Vinte e três anos sem Viola
Opinião de Memória Fiel
4.6 mil visualizações 34 comentários Comunicar erro
Viola estufa a rede do Morumbi em um Corinthians x Palmeiras e sai correndo para comemorar. A imagem que vem à cabeça de qualquer corinthiano é a da primeira final do Paulista de 1993. E só isso bastaria para garantir Viola na lista de ídolos históricos do Corinthians. Um gol que valeu mais que um título? Talvez.
No mesmo Morumbi, anos mais tarde, mais precisamente em 23 de outubro de 1996, o atacante também fez um gol e também fez uma comemoração especial, como era seu costume. Só que daquela vez, ele vestia verde e a provocação viria na forma de um irônico voo de gavião—estampado em três fotos grandes na capa da Folha de S. Paulo no dia seguinte. Um gol que arranhou sua imagem para sempre? Talvez.
Terminado em empate de 2x2, aquele jogo foi irrelevante, mas a comemoração de Viola definitivamente o colocou em uma parte esquisita da história do Corinthians.
A transferência do atacante do Valencia para o Palmeiras está prestes a completar 23 anos, e ainda parece que a mágoa dos corinthianos não foi embora completamente. Ao ver o artilheiro, agora aos 50 anos, jogando por times de veteranos do Corinthians, como nesse jogo festivo em Caruaru, o sentimento maior é de pena, não de admiração. Por que isso aconteceu para alguém com tanto carisma, talento e gols?
Para quem aprendeu a amar o Corinthians perto do início dos anos 90, a resposta vem do contraste entre a idolatria e a realidade. Por 5,5 milhões de dólares vimos o herói da infância, jogou tudo fora. Para toda uma geração de moleques que brincavam de imitar as comemorações do Viola na pelada do recreio na segunda-feira, a mensagem foi direta e cruel: dinheiro compra tudo. Compra ate seu ídolo (duas vezes em menos de um ano!).
Tenho certeza que doeu mais na torcida do que no jogador quando a Fiel trocou o grito de “E-o! E-o! O Viola é o terror” por “Eo Eo, o Viola é traidor”, em 1996. Gritamos com tanto gosto “Chora, porco imundo! Quem tem Viola não precisa de Edmundo!” e “Boi do Piauí, Viola é artilheiro, pau no c* do Evair!”. E naquele 23 de outubro estávamos ressentidos gritando
“Chora Viola! Imita o porco agora”.
Influenciado por seu irmão, Jorge, Viola foi ao Pacaembu pela primeira vez aos 11 anos para ver um jogo... do Palmeiras. Na sua apresentação ao time verde, ele fez questão de lembrar disso e de frisar que "A partir de agora, sou Palmeirense." Por lá, jogou 66 partidas e marcou 37 gols… mas saiu pela porta dos fundos, sem levantar taças ou conquistar a torcida.
Depois disso, o atacante ainda teve passagem importante pelo Santos, em 1998, chegou a fazer um bom papel no Vasco e depois perambulou por times cada vez menores até bem recentemente.
Viola não foi o primeiro e nem seria o último a defender os dois arquirrivais. mas foi difícil demais “perder” um moleque do Terrão, o talismã da final de 88, o artilheiro de 93, o cara do Corinthians que quase faz um gol antológico na final da Copa de 94. Vê-lo como porquinho da Parmalat na capa da revista Placar, por mais engraçado que seja hoje em dia, ainda provoca tristeza. Acho que nunca foi raiva, só tristeza.
Para mim isso não mudou depois de 23 anos. Parece que existem duas pessoas. O cara que jogou no Corinthians bem-humorado, mas brigador e letal na área, e uma outra pessoa, um cover, que imita o original por aí. O primeiro é meu ídolo até hoje, o segundo é até um cara engraçado, mas também é um completo estranho.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
Avalie esta coluna
Veja mais posts da Memória Fiel
- Negociar Cássio pode ser primeiro passo para uma reformulação profunda e necessária
- O bicampeonato de 83 como você nunca viu (e nem vai ver de novo)
- As semelhanças preocupantes entre Corinthians e Arsenal
- Por que ainda ficamos surpresos com o novo normal do Corinthians?
- Danilo já viveu dias de Luan e foi xingado de comédia
- Menos corneta, mais Elivélton