Assim como os europeus nos levaram o ouro e o pau Brasil, agora os clubes do futebol periférico nos levam os jogadores e técnicos.

Com os povos indígenas, a sedução veio através de artefatos novos como o espelho. Com os nossos profissionais do futebol, o dinheiro. Valores distantes da nossa realidade tupinquim.

Como mercadorias baratas, nossos profissionais vislumbram uma conta bancária impossível de se conseguir em terras verde e amarelas, são facilmente seduzidos pelos montantes e logo esquecem as juras de amor, lealdade e felicidade plena no clube que lhe deu glórias.

Atônitos com a 'feira livre', torcedores assistem a tudo com mãos atadas. Num misto de desespero com incredulidade, rezam e pedem que a compaixão toque o coração daqueles profissionais.

E se antes o êxodo se resumia apenas aos jogadores, agora tudo mudou. Países de futebol periférico têm investido fortemente não só em jogadores, mas também em profissionais da área técnica a fim de profissionalizar o esporte no país. Com isso, a cada ano o futebol brasileiro vem sofrendo com a baixa qualidade técnica. Com times atolados em dívidas, e junte-se a isto a moeda do Brasil que segue enfraquecida, tais profissionais se tornam presas fáceis. Muitos jogadores, conscientes que não têm mercado nos grandes clubes da Europa, veem estas ofertas como oportunidade de 'resolver' a vida financeira. E seguem sem olhar para trás.

Mas seriam eles os responsáveis pelos desmanches desses clubes? Seriam eles os responsáveis pela falta de condições dos clubes em mantê-los?

Alguns fatores podem responder parcialmente tais questionamentos.

Um ponto a se analisar são os cartolas no comando do futebol brasileiro, desde a sua instância maior (CBF) até os dirigentes dos clubes. Estão a frente do comando do futebol dirigentes com visões ultrapassadas e metodologias ineficientes.

A resistência pelo 'novo' veio acompanhada da arrogância e prepotência dos 5 títulos mundiais. E o que os europeus enxergaram há algum tempo, agora fazem os países de futebol periférico.'Não temos jogadores diferenciados mas temos dinheiro. Logo, podemos unir o útil ao agradável'. Enquanto nós brasileiros temos o útil (jogadores) mas não temos o agradável (dinheiro).

Um outro ponto a ser analisado trata-se da farra dos empresários. Com os clubes endividados até a alma e com a Lei Pelé, tudo ficou ainda mais fácil para a 'feira livre'. Jogadores agora enxergam os times brasileiros como uma grande vitrine para adquirir uma boa transferência. Ali, buscam a rápida valorização e junto vem a pressão dos empresários para aceitarem a primeira grande oferta que aparecer para que eles possam lucrar com tais vendas. Negociações obscuras também permeiam a situação e contribuem para o êxodo desses profissionais.

O futebol brasileiro está ficando às migalhas com jogadores medianos ou 'velhos e rodados'. E não há perspectiva de uma melhora ou evolução a partir do momento em que dirigentes dos clubes têm o poder de promover profundas mudanças no futebol brasileiro, preferem eleger Rogério Caboclo como presidente da CBF. Uma continuação de Del Nero e muitos interesses em jogo.

Ou seja, nada muda em terras tupiniquins. O que muda é o futebol praticado no campo, que está em franca decadência.

Creiam! A culpa não é dos jogadores, nem dos profissionais, nem dos chineses, japoneses, ucranianos, árabes.

A culpa são dos cartolas que comandam o futebol brasileiro com uma visão ultrapassada e coronelista de gerir este esporte, com a anuência da imprensa que muitas vezes reservam o seu tempo de programa com assuntos irrelevantes, ao invés de abordarem assuntos ou debates de interesses para o desenvolvimento do esporte. Todos nós somos parte daquele 7x1.

E enquanto isso, nos levam o ouro e o pau Brasil. Em troca, continuam nos dando espelhos.