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Hoje, dez anos do adeus a um de nossos maiores ídolos
Walter Falceta

Walter Falceta Jr. é paulistano, jornalista, neto de Michelle Antonio Falcetta, pintor e músico do Bom Retiro que aderiu ao Time do Povo em 1910. É membro do Núcleo de Estudos do Corinthians (NECO).

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Opinião de Walter Falceta

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Hoje, dez anos do adeus a um de nossos maiores ídolos

Idário: raça, dedicação e amor pelo nosso Corinthians

Foto: Arte WFJR

Ah, "o tempo passa, torcida brasileira", como dizia o saudoso locutor de rádio Fiori Gigliotti. Já se vão dez anos desde aquele dia triste em que nos deixou o ídolo, amigo e mestre da humildade Idário Sanchez Peinado.

Éramos poucos, e o velamos atravessando uma noite de pranto e reminiscências; depois, o conduzimos até sua morada eterna, no alto do Cemitério da Quarta Parada, na Zona Leste.

Em um tempo marcado pela falta de raça, pela falta de empenho e pela falta de compromisso dos magnatas da bola, cabe-nos lembrar com respeito e admiração do espetacular El Sangre.

Se gigante é o nosso Corinthians, convém destacar que sua mística foi construída por dedicados atletas, muitos deles em atividade naquela mágica década de 1950.

No entanto, o poderoso time campeão do IV Centenário (1.954), que converteu tantos brasileiros ao corinthianismo, teve seus próceres esquecidos por décadas.

Neste grupo de bravos, como Goiano, Luizinho e Baltazar, destacava-se o raçudo Idário, nascido no Cambuci, corinthiano desde sempre, revelado nas categorias de base do clube.

El Sangre, apelido que ganhou por conta da origem espanhola, o médio-direito enfrentou com valentia e determinação endiabrados pontas, como Canhoteiro e Pepe.

Subia o adversário e a massa gritava: “pega ele, pega ele, Idário”. E jamais a Fiel deixou de ser atendida.

No jogo de corpo, no carrinho, na antecipação, Idário era o dono da bola.

Nosso irmão deu-se por dez anos ao Timão, entre 1.950 e 1.960. Fez 475 jogos, com garra e fé, conquistando três Paulistões (1.951, 1.952 e 1.954) e três torneios Rio-S. Paulo (1.950, 1.953 e 1.954).

Guerreiro obstinado, escondia as contusões para seguir defendendo o clube do coração. Foi o que ocorreu naquele dia 6 de fevereiro de 1955, quando o Corinthians fez o jogo decisivo do campeonato iniciado no ano anterior.

Vendo a ferida funda em um dos pés, Idário sabia que seria vetado pelo médico do clube. Assim, antes do exame, escondeu a chaga sob uma faixa grossa.

O médico perguntou do que se tratava e Idário disse que era para lhe dar firmeza, para encaixar melhor a chuteira.

No campo, esqueceu a dor e jogou-se como um leão contra os adversários palestrinos. Assim, logramos conquistar o título, um dos mais significativos de nossa história.

Como tantos outros de sua geração, Idário não fez fortuna com o futebol. Trabalhador incansável, decidiu prestar serviços à Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, onde foi funcionário modelar por 25 anos, até a aposentadoria.

Em seus últimos anos, vivia de maneira modestíssima em um apartamento na Praia Grande (SP). Somado seu rendimento ao da esposa, Dona Natividade, eram quatro salários mínimos, consumidos em boa parte na compra de medicamentos.

Idário enfrentava uma inflamação crônica na próstata, artrose nos joelhos e uma catarata, agravada por uma enfermidade nas pálpebras. Sem filhos, resistia com dificuldade, sem seguro de saúde.

Em seus momentos derradeiros, recebeu o reconhecimento de aficcionados corinthianos. Foi homenageado e reiterou seu amor incondicional pelo clube.

Faleceu em um pronto-socorro público, de madrugada, na cidade onde vivia. Amigos e admiradores se mobilizaram para custear o funeral.

Idário, mestre da raça, sabemos que você é líder aí na arquibancada de cima. Aqui, mora eternamente em nossos corações! Obrigado, muito obrigado! Que sirva sempre de inspiração para todos os corinthianos, dentro e fora do campo.

Veja mais em: Ídolos do Corinthians e Ex-jogadores do Corinthians.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Por Walter Falceta

Walter Falceta Jr. é paulistano, jornalista, neto de Michelle Antonio Falcetta, pintor e músico do Bom Retiro que aderiu ao Time do Povo em 1910. É membro do Núcleo de Estudos do Corinthians (NECO).

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