Análise: vitória de virada contra o Sport ressalta defeitos do Corinthians e mostra virtudes de Jair
30 mil visualizações 111 comentários Reportar erro
Por João Pedro Izzo
Em uma incômoda série de três jogos sem vitórias no Brasileiro, a estreia de Jair Ventura na Arena Corinthians tinha tudo para ser tranquila. Entretanto, o jogo não se desenhou de tal maneira. Com um triunfo de virada por 2 a 1 diante do Sport, com gol no fim do jogo, o Meu Timão explica para o torcedor os motivos que levaram a equipe ao resultado positivo.
Leia também:
Jadson comanda virada corinthiana e é eleito o melhor em campo; Roger volta a decepcionar
Jair enfatiza controle do Corinthians em virada, explica alterações e exalta Jadson
Corinthians sobe posições com virada na Arena, mas distância para o Z4 ainda incomoda; veja tabela
Depois de escalar formação bastante precavida no meio da semana passada diante do Flamengo, Jair Ventura voltou a armar o Corinthians no 4-2-3-1 e mandou a campo: Cássio; Paulo Roberto, Léo Santos, Henrique e Danilo Avelar; Ralf e Douglas; Romero, Jadson e Clayson; Roger. Dando a entender que essa será a formação tática do Timão durante o comando de Jair, a equipe teve problemas na construção e definição de jogadas em boa parte do jogo, o que obrigou o técnico a mudar sua estratégia no decorrer da partida.
Primeiro tempo
Com Jadson tendo bastante liberdade no último terço do campo, o meia começou bem o duelo diante do Sport e a equipe aproveitou a toada. Em 15 minutos promissores, o camisa 10 distribuiu passes com tranquilidade e elegância, mas os definidores no ataque do time, sobretudo Roger, estavam em mais uma jornada difícil.
Mesmo mantendo o controle inicial do jogo, Henrique se precipitou e fez pênalti infantil no atacante Hernane, justamente quando o volume da equipe não era dos piores e o gol parecia questão de tempo. Contudo, quem marcou foi o Sport, com o próprio Hernane. O tento sofrido desorganizou e desconcentrou o Corinthians, que começou a demonstrar suas velhas debilidades: falhas na saída de bola, ora com passes errados ou com avançadas burocráticas, transição ofensiva lenta e falta de profundidade nas pontas. Todos os defeitos apresentados culminaram também em Roger vivendo mais uma noite sem inspiração, cometendo faltas em exagero e perdendo as chances que tinha.
Jadson começou a ser perseguido de perto e, vivendo praticamente uma Jadson-dependência, a Fiel viu a equipe trocar muitos passes (teve 61% de posse de bola no fim do jogo), mas sem demonstrar intensidade, volume e encurralar o adversário. Douglas tem boa parcela de culpa nesse sentido, pois apesar de um belo chute no fim da primeira etapa, contribui muito para a burocrática saída de bola e transição ofensiva ruim.
O jovem volante não tem característica de iniciar a saída na base da jogada, tampouco infiltra na área e ainda não conseguiu desempenhar papel de organizador no meio de campo, como Maycon fazia. Quando Jadson está marcado e por Ralf não ser perito em sair jogando, esse "combo" de problemas acaba ocorrendo, sendo praticamente impossível que o Corinthians seja criativo, o que levou a muitas ligações diretas para Roger, que ainda não teve um bom desempenho neste tipo de jogada.
Segundo tempo
Vendo a dificuldade apresentada e pelo adversário trazer pouco perigo, Jair Ventura fez uma alteração no segundo tempo: trocou Douglas, que não tinha quem marcar e tinha dificuldades para construir, por Mateus Vital. A equipe passou a atuar no 4-1-4-1, com Jadson mais à direita e Vital mais à esquerda no meio de campo. A simples solução mudou totalmente a dinâmica do Corinthians em campo.
Com a entrada do jovem de 20 anos, Clayson ganhou mais duelos pelo lado esquerdo e passou a ter um companheiro para auxiliar na quebra de rupturas pelo flanco, além de contar com um organizador muito mais presente no campo de ataque. A mudança também surtiu efeito no posicionamento de Jadson. No primeiro tempo, o camisa 10 era obrigado a buscar a bola 50 ou 60 metros distante do gol adversário, o que fazia que o Corinthians perdesse tempo e não tivesse ninguém próximo à área para distribuir passes. Na etapa final, Jadson teve mais frescor e voltou a ter liberdade para definir e concluir jogadas. E sem muitas delongas, o meia foi o responsável pelo gol de empate após belo chute colocado.
É válido dizer que o Corinthians tentou muitos cruzamentos no jogo, seja em bolas cruzadas pelos lados, faltas laterais ou escanteio. Embora não tenha tido êxito nestes tipos de jogada, o artifício acabou originando o primeiro gol do Timão e foi uma clara intenção de posicionar e deixar Roger mais à vontade, assim, o centroavante poderia ser mais acionado.
Tendo dificuldades técnicas durante o jogo, o camisa 9 do Corinthians não acompanhou um chute cruzado de Romero na direita da área, o que acabou com a paciência da Fiel e fez com que Jair o substituísse para a entrada de Pedrinho em seu lugar. Romero foi deslocado para o centro do ataque.
Paulo Roberto ainda sentiu e foi substituído pelo improvisado Gabriel, visto que o também improvisado Mantuan não era opção na lateral direita. O problema físico impediu que Jair colocasse mais um jogador no setor do ataque, como o próprio assumiu em coletiva após a partida.
Quando o jogo caminhava para o seu empate, cabe destacar a luta de Clayson, a visão de Gabriel e a possibilidade enxergada por Danilo Avelar no gol que deu o triunfo para o Corinthians. Primeiro, o ponta saiu da esquerda para atravessar o campo e tocar em Gabriel. Depois, se movimentou pela área após passe forçado de Gabriel, que arriscou em Clayson na direita, o qual cruzou para Danilo Avelar, que observou a falta de atenção do adversário na sua cobertura e surgiu livre para marcar o segundo tento corinthiano.
Vitória ressaltou problemas, mas mostrou repertório de Jair Ventura
Um pouco de sofrimento foi presenciado na Arena Corinthians após a virada ter sido concretizada, mas o resultado terminou com a vitória do Timão. É válido dizer que o triunfo mostrou poder de reação da equipe, que parecia perdido em meio à tantas trocas de jogadores e no comando técnico. Jair Ventura mostrou também não temer mexer "mais cedo" na equipe nas partidas, o que dá mais tempo para o Corinthians reverter resultados desfavoráveis. A virada foi apenas a segunda do Corinthians pelo Brasileiro, o que pode representar aumento da confiança - não só por parte dos jogadores, mas também da torcida.
Todavia, o problema crônico na criação do meio de campo, passando pela dificuldade dos volantes em iniciar o jogo, além das más exibições dos pontas e dos centroavantes que vêm atuando, é outro defeito que Jair precisa pensar. Diante do Sport, contudo, o treinador percebeu a debilidade e mudou rapidamente o jeito do Corinthians jogar, alterando o esquema e colocando um atleta com características diferentes para melhorar a criação, o que deu certo.
Jair Ventura e seus comandados tem agora uma semana inteira para melhorar o desempenho individual para que o coletivo se sobressaía. Constituindo uma ideia de jogo e "jeito de jogar", talvez usando o 4-1-4-1 para melhorar a saída de bola, além de outras alternativas a Roger, que não vem em um bom momento, são algumas das dúvidas que o novo técnico precisa sanar para ter um fim de ano mais tranquilo - para ele e para a Fiel.