelo Arthur Elias.

Claro, essas qualidades a transformam em uma craque quase completa, como muitas que o time tem, inclusive as acima citadas. Mas tem algo mais.

O que é esse algo mais? Eu não sei, mas tem que ser algo muito forte pra justificar o relato de um amigo meu, de que seu filho de oito anos pediu uma camisa do Timão, não do Renato Augusto, ou do William, ou do Cássio, e sim da Gabi Zanotti, e porque também entre os marmanjos também já tem que use camisa da Zanotti. E nem falar das mulheres, que são a clara maioria da Fiel Torcida Corinthiana e que adotou todas as Brabas, mas parece que entre elas a maioria também prefere a camisa 10.

Talvez essa idolatria tenha se consolidado aos pouquinhos, jogo a jogo, e a gente nem vai percebendo, porque quem acompanha as Brabas sempre soube que a Zanotti joga muito, isso nunca foi novidade, mas junto com todas essas qualidades já enumeradas foram acontecendo coisas: um título, dois, dez, mais de dez, gols contra todos os arquirrivais, uns gols de placa, umas assistências em finais de campeonato, um gol de bicicleta numa semifinal de Brasileirão, dois gols numa final de Paulistão com estádio lotado, um gol de título aos 49 do segundo tempo… E ela ainda comemora os gols com o braço fazendo de espada imaginária, como uma mosqueteira fazendo a letra Z no ar, como não amar uma coisa dessas?

Como na vida, o momento em que a gente se apaixona por alguém é algo que chega assim, às vezes sem a gente perceber após uma série de pequenas alegrias, ou por um grandioso momento, um êxtase que muda as nossas vidas.

A Fiel está experimentando essas sensações com quase todas as Brabas, até mesmo as que chegaram há pouco, e nem falar daquelas que formam parte deste trabalho desde os primeiros e mais difíceis anos.

Entre elas se destaca a Gabi Zanotti, que chegou no ano em que a chegou a Parque São Jorge justamente em 2018, o ano em que as Brabas mudaram a chavinha e passaram a ser um dos melhores times do Brasil, e passaram a ser o melhor time, e a começar a construir esta hegemonia que existe hoje.

Zanotti é praticamente a Neco do Futebol Feminino. Lembra o nosso primeiro ídolo do futebol masculino, o craque chegou pra transformar aquela boa equipe dos pioneiros do Bom Retiro em um time campeão, a ponto de ele chegar à Seleção Brasileira – infelizmente, o mesmo não acontece com a nossa primeira ídola, mas enfim, quem perde é a Pia, e a CBF.

Mas idolatria é algo subjetivo, e talvez eu esteja errado, e a primeira ídola não seja a Zanotti, e sim a Lelê, que defendeu os pênaltis que garantiram o título da Libertadores de 2017. Ou a capitão Grazi e sua liderança exemplar – que vai ter uma merecida despedida no final desta temporada –, ou a xerifona Pardal, ou a Cacau, craque na bola e no samba – estas duas últimas também mereciam uma despedida e todas as homenagens pelos serviços prestados.

A graça de ter um time hegemônico como este Corinthians Feminino é que isso vai acabar naquelas discussões que nunca ninguém vai saber quem tem razão, como tentar decidiu quem foi o melhor dos Beatles, ou o melhor jogador do Dream Team. Pra mim a Zanotti é uma das melhores jogadoras da história do futebol feminino, justamente porque consegue se destacar em um time de feras como Adriana, Tamires, Yasmim, Gabi Portilho e tantas outras, e todos os que defendem outro nome como a melhor de um elenco tão qualificado terão seus argumentos pra me desmentir.

O que não dá pra desmentir é que estas Brabas, todas elas, entraram pra história, ano após ano, título após título, recorde de público após recorde de público, com uma performance magistral atrás da outra, com um futebol que conquistou a maior torcida do Brasil e que, com tudo isso, transformou o Corinthians no clube que popularizou o futebol feminino no país.

PS 1: Falando em popularizar o futebol feminino no Brasil, eu usei esse argumento em minha última coluna aqui no Meu Timão pra pedir ao Duílio e à diretoria que entendessem que a final do Paulistão na Neo Química Arena era um compromisso histórico do clube. Não sei se ele leu aquele texto, e na verdade nem interessa, o importante é que a atitude que ele tomou foi a correta: mudou as datas do outro evento e permitiu uma festa inesquecível no dia 8 de dezembro. O certo seria parabenizar também a Cris Gambaré por essa mudança, embora ela mereça muito mais que somente uma mísera felicitação, já que é praticamente a Zanotti dos bastidores, a craque que vem trabalhando brilhantemente há anos pra que o Corinthians tenha um time e uma comissão técnica dos sonhos, além de uma categoria de base que ainda vai nos dar muitas alegrias.

PS 2: Quem ainda não entendeu esse compromisso que se deve ter com o futebol feminino é a CBF e a emissora que que transmite os jogos, que colocaram um Dérbi valendo classificação e uma final de Supercopa às 10h30, horário ridículo e insalubre – pras atletas e pra torcida. Se esses dois jogos fossem em hora vespertina e decente, certamente superariam a audiência e o público em arquibancada desses jogos xoxos de fase de grupos dos estaduais masculinos, que ainda têm prioridade dentro das cabeças machistas dos cartolas de confederação e diretores de televisão. E a Fiel bateria novos recordes de público e de audiência. Mas essas mudanças também chegarão, tardarão mas chegarão.

Veja mais em: Gabi Zanotti e Corinthians Feminino.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Victor Farinelli é um jornalista brasileiro e corinthiano residente no Chile, colabora como correspondente de meios brasileiros como Opera Mundi, Carta Capital, Revista Fórum e Carta Maior.

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