Como o Corinthians serviu de inspiração para torcedor chileno mudar vida de jovens do seu país
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Por Andrew Sousa

Torcedor chileno usa Corinthians como inspiração para projetos sociais com esporte
Arquivo pessoal
Uma série de insatisfações da população do Chile se transformou em protestos nos últimos meses. Depois do anúncio de aumento na passagem de metrô, o povo foi às ruas e já faz reivindicações há mais de 60 dias. Em meio ao clima hostil que o país se acostumou a viver, há espaço para algo inusitado: uma camisa do Corinthians. E não é um brasileiro longe de casa.
Com as golas pretas para cima e patrocinadores já desbotados, o manto alvinegro veste Sebastián Acevedo Vasquez, de 35 anos. Gestor esportivo, ativista social, ex-jogador de futsal e freestyler, o chileno carrega o Timão no peito, na roupa e na conversa que tem com os jovens do seu país.
Fundador do projeto “Futsal Revolution”, Sebastián aposta no esporte como ferramenta transformadora e de enorme impacto social. O foco é ajudar pessoas marginalizadas – o trabalho acontece, principalmente, em casas de jovens que violaram a lei e penitenciárias.
“Entregamos o esporte, especificamente o futsal, como uma ferramenta de inclusão. A partir da oportunidade, do empoderamento e da capacidade, a tomada de decisões influencia o desenvolvimento de um conceito de liberdade responsável, consciente e sociável. A prática esportiva gera hábitos e mentalidades que servem também para a vida fora das quatro linhas”, resumiu em entrevista exclusiva ao Meu Timão.
E por mais distante que possa parecer, o Timão é uma das grandes inspirações para os projetos do ex-atleta. Encantado pela Democracia Corinthiana, que conheceu em uma conversa com alguns amigos, Sebastián valoriza o papel social do clube na história do Brasil.
"O esporte uniu um clube e um país a partir dos objetivos, com atletas que tinham opiniões, consciência de seus privilégios e sem medo de levantar a voz. Hoje o esporte está passando por uma crise de conteúdo, principalmente devido à falta de comprometimento social de seus referentes. O Corinthians é um clube que inspira por sua origem popular, é 'o time do Povo'", afirmou.
"O clube entende o esporte a partir de um fenômeno mais complexo, busca melhorar constantemente e tem responsabilidades sociais. Para mim, é o maior clube do Brasil. É um time que respeita sua história de comprometimento, tolerância, respeito e abordagem à diversidade cultural do esporte. Nosso projeto se inspira em experiências que contribuem com a sociedade. E o Corinthians é um exemplo disso", concluiu.
Mais que inspiração

Chileno esteve no Parque São Jorge recentemente para troca de experiências
Arquivo pessoal
O vínculo do chileno com o Timão vai além da inspiração para seus projetos sociais. Pelos caminhos que sua vida seguiu, o clube também virou uma paixão. E tudo começou bem antes das visitas recentes que fez ao Brasil e ao Parque São Jorge.
Em 1994, então com dez anos e jogador do Universidad Católica, o garoto trocou com camisas com alguns brasileiros. Até hoje ele não esquece: uma levava o número 9 e o patrocínio da Kalunga, enquanto a outra era a 7, com as Tintas Suvinil no espaço máster.
Os uniformes eram grandes e acabaram utilizados apenas para brincadeiras. Com o tempo, porém, o interesse pelo clube aumentou. E o amor também.
"Em 2018, li um livro do professor Domingos Savio Zainagui, chamado 'Vai Corinthians', onde aprendi sobre a história do clube e consegui me conectar com o sentimento de um torcedor. Depois disso, conheci pessoas excelentes que me inspiram muito", relembra.
A lista é extensa, passando por Edson Sesma (gerente de futsal), André Bié (técnico de futsal) e Gustavinho (ex-jogador de basquete e atual supervisor da equipe Sub-19 da modalidade).
"Estive no Parque São Jorge e na Arena Corinthians, consegui ter uma visão mais completa do clube. Fiquei apaixonado pelo Timão e falo do clube o tempo todo para os garotos do Chile", completou.
Pauta alvinegra
Os jovens beneficiados pelos projetos de Sebastián tem o Corinthians como parte de sua rotina. Durante encontros da Ataka (grupo de atletas de freestyle) e da Villa Román (clube de esportes e artes urbanas), o "professor" conta um pouco do que conhece da equipe do Parque São Jorge.
"Conto que os jogadores do Sub-8, 9 e 10 do Corinthians Futsal entram em quadra como se fossem profissionais, mas que seus treinadores se baseiam em um desenvolvimento abrangente, pensando que são crianças em primeiro lugar e que a competição ocorre após a instalação da cultura esportiva nos estágios iniciais", diz o chileno.
"Vi pessoalmente o time feminino jogar e que as mulheres são as protagonistas para que a modalidade seja respeita. Também destaco Gustavinho, que foi capaz de reivindicar a morte de uma ativista social que lutava por um país mais justo. Acredito que a Democracia Corinthiana ainda está viva e os atletas serão os responsáveis por manter a luta por direitos humanos", completou.
Ao contrário de outros torcedores de fora, que costumam repetir uma frase típica da Fiel, Sebastián guarda com carinho um outro trecho famoso da história do clube. Com olhar de admiração ao passado e esperança para o futuro, ele não perde a chance de lembrar: "No esporte, podemos ganhar ou perder, mas sempre com a democracia!".