Troca de e-mails sugere fraude em documento da Arena; em nota, Corinthians 'lava as mãos'
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Por Meu Timão
A Arena Corinthians voltou a ficar em evidência no noticiário por conta de um possível escândalo ao longo de sua construção. Duas semanas após a revelação de contratos escusos entre Odebrecht e fornecedoras, uma troca de e-mails datados de agosto de 2015 foi publicada nesta terça-feira pelo jornal Folha de S. Paulo, sugerindo fraude em um documento relativo às obras do estádio. Por meio de nota oficial, a diretoria do Corinthians se isentou de responsabilidade na polêmica (confira abaixo).
Os e-mails revelados pela reportagem foram enviados e/ou recebidos por: Epaminondas Junior (funcionário da Odebrecht), Nilton Leão (gerente da Arena em 2015, por indicação de Luis Paulo Rosenberg), Ricardo Corregio (engenheiro da Odebrecht e responsável pelos contratos da Arena), Anibal Coutinho (arquiteto responsável pelo projeto da Arena), Andrés Sanchez (ex-presidente do Corinthians), Roberto de Andrade (então e atual presidente do Corinthians) e Guilherme Molina (um dos responsáveis pela parte jurídica da Arena). A conversa indica que houve adulteração no boletim de medição da Arena, que mostrava o que faltava de obras a serem executadas e o que já havia sido faturado.
O trecho mais importante da troca de e-mails foi escrito por Ricardo Corregio e enviado a Nilton Leão com cópias para Andrés Sanchez e Roberto de Andrade: "O item 01 abaixo (referência ao fato de a medição de 2014 não representar a realidade dos trabalhos daquele ano) foi uma decisão de cotistas, por necessidade direta na emissão dos CIDs".
A intenção das partes envolvidas em uma possível fraude no boletim de medição da Arena seria adiantar o repasse dos CIDs (Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento) da Prefeitura de São Paulo. Tais documentos, que deveriam render quase 50% do custo inicial do estádio ao Corinthians, eram emitidos conforme as obras avançavam.
A Odebrecht negou fraude ou tentativa de antecipar os CIDs: "A 'necessidade direta na emissão dos CIDs', citada no e-mail, refere-se ao fato do investimento necessário para emissão dos R$ 420 milhões de CIDs já haver sido atingido antes mesmo da Copa 2014, de forma que o acompanhamento mensal não se fazia mais necessário."
A Prefeitura de São Paulo afirmou que não houve irregularidade na emissão dos CIDs: "Quanto às investigações, a Prefeitura acompanha o seu desenrolar em uma zona de segurança absoluta, em função do fato, já mencionado, de que a utilização de CIDs está muito aquém das menores estimativas de custo do estádio. Na hipótese de a Arena ter custado menos de R$ 700 milhões, a Prefeitura, amparada na lei anti-corrupção pode suspender os títulos imediatamente."
O presidente Roberto de Andrade não se manifestou.
O ex-presidente Mario Gobbi, que era mandatário do clube na época em que o boletim de medição foi assinado, negou responsabilidade nos assuntos relativos à Arena: "O representante do Corinthians no Fundo e Gestor da Arena sempre foi, desde o nascedouro, o presidente Andrés Sanchez, que sempre cuidou de tudo na Arena."
Nilton Leão confirmou a troca de e-mails, mas não quis se pronunciar.
Andrés Sanchez se limitou a dizer que "recebe muitos e-mails, não dá conta de ver todos e que, pos isso, existe um departamento jurídico."
Nota oficial
Pouco após a publicação da reportagem da Folha de S. Paulo, o Corinthians emitiu uma pequena nota oficial em seu site. O posicionamento do clube é de que a diretoria não tem/teve relação com o episódio relatado pelo jornal.
"Em relação à matéria publicada nesta manhã no jornal Folha de S.Paulo, intitulada em “Troca de e-mails indica fraude para antecipar incentivos do Itaquerão (sic)”, o Corinthians esclarece:
O assunto dos CIDs foi acompanhado e orientado pelos jurídicos do BRL Trust, Odebrecht, Corinthians e Machado Meyer. Em nenhum momento colocaram qualquer ilegalidade a nós, dirigentes do Clube."