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O que você grita no jogo contra o São Paulo?
Walter Falceta

Walter Falceta Jr. é paulistano, jornalista, neto de Michelle Antonio Falcetta, pintor e músico do Bom Retiro que aderiu ao Time do Povo em 1910. É membro do Núcleo de Estudos do Corinthians (NECO).

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O que você grita no jogo contra o São Paulo?

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Opinião de Walter Falceta

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O que você grita no jogo contra o São Paulo?

Peça da campanha de coletivos corinthianos para a final do Paulistão 2019

Foto: Reprodução / Instagram

1) O que você grita para o adversário, em um jogo de futebol, diz mais sobre você do que sobre o adversário.

2) O historiador Eric Hobsbawm cunhou o termo "tradição inventada" para caracterizar falsas tradições associadas a uma cultura, comunidade ou associação. Em 2021, completo 50 anos de estádio. Não me lembro de um "futebol raiz" que incluísse a estigmatização do outro em razão de uma suposta orientação sexual.

3) Estudando a história do Timão no Núcleo de Estudos do Corinthians (NECO), certificamo-nos de que as diferenças com o São Paulo Futebol Clube são originárias de diferenças classistas. O Corinthians é o time dos operários, carroceiros e lavadeiras. O tricolor nasce da fusão de equipes identificadas com os valores da elite, dos bacharéis e dos filhos da burguesia cafeeira ou industrial bandeirante.

4) É preciso esforço enorme para transformar o outro, supostamente endinheirado e janota, em proscrito por uma suposta orientação sexual.

5) Opa, no estádio tudo é liberado? Não! Por isso, o racismo é crime, dentro e fora dele. O que se diz no estádio repercute, gera marcas de memória e, inconscientemente, molda pensamentos, reforça crenças e determina comportamentos.

6) O Relatório 2017 do Grupo Gay da Bahia registrou 445 mortes de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis no Brasil naquele ano. Significa que, a cada 19 horas e 40 minutos, uma pessoa LGBT foi morta ou se matou em 2017. Portanto, se pretendemos mesmo um país civilizado, parece inconveniente estigmatizar pessoas por suas identidades ou orientações afetivas.

7) O Brasil segue como o país onde mais transexuais são mortos, de acordo com dados da Transgender Europe (TGEU). Entre 1º de outubro de 2017 e 30 de setembro de 2018, 167 transexuais foram mortos no Brasil. A pesquisa coletou dados em 72 países.

8) Alguém alega: "mas isso não tem nada a ver com homofobia". Ora, se a ideia é enervar, diminuir ou provocar o adversário, é certo que a escolha dos termos envolve um conceito de depreciação. Ninguém grita para os sãopaulinos expressões que remetam ao mundo dos homens heterossexuais bem-sucedidos. Portanto, o que está em evidência é realmente o uso de um rótulo de mácula social.

8) Bambi é somente um personagem do mundo da fantasia? Não, é a representação de um animal associado ao termo depreciativo mais comum aplicado aos homossexuais.

9) E ainda há quem acredite que tudo se deve a uma maligna conspiração vermelha. Bem, boa parte da crítica delirante à postura respeitosa vem do famoso texto "As origens do politicamente correto", de William S. Lind, um norte-americano identificado com a extrema-direita norte-americana. Onde esse conteúdo circula? Em fóruns como o Stormfront, dos suprematistas brancos, com forte viés neonazista. Lind é daqueles caras que negam o Holocausto e que reclama até hoje porque o Sul escravista perdeu a Guerra de Secessão.

10) História à parte, cabe uma referência ao "Vai pra cima delas, Timão". Parece sonoro? Parece. Anima a torcida? Frequentemente. Ora, mas se fosse elogio não seria um cântico entoado pela massa. O termo "elas" remete a mulheres, neste contexto tidas como mais fracas, incapazes ou impróprias ao esporte bretão. A referência, portanto, tem a capacidade corrosiva de tomar emprestados conceitos da homofobia e também do machismo.

11) Meu pai e meu avô sempre me ensinaram que a melhor forma de torcer era honrar nossas virtudes originais. O Corinthians é povo, é garra, é resistência, é a fibra do campeão dos campeões. Segundo eles, no estádio ou fora dele, devemos canalizar nossas energias para enaltecer nossas cores e nossos representantes dentro de campo. O Corinthians é grande, sempre altaneiro, do Brasil o mais brasileiro. Que nossos atletas em campo, na busca deste sonhado tricampeonato, ouçam este nobre estímulo da verdadeira tradição mosqueteira.

Veja mais em: Majestoso.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Coluna do Walter Falceta

Por Walter Falceta

Walter Falceta Jr. é paulistano, jornalista, neto de Michelle Antonio Falcetta, pintor e músico do Bom Retiro que aderiu ao Time do Povo em 1910. É membro do Núcleo de Estudos do Corinthians (NECO).

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    Antonio 1 comentário

    @antonio.donizete.san em

    Texto excelente. A provocação causada, mostra que o dedo está na ferida. Precisamos estudar e ensinar mais a história do Corinthians. Racismo, machismo e lgbtfobia não combina com a luta do nosso povo.
    VAI CORINTHIANS!

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    Leandro 17900 comentários

    @leandro.ferreira.da3 em

    "Futebol tá muito chato", "tudo é preconceito, é homofobia", "politicamente correto", "mimimi"...
    As pessoas querem conservar e passar de geração pra geração, todos os preconceitos e estigmas que cresceram ouvindo, livremente, sem ter que lidar com nenhuma represália ou consequência, em nome do "bom humor", da "zoeira" e do "futebol raíz".
    Não enxergam (ou não querem enxergar) que essa sensação de "liberdade pra extravasar" dentro do estádio repercute tudo que elas pensam e guardam (ou não) no seu dia-a-dia. E acham que não tem nada de errado nisso, porque não são vítimas, não conhecem ninguém que foi ou simplesmente não tem empatia com o próximo porque o preconceito não permite. O que acontece no futebol e no estádio, nada mais é que um reflexo da nossa sociedade.

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    64º. @larissa.lima13 em

    Vi o jogo do estádio, ao lado na minha namorada e não tenho palavras pra explicar o quanto é horroso esse tipo de atitude. Quase um sentimento de 'não pertencimento' naquele lugar que sempre estive.

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    Marcio 488 comentários

    63º. @mgalvao1983 em

    Para... Esse momento da torcida é de descontração, brincadeiras e zoação. Chamar isso de Homofobia é covardia!

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    Erich 74 comentários

    62º. @pimenta92 em

    Ontem gritei, bixa, bambi, viados e um pouco mais... Grito o que eu quiser!

    Devolve o futebol do povão!

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    Ramon 22946 comentários

    61º. @ramon.felipe1 em

    Eu grito o que quiser uai, não querendo bancar o grosso mas paguei o ingresso, o resto é detalhe... Embora compreenda perfeitamente o ponto colocado.

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    Felipe 68601 comentários

    60º. @lipao88 em

    Belo texto